GERAL
Drone, edição genética e mais: o que a ciência está fazendo para conter o surto de dengue
Nas primeiras três semanas de 2024, o Brasil enfrentou um aumento de 170% nos casos de dengue, com 120.874 registros, em comparação aos 44.752 do mesmo período no ano anterior. Além disso, o governo contabilizou 15 mortes pela doença neste ano e 149 óbitos seguem em investigação.
Na quinta-feira (25), o Ministério da Saúde anunciou a estratégia de vacinação contra a dengue, com o imunizante Qdenga, produzida pela Takeda. O Brasil recebeu o primeiro lote dessa vacina, parte de um fornecimento de 1,32 milhão de doses, visando imunizar cerca de 3,2 milhões de pessoas em 2024.
A distribuição dessas vacinas priorizará municípios de grande porte e com altos índices de transmissão da dengue, e será destinada a crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, no primeiro momento.
Mais iniciativas
Entretanto, a vacinação não é a única frente de combate à dengue. Algumas tecnologias e pesquisas científicas estão ajudando neste processo.
O Brasil também vem realizando testes com mosquitos Aedes aegypti transgênicos, por exemplo. Esses experimentos, iniciados há mais de uma década em estados como Bahia e São Paulo, geraram debates, especialmente após um estudo de 2019, publicado na revista Scientific Reports, indicar a possibilidade de transferência de genes transgênicos para mosquitos selvagens.
Apesar das controvérsias, a Oxitec obteve autorização em 2021 para comercializar esses mosquitos em todo o país, com a Detecta, de Campinas (SP), iniciando a distribuição em outubro de 2022.
A distribuidora recomenda a liberação dos mosquitos por pelo menos oito meses seguidos, de preferência de outubro a março. O kit de tratamento básico é composto por duas caixas, suficientes para 5 mil metros quadrados (m2). Cada caixa vem com cerca de 2,3 mil ovos, mas apenas 1,2 mil mosquitos machos são liberados de cada unidade; as fêmeas não sobrevivem. O refil com os ovos de Aedes deve ser substituído a cada 28 dias.
Além disso, pesquisadores brasileiros estão utilizando tecnologias avançadas, como drones e inteligência artificial, para mapear áreas de risco.
Um programa desenvolvido por especialistas da USP, UFMG e Sucen, com apoio da FAPESP, identifica, através de imagens aéreas, locais propensos à infestação do Aedes aegypti, como caixas d’água e piscinas em áreas abertas.
Esse método, que já alcançou uma precisão superior a 87% em Campinas, tem potencial para otimizar as estratégias de prevenção em diferentes regiões. Os resultados foram publicados na revista PLOS ONE.
Há ainda o projeto Dengoso, idealizado pelo pesquisador da Embrapa Cocais, Luiz Carlos Guilherme. Iniciado em Uberlândia, o projeto usa a introdução do peixe barrigudinho (ou guppy), predadores naturais das larvas de mosquitos, oferecendo uma alternativa sustentável ao uso de larvicidas químicos.
A eficácia do barrigudinho na redução de focos de mosquitos contribui para a diminuição da proliferação do vetor e, consequentemente, das doenças por ele transmitidas, segundo a Embrapa.
A iniciativa, que também inclui componentes educacionais, como atividades em escolas, já se expandiu para municípios como Parnaíba (PI), Campo Maior (PI) e Tobias Barreto (SE).