GERAL
Ideia de Lula para baratear carros não é a melhor saída para mobilidade, dizem especialistas
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) divulgou um plano para reduzir os preços dos carros populares novos no Brasil nessa quinta-feira (25/5). Entretanto, especialistas ouvidos pelo Metrópoles afirmam que a mobilidade urbana precisa, urgentemente, de melhor oferta de transporte público e não o aumento de veículos privados nas ruas.
As medidas do governo federal foram anunciadas pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). O principal objetivo do plano é reduzir os tributos para veículos de até R$ 120 mil, com a redução do IPI e do PIS/Cofins. Segundo o Executivo, os descontos nos preços finais dos automóveis podem variar entre 1,5% a 10,96%.
No entanto, o aumento de carros particulares nas ruas e avenidas pode causar congestionamentos e atrasos no transporte público devido à superlotação, afirmam especialistas em mobilidade. Além disso, investir na venda de veículos privados poderá levar ao aumento da emissão de gases poluentes.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), só a frota de carros no Brasil em 2022 ultrapassou a marca de 60 milhões de unidades (e isso não inclui outras categorias, como ônibus, caminhões e motocicletas, por exemplo).
Transporte público
Para o coordenador do portfólio de transporte do Instituto Clima e Sociedade (iCS), Marcel Martin, o governo federal precisa trabalhar para evitar um aumento ainda maior de carros nas ruas, uma medida que ajudará a mobilidade urbana e o meio ambiente.
“Incentivar o uso de carros está fadado a piorar a qualidade urbana que temos. Incentivar a compra de carros não vai resolver absolutamente nada, vai só piorar”, destacou Marcel Martin.
O pesquisador em mobilidade urbana Carlos Penna Brescianini explica que as cidades não suportam mais o transporte rodoviário. “Os brasileiros, de modo geral, que precisam utilizar o sistema rodoviário, principalmente os que moram em locais mais afastados, levam às vezes 4 a 5 horas por dia indo e voltando dos seus locais de trabalho e estudo. Não é possível um país continuar nesse ritmo”, alerta.
O coordenador do iCS afirma que o governo Lula precisa trabalhar com o objetivo de proporcionar aos usuários um transporte público mais eficiente e confortável, que permita deslocamentos mais rápidos e seguros.
“Precisamos resgatar o transporte público por ônibus. Mas precisamos da mão e financiamento do governo federal, muito mais que incentivar a compra de carros populares, isso não é uma solução urbana ou social”, declara Martin.
Dados da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), divulgados em 2022, mostram que o ônibus é o principal meio de locomoção de 85,7% das pessoas que usam o transporte público no país. Os outros 14,3% utilizam metrô, veículos fretados e vans.
Para um estudo encomendado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) é necessário um investimento de R$ 295 bilhões até 2042 na infraestrutura de mobilidade urbana das 15 principais regiões metropolitanas do Brasil. Relatório mostra ainda a necessidade de financiamento federal para a melhor qualidade da mobilidade urbana no país.
Para os especialistas ouvidos pelo Metrópoles é necessário que o governo invista em outros modais para melhorar a qualidade de vida dos brasileiros e a mobilidade urbana.
“O rodoviarismo é uma coisa do século passado, o governo estará gastando dinheiro atoa, desperdiçando dinheiro em algo ineficiente”, ressalta Brescianini.
Outras alternativas
Além do transporte público por ônibus, especialistas apontam a necessidade de se investir em outros modais. Entre eles, ferrovias, veículo leve sobre trilhos (VLT) e metrôs para ampliar a oferta ao usuário em todas as regiões do país.
O Ministério de Infraestrutura informou ao Metrópoles que há estudos para a modernização do transporte ferroviário de passageiros.
“O Ministério dos Transportes entende que a modernização da logística traz competitividade, sustentabilidade socioambiental e mais segurança nas rodovias. Desta forma, informamos que estão em estudo projetos para incentivar o transporte ferroviário de passageiros”, declarou.
Carlos Brescianini ressalta que o governo federal precisa realizar estudos e gastar o dinheiro público de forma inteligente, com a ampliação das linhas ferroviárias, de metrô e no VLT ao lado dos governos estaduais.
“O governo refez o Ministério de Cidades e agora tem que gastar com transporte público e mobilidade, transporte de massa”, afirma Brescianini.
O Metrópoles entrou em contato com o Ministério de Cidades sobre investimentos realizados na mobilidade urbana, mas não teve retorno.