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GERAL

Conjunto Dior feito sob medida para Dulcina de Moraes é recuperado

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Antes mesmo de Brasília começar a ser desenhada, a atriz Dulcina de Moraes já tinha um conjunto original feito sob medida pelo próprio Christian Dior. Documentos registram que as três peças raras – saia, bolero e um “tomara que caia” – foram encomendados pela brasileira na viagem que fez a Paris, em 1952. O conjunto luxuoso que representa a moda pós-guerra ficou desaparecido por anos, separado em peças do acervo no subsolo do Conic, na área central da capital. Em julho, pesquisas nos materiais localizaram o traje da alta costura e recuperaram a roupa de grife.

Em meio a dívidas que podem levar o prédio a leilão no mês que vem, o acervo com 70 anos da história do teatro começou a ser catalogado. A ideia é dar início a um inventário dos artigos pessoais, profissionais e históricos da vida e da obra da atriz, que possa servir também para que a venda não seja permitida. Também é a primeira vez que os materiais são trabalhados na intenção de serem expostos, para que as pessoas conheçam.

Em maio, o Metrópoles mostrou o início da recuperação desse acervo. Na época, apenas o bolero tinha sido identificado. A peça de grife tem um número de chassi para comprovar a autenticidade da marca.

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Nessa busca, relíquias luxuosas foram encontradas. “Houve até um erro de catalogar. A saia estava catalogada como um corta-vento, o que dificultava encontrar a roupa”, explica o professor de moda Fernando Demarchi, do Centro Universitário Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB). Semioticista e especialista em História da Arte e da Indumentária, o docente tem auxiliado a equipe da Fundação Brasileira do Teatro a recuperar as peças de grife que compõem um cenário abandonado do camarim de Dulcina de Moraes, embaixo da sede da entidade.

A peça tem uma silhueta marcada, o que era uma característica do que ficou conhecido como New Look, com saias amplas quase até os tornozelos, cinturas bem marcadas e ombros naturais. Era uma tendência pós segunda guerra mundial que trazia elegância e sofisticação às peças.

“O New Look foi projetado justamente por Christian Dior na sua primeira coleção de alta costura, que foi logo após a Segunda Guerra Mundial. Ele vai trazer justamente essa abordagem que é inovadora para a moda da época em si, até porque quebra a austeridade das roupas porque havia um racionamento de tecido durante a guerra”, classifica.

Outra característica da peça é o fato de ter bolsos na saia. “Colocando a mão no bolso, o ombro fica mais alojado, então a postura fica mais esguia e mais elegante”, explica. O professor também detalha que o bolso servia para a mulher esquentar as mãos em dias frios.

“Além da questão histórica da peça, ela também vai revelar muito sobre quem era a Dulcina, porque nós podemos observar que era uma mulher exuberante, muito elegante, gostava de uma peça que tinha bastante volume, referência feminina, cintura marcada, mas que gostava de criar impacto visual”.

Não só o conjunto Dior mostrava sofisticação. Dulcina tinha consigo seis baús de turnês teatrais, com 250 chapéus, 30 pares de luva, mais 40 gravatas, 200 pares de sapato, 20 perucas usadas por Dulcina e mais de 30 artigos de uso pessoal. Mais de 200 quadros também foram encontrados no acervo, inclusive com fotos originais da Guerra de Canudos.

Dos chapéus a equipe ressalta as criações do estilista Jacques Fath, outra referência da alta costura ao lado de Dior Pierre Balmain. “Nesse chapéu original pode perceber que a curvatura do chapéu respeita o desenho da pena”, destaca o diretor do Espaço Cultural da Fundação Brasileira de Teatro, o ator e produtor Josuel Junior. Na época, chapéus eram itens presentes no vestuário feminino.

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Também foram encontradas peças do chapeleiro francês Gilbert Orcel, que tem suas criações em exposição no The Metropolitan Museum of Art (MET), em Nova York.

Ainda constam mais de três caixas de planejamentos de aula da década de 1950, quando a Fundação Brasileira de Teatro teve início. Entre os professores das primeiras aulas, nomes célebres da cultura brasileira, como Cecília Meireles ocupando o cargo de professora de português para os alunos de Dulcina, com as anotações das provas e os diários de classe. Maria Clara Machado e Bibi Ferreira outros nomes de destaque que aparecem no quadro docente.

“Esse é, sem dúvida, o maior acervo da história do teatro brasileiro e estamos recuperando aos poucos”, disse o diretor do Espaço Cultural da Fundação Brasileira de Teatro, o ator e produtor Josuel Junior.

Risco de perder tudo

Ao tocar a bainha dos vestidos, é possível sentir moedas presas. O objetivo era que o metal pesasse o figurino, e, assim, as peças não ficariam amarrotadas durante a apresentação. “É um vestido dos anos 1930, 1940, até a moeda aqui é histórica. É raro. Tudo aqui fica entre o antigo e o raro, destacou o diretor do Espaço Cultural da fundação, Josuel Junior.

“Se esse lugar for a leilão, o que vamos fazer com tudo isso? Onde vamos colocar todos esses vestidos? O que vamos fazer com tanta história?”, questionou o diretor Junior.

Atualmente, as dívidas do Dulcina estão acumuladas em R$ 20 milhões e o prédio, de aproximadamente 5 mil metros quadrados, deve ir a leilão para pagar apenas R$ 328.467,34.

A data já foi definida por leiloeiros e a previsão é que a venda do prédio ocorra em 14 de setembro deste ano. Caso não seja arrematado neste dia, outra data já foi previamente estabelecida: 28 de setembro. Se o processo correr, a partir de outubro o cenário do Conic pode começar por mudanças.

A elaboração do inventário é apenas uma das estratégias que a equipe que administra o teatro atualmente tem usado para tentar ganhar fôlego e manter o espaço.

Luz

Na semana passada, a atual gestão da Fundação Brasileira de Teatro conseguiu renegociar as dívidas com a Neoenergia, e as luzes voltaram a iluminar o palco e a sede da entidade pela primeira vez após três anos de escuridão.

Outro plano é revitalização do prédio para gerar receita com aluguel, retorno das aulas presenciais, disponibilização do acervo para exposições, reformulação do plano pedagógico da faculdade para ofertar cursos técnicos em artes, além dos tradicionais de bacharelado. Outro ponto é voltar com o teatro para apresentações.

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