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GERAL

Descaso do governo com crianças não é de hoje, relembre a história da mãe que implorou por ajuda para viajar e salvar o filho

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Atualmente a capital acreana tem passado por momentos difíceis quando se trata dos cuidados da saúde pública infantil. Em menos de dois meses, dez crianças foram a óbito vítimas da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).

No entanto, antes da SRAG chegar com força e ceifar vidas que não tiveram a oportunidade a um leito de Unidade de Tratamento Intensivo e nem a medicação adequada, outros descasos já aconteceram que fizeram mães perder seus filhos sem que pudessem lutar.

O Na Hora da Notícia conversou com Laiane Vandressa da Silva Souza, 28 anos, que, em outubro de 2021, perdeu seu filho, Yan Vinícius, com 11 dias de nascido. A criança foi diagnosticada com onfalocele (uma má-formação da parede abdominal no bebê, que normalmente é identificada ainda durante a gravidez e que se caracteriza pela presença de órgãos, como intestino, fígado ou baço, fora da cavidade abdominal e recobertos por uma fina membrana) ainda no útero da mãe.

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“Estava com 28 semanas e fui fazer consulta de rotina na maternidade, já que a gestação era considerada de risco, e lá, durante a ultrassom o médico viu que tinha algo errado. Pediu pra eu aguardar e me chamou para falar do que se tratava. Eu fiquei sem chão e a partir dali começamos a luta pela vida do meu filho”, relembra.

Laiane conta que fez outros exames e passou por alguns especialistas e todos disseram que o bebê não podia nascer no Acre, pois o hospital não teria estrutura para a cirurgia que ele iria precisar. Além de ter onfalocele, também descobriram que o bebê era cardiopata. Ela recebeu um encaminhamento para Tratamento Fora de Domicílio (TFD) e fez tudo como foi pedido e ficou no aguardo.

As semanas foram se passando e ela ligava no setor de regulação da Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) e só diziam que estavam aguardando vaga. Ela decidiu entrar com pedido na justiça e mesmo assim não conseguiu viajar.

“Eu fiz tudo que podia fazer, fiz matérias em sites, passei na TV pedindo ajuda, cheguei a fazer um PIX solidário para arcar com as despesas fora do estado. Eu cheguei a ser bloqueada por uma servidora da Sesacre. Ela dizia que não tinha vaga, que os hospitais de fora negavam vaga, mas não dizia quais eram, depois descobri que só um negou. Eu fiz vídeo pedindo que me ajudassem, eu fiz tudo que estava ao meu alcance, mas fui vencida”, lamenta.

A mãe conta que mesmo com uma liminar que favorável, o estado ignorou e os mesmos profissionais que disseram que o bebê não podia nascer aqui mudaram de opinião.

“A cardiologista me ligou e perguntou se eu não podia ir por conta, pois aqui não iam salvar meu filho. Mas eles disseram que iam montar uma estrutura para recebe-lo. Agendaram minha cesárea e ainda aguardei um dia inteiro, ouvido de médicos que eu estava no SUS e era isso mesmo. Meu filho nasceu a coisa mais linda. Fez uma cirurgia e foi direto ora UTI. Comecei uma saga de idas e vindas para receber os boletins. Eu tinha fé que meu filho sobreviveria. Até que naquela noite, dez dias após seu nascimento, me ligaram para ir lá [maternidade] que ele estava mal. Fui e ele estabilizou, ali meu filho estava se despedindo de mim”, desabafa.

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Ela relatou que naquela noite voltou para casa e quando foi pela madrugada ligaram novamente para ir lá.

“Ligaram novamente pela madrugada, de pressa fomos pra maternidade, mas ele já tinha partido. Eu entendo toda a revolta das mães que perderam seus filhos agora. Eu até hoje me pergunto: ‘se tivessem permitido eu viajar, será que meu filho teria morrido?’. Depois quando resolvi entrar com uma ação descobri que eles não mandaram a gente para fora, porque teriam que pagar R$ 140 mil pela minha internação. Esse foi o valor da vida do meu filho, R$ 140 mil”, conta indignada.

O atestado de óbito do pequeno consta que a causa morte foram várias infecções, coisas, inclusive, que a mãe desconhece que o filho tivesse. Ela e a família esperam, ao menos, por um reparo na justiça.

“Não sei como deitam e dormem tranquilos sabendo de toda negligência que causam todos os dias. Eles precisam pagar por seus erros, pois para quem é vítima o preço é alto demais”, finaliza a mãe.

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