GERAL
Fome no Acre: Mais de 30% da população sofre com a insegurança alimentar
Em 2023, o estado do Acre enfrenta um grave desafio: 301 mil acreanos, representando 32,8% de sua população, ainda convivem com a insegurança alimentar, segundo dados do IBGE. Essa situação reflete uma realidade alarmante em que uma parte significativa da população não tem acesso garantido a alimentos suficientes e de qualidade.
O IBGE caracteriza os domicílios em insegurança alimentar aqueles cujos moradores experienciaram, nos últimos três meses, situações como a preocupação com o desabastecimento, a falta de alimentos antes que pudessem adquirir mais, a impossibilidade de acessar uma alimentação saudável ou a restrição a poucos tipos de alimentos devido à falta de recursos.
Com 67,2% dos lares em condições de segurança alimentar, o Acre ocupa a 14ª posição no ranking nacional, superando quatro estados da Região Norte, como Pará e Amazonas. Embora o percentual de segurança alimentar no Acre seja significativo, ainda é ligeiramente inferior à média nacional de 70,3%.
Dentre os 301 mil acreanos em insegurança alimentar, 56 mil enfrentam a forma mais grave deste problema. O IBGE classifica a insegurança alimentar em três níveis: leve, moderada e grave. Enquanto a insegurança leve se refere a preocupações sobre o futuro alimentar, a moderada indica uma restrição sistemática na quantidade e qualidade dos alimentos, e a grave representa a falta total de acesso a alimentos adequados.
Os dados revelam que, embora a insegurança alimentar no Acre (32,8%) esteja abaixo da média da Região Norte (43,1%), é preocupante que ainda ultrapasse a média nacional (29,7%).
Nos últimos 20 anos, o Acre experimentou um avanço notável na segurança alimentar, reduzindo em 26,7 pontos percentuais o número de pessoas em situação de insegurança. Em 2004, mais de 545 mil pessoas (59,4%) estavam nessa condição, comparativamente aos atuais 301 mil.
As mudanças climáticas representam um desafio adicional à segurança alimentar. Um artigo recente publicado por pesquisadores, incluindo a professora Semírames Domene da UNIFESP, alerta que o aumento da temperatura global pode prejudicar a produção de alimentos, afetando a produtividade e aumentando a vulnerabilidade das colheitas a pragas e eventos climáticos extremos. Essas alterações ameaçam não apenas a segurança alimentar, mas também a erradicação da pobreza e da desigualdade.
Os impactos já são visíveis, com fenômenos como ondas de calor e secas, que afetam a produção de cereais essenciais, como trigo, milho e arroz.
Diante desse cenário, a ampliação de políticas públicas eficazes é fundamental. O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que fornece refeições diárias a aproximadamente 40 milhões de estudantes, é um exemplo de iniciativa bem-sucedida. Além disso, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) incentiva a aquisição de produtos da agricultura familiar, fortalecendo a segurança alimentar.
Recentemente, o governo do Acre anunciou a elaboração do Plano Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional (PESAN). Este plano visa combater a insegurança alimentar por meio da implementação de políticas públicas e ações efetivas. Essa iniciativa é uma excelente notícia para todos os acreanos, representando um passo importante na luta contra a fome.