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GERAL

Filha de agricultores faz 980 pontos na redação do Enem e consegue 9º lugar para medicina

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Um sonho distante para muita gente se tornou realidade para a estudante Maísa Trigueiro Reis, de 18 anos, moradora da zona rural do município de Brasiléia. Ela fez 980 pontos na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o que foi determinante para obter a média geral de 867,23 e conseguir uma vaga para cursar medicina na Universidade Federal do Acre (Ufac).

Maísa ficou em nono lugar no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) pela reserva de vagas para os alunos egressos do ensino médio. Ela havia feito o Enem pela primeira vez em 2020, mas mesmo com uma boa nota não conseguiu a tão sonhada vaga. Persistente, ela continuou a se preparar para a próxima tentativa, em 2021, e a emoção da conquista tão sonhada veio neste mês de fevereiro.

A estudante é filha de produtores rurais e nasceu em Brasiléia. Moradora do km 54 da BR-317, entre Brasiléia e Assis Brasil, sempre estudou em escola pública, um detalhe do qual se orgulha. Por muitos anos, ela percorreu 30 km diários para chegar à escola Valéria Bispo Sabala, onde iniciou e terminou tanto o ensino fundamental quanto o médio.

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“Muita gente critica a escola pública, que a gente não aprende muito e que é difícil alguém passar, mas eu tenho orgulho de ter vindo da escola pública. Tive professores incríveis, estudei em uma escola organizada e aprendi bastante. Foi ali que meu sonho foi crescendo cada vez mais, onde pessoas me disseram que eu era capaz, então vi que era possível realizá-lo”, diz.

Maísa conta que cursar medicina é um sonho que tem desde criança e que tanto ela quanto os pais sempre acreditaram que isso era possível, mesmo que os caminhos não fossem fáceis – como realmente não foram – para essa menina da zona rural que morava distante da escola e não tinha acesso à internet para ajudar nos seus estudos.

A estratégia que ela usava para driblar a falta de internet era baixar muitos conteúdos quando ia à cidade e levar para estudar em casa. Então, para melhorar a sua preparação, em determinado momento Maísa teve que sair da casa dos pais e ir para Brasiléia, morar com a avó materna. Ela diz que foi um momento dos mais difíceis por conta do apego que tem com a família.

“Foi uma decisão muito difícil, tanto para mim quanto para os meus pais, eu ter que ir embora da minha casa porque nós somos muito próximos e temos uma relação de afeto muito intensa. E eu fui embora para a casa de minha avó materna, que me acolheu muito bem. Naquele ano, eu me organizei, fiz um cursinho online e comecei a estudar”, explica.

Muito religiosa, Maísa afirma que a base de seus sonhos e projetos sempre foi Deus. Mas a família, a quem ela dedica a realização de se tornar estudante de medicina em uma universidade federal, foi essencial para o seu sucesso até aqui. Porém, em seus agradecimentos, ela também inclui os professores que teve na pequena escola Valéria Bispo Sabala, assim como a gestão.

“Não vou falar em nomes, pois são muitos, mas quero agradecer à toda minha família que sempre me apoiou nesse sonho, em especial aos meus avós, que não estão mais vivos. Desde quando eu era pequena eles falavam que ia ser uma grande médica. Aos meus professores da Valéria (escola), tiveram muitos que marcaram e eles sabem que estou falando deles, assim como à gestão de lá”.

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A gestão da escola Valéria Bispo Sabala, localizada no km 26 da BR-317, sentido a Assis Brasil, publicou nas redes sociais uma nota parabenizando a estudante pela conquista e destacando o esforço e o compromisso que ela sempre teve como aluna da instituição. A coordenadora da instituição, professora Rose Lima, afirmou que ela sempre foi muito dedicada e responsável em tudo.

“Já desde a primeira série ela já prestava vestibular e sempre alcançava uma excelente pontuação. Estamos todos muito orgulhosos da Maísa assim como também de seus pais por tanto apoio dedicado. Também nos sentimos de parabéns enquanto escola pública, onde Maísa sempre estudou, pois isso nos mostra que estamos no caminho certo”, afirmou a educadora.

A professora de Química Juvana Pontes conta que conheceu Maísa em 2019, na escola Valéria Sabala, e diz que uma sempre foi uma menina educada, estudiosa e focada, além de solidária com os colegas da turma. “Não lembro de nenhuma média abaixo de 10 na minha disciplina e certamente em nenhuma outra também. Durante as aulas, Maísa era minha inspiração para sempre levar o melhor para ela e para os demais alunos”, ressaltou.

“Maísa é a prova de que com dedicação podemos alcançar uma vaga nos cursos das universidades federais e que a Escola Pública possui preciosidades como ela. Mesmo o ensino público sendo muitas vezes atacado, Maísa mostra que o fator principal não é a instituição que os nossos jovens estudam, mas sim, a seriedade que cada um tem pela sua vida escolar”, concluiu Juvana.

Maísa já está envolvida nas providências relativas à matrícula no curso e disse ao ac24horas que tanto ela quanto a família já estão se acostumando com a nova separação que vai ser necessária para que ela siga o caminho com que tanto sonhou. “Vou me dedicar muito para me tornar uma grande profissional e ajudar as pessoas que tanto precisam”, destacou.

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