Com isso, universidades federais, como as de Brasília e do Rio de Janeiro, informaram não ter dinheiro para pagar contas básicas, como de energia e água, além do salário de funcionários terceirizados e de contratos de limpeza, segurança patrimonial e de fornecimento de comida para restaurantes universitários.
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Além dos bolsistas, os 30 hospitais universitários que existem no país enfrentam a situação mais dramática. Não há dinheiro para pagar fornecedores de insumos médicos, como oxigênio e remédios, nem os salários de cerca de 14 mil médicos residentes.
A residência é a última etapa da formação desses profissionais da saúde. Sob a supervisão de servidores experientes, os médicos formandos trabalham em instituições como o Hospital Universitário de Brasília (HUB), recebendo salários-base de R$ 3 mil.
A falta de dinheiro é um problema generalizado no ensino superior público. De acordo com a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), todas as universidades federais estão com as contas no vermelho, sem condições de honrar com seus compromissos financeiros.
Sem verba para livros
O apagão orçamentário do MEC tem consequências para além do fim do governo Bolsonaro e se tornou um dos principais focos de preocupação do Gabinete de Transição para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“A situação é muito dramática”, resumiu o ex-ministro da Educação Aloizio Mercadante em entrevista no fim da tarde de terça, em Brasília.
“Além dos bolsistas da Capes e dos médicos residentes, que vão ficar sem receber se nada for feito, há contratos que foram feitos, mas não têm recursos para o pagamento. Isso incluiu problemas que não dá para chegar e resolver no ano que vem, como a compra dos livros didáticos para a educação básica. Não há verba garantida para essa compra”, continuou Mercadante, um dos coordenadores da transição. “Vai gerar uma tragédia educacional se isso não for corrigido rapidamente”, completou ele, sem mostrar muita confiança na capacidade do atual governo de resolver o problema.
O economista José Henrique Paim, integrante do grupo de trabalho (GT) da transição da Educação, disse, na mesma entrevista, que o calote a bolsistas, médicos e fornecedores das universidades gera um efeito cascata para o ano que vem. Fornecedores com contratos assinados não devem necessariamente interromper serviços (como a alimentação em restaurantes universitários), pois devem receber no futuro, mas podem ter de reduzir qualidade e quantidade dos serviços prestados.
“O cenário para o ano que vem é difícil, mas, no momento, o que mais nos preocupa é o fechamento deste ano”, complementou Paim, que disse ainda que o apagão coloca em risco contratos que cuidam de soluções tecnológicas, como a do Sistema de Seleção Unificado (Sisu), plataforma pela qual os estudantes que fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) se candidatam a vagas no ensino superior.
Sem resposta do governo
O Metrópoles procurou o Palácio do Planalto e o MEC para questionar sobre a busca de soluções para o apagão orçamentário, mas, até a publicação desta reportagem, não recebeu respostas. O espaço segue aberto para manifestações.