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Ex-diretor-geral do ONS diz ser ‘inacreditável’ falta de conhecimento sobre origem do apagão
O Brasil foi tomado por um apagão de grande proporção nesta terça-feira, 15, que deixou 25 estados e o Distrito Federal sem energia e sem respostas. O engenheiro e ex-diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata, expressou sua incredulidade diante do fato de que, mesmo em uma era de tecnologia avançada, a origem do apagão permanece desconhecida após tantas horas.
Segundo ele relatou em entrevista à Folha de S. Paulo, é “surpreendente e inacreditável” que ainda não se saiba como começou o apagão.
Com uma carreira que inclui passagens pelo Ministério de Minas e Energia e pela direção-geral do ONS, Barata enfatiza que os órgãos reguladores têm a capacidade de identificar a origem de um distúrbio energético imediatamente após seu acontecimento. Isso é possível devido aos sofisticados sistemas de monitoramento e registradores que estão integrados ao sistema elétrico.
Barata destaca que, para um evento dessa magnitude, as causas geralmente envolvem uma simultaneidade de eventos, não sendo uma simples contingência, como a queda de uma única linha de transmissão. A ausência de informações precisas mesmo após dez horas do ocorrido é motivo de preocupação e surpresa.
“Para um apagão desse tamanho, não pode ter ocorrido o que chamamos de contingência simples —a saída de uma única linha. Um distúrbio dessa magnitude costuma ocorrer quando há simultaneidade de eventos. Quais foram ainda não disseram, e isso é inacreditável”, disse à Folha.
O ex-diretor ainda explicou que os registradores, dispositivos implantados no sistema elétrico, têm a função de identificar e registrar eventos e perturbações. De acordo com ele, mesmo há três anos, quando estava no ONS, o sistema já estava bem equipado com esses dispositivos, o que torna mais desconcertante o fato de que o local e as causas do apagão permaneçam desconhecidos até aquele momento.
Barata ressalta que, em eventos de grande porte, é praxe saber imediatamente onde tudo começou e o que aconteceu. A demora em obter informações sobre a origem do apagão levanta questionamentos sobre as implicações dessa falta de transparência. Embora o engenheiro enfatize que a privatização da Eletrobras não compromete a análise técnica do sistema, ele lamenta que a atenção do ministro tenha sido desviada para outros temas.
“É surpreendente que não se tenha o local do distúrbio até essa hora [a entrevista foi às 19h15]. Em todos os grandes distúrbios, imediatamente após o evento a gente sabe onde começou e o que aconteceu. Depois, óbvio, você vai ver o que aconteceu a mais, mas a causa você sabe imediatamente. Digo isso sem medo de errar. A preocupação do ministro foi falar da privatização da Eletrobras e não temos informações básicas até agora.”
Para o ex-diretor-geral da ONS, a privatização nada tem a ver com a análise técnica do sistema. “Eu era responsável pela Operação no ONS no apagão de 2009. Levamos mais de dez horas para recompor o sistema. Passei a madrugada acordado. Mas na mesma hora que aconteceu, a gente sabia que o problema era em três linhas de Itaipu. Não consigo explicar o que estamos vendo hoje. Só posso dizer que estou triste”, finalizou.