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GERAL

Em entrevista exclusiva, psicóloga sobre o impacto do bullying em crianças autistas

Publicado em

Após repercussão do caso da mãe que denunciou, nas redes sociais, que o filho de 12 anos vem sofrendo bullying na escola por outras crianças por ter Transtorno do Espectro Autista (TEA), a reportagem do Na Hora da Notícia conversou com exclusividade com a psicóloga, formada pela PUC de SP, com especialização em avaliação Neuropsicológica e Reabilitação Neuropsicológica pela Faculdade de Medicina da USP, Jorgenilce Alves, sobre os impactos que isso pode causar em uma pessoa com autismo.

De acordo com a psicóloga, as crianças com algum grau de autismo têm um desenvolvimento atípico em áreas como a comunicação, a socialização e pelo menos parte da cognição – nos casos do autismo tipo 1 (antigo grau leve).

“O que significa dizer que, desde os primeiros meses de vida, capacidades precursoras da comunicação como olhar para as pessoas por mais de dois segundos, reagir a estímulos dos adultos com sorrisos, por exemplo, ou mostrar algum objeto para os pais compartilhando significado não estarão presentes. A fala pode vir com atraso e quando surgir pode ser pouco compreensível, às crianças podem ter interesse específicos, dificuldades com o desenvolvimento e a integração sensorial e daí estranhar cheiros fortes, texturas e sabores, chorar e agredir outras crianças por serem tocadas ou pelo excesso de barulho que produzem etc. A medida que vão crescendo, essas características vai se modificando, evoluindo, mas às dificuldades permanecem”, explica.

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A profissional destaca ainda que o cérebro da criança funciona de um modo diferente e que ela precisa de ajuda para se adaptar ao ambiente, compreender adequadamente a informação que, para ela, num primeiro momento, é como se chegasse incompleta, fragmentada ou distorcida.

“O Bullying só agrava isso. Ele reafirma um lugar de estranhamento, de exclusão, de não pertencimento, de solidão e de muita dor. Às pessoas com TEA podem ter algum tipo de funcionamento diferenciado, mas ninguém é igual a ninguém. Todos temos as nossas peculiaridades. E, geneticamente, somos mais compatíveis do que incompatíveis. Somos todos humanos. Compartilhamos as mesmas heranças, a mesma cultura, a mesma codependência desse planeta”.

A exemplo de peculiaridade o filho de Rosângela Souza, que é autista, nunca foi a nenhuma aula e apenas assistindo vídeos no YouTube aprende a fazer desenhos e caminhões de papelão numa cópia perfeita ao verdadeiro.

“Ele nunca fez nenhum tipo de curso, a única coisa que ele fazia era assistir muitos vídeos pela internet. Além de vídeos falando sobre astronomia e fases da lua. Ele pega um papelão do zero e faz essas artes”, conta a mãe orgulhosa.

Foto: Arquivo família

Jorgenilce relatou à reportagem que já atendeu uma paciente com ativismo leve, de vinte e pouco anos, com depressão, e que havia tentado suicídio duas vezes por não se sentir compreendida e por viver em conflito com a família e o ambiente a sua volta que não sabia que ela era autista por falta de diagnóstico. Hoje, ela faz medicina e está bem. Vai se formar, exercer a profissão para ajudar muitas pessoas.

“O Bullying traz mais sofrimento, outras patologias e pode colocar a vida dessas pessoas em risco. Os pais são os mediadores das crianças com o ambiente, os responsáveis pela sua segurança, pela sua educação e bem estar. Ao perceber que algo não está bem, devem se aproximar da criança e procurar saber o que está errado. Devem ir até os ambientes que elas frequentam, buscar respostas, ou informar os responsáveis das instituições, às vezes eles podem não estar conscientes do que está havendo. Mas uma vez conscientes, algo deve ser feito, eles devem se posicionar sobre o Bullying. Promover campanhas informativas, não só com crianças, mas com os pais das crianças, com a comunidade. Tomar a atitude assertiva, severa quando necessário”.

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A psicóloga diz ainda que faz parte da educação de qualquer criança conhecer o seu próprio limite e saber respeitar o colega, tanto quanto deve saber respeitar funcionários e professores da escola.

“Bullying deveria ser considerado inadmissível numa escola. Seja por qual motivo for: pelo TEA, por racismo, por etnia, por qualquer coisa. A escola é o primeiro espaço público das nossas vidas. E o primeiro que entramos para aprender como devemos nos comportar, como é possível que isso seja ignorado exatamente nesse espaço? Que oportunidade preciosa estamos perdendo de ensinarmos mais as crianças sobre cidadania e valores humanos”, finaliza.

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