GERAL
Em protesto, indígenas do Acre culpam Governo Federal por BR ainda não ter sido asfaltada
A manifestação é organizada por povos tradicionais de duas terras indígenas da etnia Apurinã, que vivem ao redor da estrada. Em um trecho de um documentário que está sendo produzido pela produtora duo2tv, gravado no local das manifestações e enviado com exclusividade ao ContilNet, as lideranças do movimento falam sobre a necessidade urgente dos asfaltamento da rodovia.
“Nós “vem” sofrendo isso há mais de 40 anos. Nós já perdemos muitos parentes por não ter estrada até hoje”, disse o líder da aldeia Vila Nova, cacique Raimundo Apurinã.
Mesmo sendo um problema antigo, a culpa pela falta de asfaltamento da rodovia é quase sempre atrelada aos povos indígenas. Boa parte da população diz que órgãos de defesa dos povos tradicionais embargam as obras com licenças ambientais. Em tom de repúdio, o cacique se defende da culpabilidade e diz que o problema é de responsabilidade do Governo Federal.
“Isso fica doído pra nós, que somos nascido e criado aqui dentro. Sempre vem aquele problema dizer que é nós que impede essa BR. Não! O poder não tá na nossa mão. Se o governo federal, o Dnit, não decide, a culpa quem leva é o pobre do índio, aqui dentro não. É o contrário. A pessoa confude as coisas. Se fosse nós, se nós tivesse esse poder, hoje nós já teria essa BR aqui asfaltada. Então se o governo federal tem dinheiro, tem esse poder de asfaltar essa estrada, porque que não sai?”, questiona o cacique, que vai além e ameaça: “Enquanto não tiver uma resposta concreta, nós não vamos sair daqui”.
O cacique Riberaldo Apurinã, líder indígena da segunda terra indígena que corta a rodovia, a Aldeia Camapã, declarou que a BR afeta diretamente uma população de quase 2 mil pessoas. “Nós estamos aqui pedindo socorro, estamos perdendo crianças, idosos. Esperamos muito pelo governo municipal, estadual e federal, nunca tivemos uma resposta. Agora nos unimos, todas as comunidades juntas”, disse.
A manifestação recebeu o apoio de outros líderes de cinco comunidades que vivem na rodovia. Além de agricultores, caminhoneiros e taxistas que dependem da estrada para trabalhar.
Paulinho, um dos líderes comunitários da região, representante da Comunidade Marielle Franco, do MTST, disse que além das condições da estrada, o movimento pede melhorias em saúde, educação e infraestrutura. “Nossos direitos são roubados. E parece que quem faz o certo é o errado”.
As lideranças dos povos indígenas já enviaram um documento para o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (DNIT), solicitando o asfaltamento da rodovia. Caso não haja resposta, o trecho na altura km 72, nas proximidades da escola Albelina Apurinã, continuará fechado por tempo indeterminado.