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Homem que deixou mala com parte de corpo na rodoviária de Porto Alegre é preso; suspeito é condenado por matar a mãe

Um homem de 65 anos foi preso preventivamente, na manhã desta sexta-feira, 5, por suspeita de ter matado, esquartejado e deixado parte do corpo da namorada em uma mala na rodoviária de Porto Alegre (RS). O suspeito é Ricardo Jardim, de acordo com a Polícia Civil, e já havia sido condenado por matar e concretar o corpo da própria mãe.
A mala foi deixada no local no dia 20 de agosto, em um guarda volumes. Na última segunda-feira, 1º, a bagagem foi aberta por um funcionário da rodoviária, devido ao mau cheiro que apresentava, e então, a polícia foi acionada. Dentro, havia partes de um tronco humano.
Em uma coletiva na manhã desta sexta, autoridades afirmaram que a vítima era namorada do suspeito e que os dois estavam juntos há cerca de cinco meses. O desaparecimento da vítima não havia sido registrado, pois o suspeito se passou por ela em conversas com amigos e familiares.
A princípio, a motivação do crime foi financeira, já que ele utilizou os cartões de crédito da vítima, tentando movimentar a conta bancária dela. Os policiais destacaram que Jardim é “frio”.
De acordo com o delegado, Mario Souza, foi um caso difícil devido ao perfil e conduta do criminoso. “Um criminoso com idade elevada, extremamente educado, frio, aparentemente, muito inteligente”, declarou.
O Terra não localizou a defesa dele até o momento. O espaço segue aberto para manifestações.
Dinâmica
A mulher, que não teve a identidade revelada, foi morta no dia 9 de agosto. O delegado aponta que o suspeito abandonou as partes dos corpos em dias e locais diferentes, e deixou pistas falsas à polícia. Além disso, ele também fez denúncias falsas, numa tentativa de “controlar os passos” das autoridades.
A polícia explica a dinâmica em atos: no primeiro, ele abandona os braços, sem as mãos, e as pernas dentro de sacos de lixo em uma rua do bairro Santo Antônio, na capital do Estado, em um lugar ermo, no dia 13. Uma semana depois, ele vai até a rodoviária, um local muito movimentado e com câmeras, onde deixa a mala com o tronco da namorada.
“Nesse cenário, nós tivemos muitas dúvidas do porquê ele se expôs propositalmente. A rodoviária tem câmeras, muitas pessoas circulando, tem a presença da polícia. Mesmo assim, ele guarda a mala no guarda volumes, fazendo o pagamento e o registro dela. Ele fez isso certamente numa intenção de afrontar a sociedade, por algum motivo”, explica.
“[As denúncias falsas] De certa forma nos preocupou, porque parecia que ele estava querendo controlar os atos da polícia. Parecia que estava querendo estar um passo ou dois à frente da polícia”, continua Souza.
Foi nas câmeras do estabelecimento que a investigação conseguiu captar o exato momento em que ele tira a máscara, e a partir disso, ocorre a sua identificação. A prisão preventiva foi pedida e Ricardo Jardim preso nas primeiras horas da manhã.
Fuga e prisão
A suspeita da polícia de que ele fosse fazer ainda mais um ‘ato’ teria se confirmado: Jardim contou aos agentes, informalmente, que iria abandonar a cabeça da vítima pela cidade e depois tirar a própria vida. De acordo com o delegado, ele pode ter se inspirado em algum filme para o caso.
No entanto, os planos do suspeito foram por água abaixo. Na última quarta-feira, 3, ele teria se desesperado ao ver nos jornais que as autoridades descobriram que o DNA dos restos mortais encontrados em locais diferentes era da mesma vítima, além de imagens suas na rodoviária divulgadas.
Conforme o delegado, ele percebeu que estava perto de ser capturado. Então, ele se mudou da pensão onde estava, no bairro São Geraldo, e foi para outro estabelecimento, onde acabou preso. Ele se preparava para fugir do estado.
“Na primeira troca de pousada, ele saiu com uma mala, outra mala preta. Talvez ali estivesse a cabeça da vítima, que nós ainda não encontramos. Mas as fotos divulgadas ontem, ele se movimentou e nós conseguimos efetuar a prisão”, esclareceu.
No local onde ele foi preso, as autoridades apreenderam celulares, sendo um deles da vítima, um notebook, documentos falsos, cartões de crédito da vítima e roupas que ele usou quando abandonou a mala na rodoviária.
“Este homem não pode estar em condições de convívio na sociedade. É uma pessoa que tem capacidade de cometer crimes altíssima”, afirmou Souza. O delegado ressalta que ele fez uma enorme preparação para cometer o feminicídio.
“Ele comete um crime bárbaro como esse, fatia uma pessoa do seu convívio e coloca essa pessoa em sacos plásticos, se preocupa em comprar lona, fita, isola o local. Ele fez uma enorme preparação para cometer esse crime. É uma pessoa que tem uma capacidade criminosa altíssima. Nós estávamos preocupados que ele pudesse matar outra mulher, ou outro homem que cruzasse o caminho dele nesses dias”, reforçou.
Condenado por matar a mãe
Ricardo Jardim foi condenado em 2018 a 28 anos de prisão por assassinar a própria mãe e ocultar seu cadáver. O crime ocorreu em maio de 2015. À época, a polícia concluiu que Vilma Jardim, de 74 anos, foi morta e colocada dentro de um armário que depois foi preenchido com concreto, dentro do apartamento da idosa.
“Ele tinha mandado fazer um armário sob medida, que se assemelha a um caixão, e depois de matar a mãe ele a enrolou em um cobertor e a concretou dentro do armário”, afirmou a delegada Jeiselaure de Souza, que conduzia o caso naquela época.
Conforme o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, o laudo atestou 13 golpes de faca. O suspeito não confessou o homicídio, disse que a mãe foi quem tirou a própria vida. Jardim afirmou que no dia do crime teve uma discussão com a idosa, na qual a acusou alterar a dosagem de remédios e causar a morte do pai.
Subitamente, em seguida, ela foi até a cozinha com uma faca na mão e a entrerrou na garganta própria gargata e depois na cabeça. Ainda segundo o TJ, ele ainda afirmou que a mãe fez um carinho na mão dele para acalmá-lo.
Ele confessou que comprou o cimento, lona, plástico, fita, pé de cabra, chave de fenda, borra de café e mandou fazer o móvel para concretar a idosa. Ele ainda teria mandado um e-mail com informações falsas para a polícia.
O motivo do crime, segundo a denúncia do Ministério Público, seria um seguro de vida deixado pelo pai. Ele confirmou que o benefício estaria somente no nome da mãe.
Ele foi à júri popular e condenado a 27 anos de prisão, em regime inicial fechado, pelos crimes de homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e meio cruel) e ocultação de cadáver, e um ano de detenção (por posse ilegal de arma de fogo).
