GERAL
Investigação da PF revela possível esquema de lavagem de dinheiro do Comando Vermelho na Resex Chico Mendes

Uma investigação da Polícia Federal (PF) aponta para o uso da Reserva Extrativista Chico Mendes (Resex) e áreas adjacentes no Acre e Amazonas como palco de um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro do Comando Vermelho (CV). A prática, inédita em escala nacional, envolve a simulação de vendas de gado – o chamado “gado de papel” – para dar aparência lícita a recursos provenientes do narcotráfico, assaltos a bancos e outros crimes.
A investigação se baseia em informações da PF e do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), indicando a cooptação de produtores rurais e fazendeiros na região entre Boca do Acre e Lábrea (AM) e, mais recentemente, na própria Resex Chico Mendes. O esquema funciona por meio da falsificação de documentos agropecuários, criando a ilusão de transações legítimas com rebanhos fictícios ou manipulando os dados de vendas reais através de subfaturamento ou superfaturamento.
O mecanismo da lavagem de dinheiro:
-Criação de Saldo Fictício: Declaração de um número de cabeças de gado superior ao real (ou inexistente) em registros oficiais.
-Falsificação de Documentos: Geração de notas fiscais, Guias de Transporte Animal (GTA) e comprovantes de vacinação falsos para dar aparência de legalidade às transações.
-Simulação de Vendas: Simulação de venda do gado fictício, criando a aparência de renda legítima a partir do dinheiro ilícito.
-Manipulação de Preços: Subfaturamento de custos ou superfaturamento de lucros em transações reais ou fictícias para inserir o dinheiro ilegal.
Ameaças e ataques:
A investigação desencadeou uma resposta violenta por parte dos envolvidos. Um áudio obtido com revela a convocação de pistoleiros para atacar agentes do ICMBio, culminando em uma tentativa de atentado na Resex Chico Mendes com bloqueios de estradas, destruição de pontes e tentativa de incêndio no acampamento da equipe de fiscalização.Três criminosos foram presos em flagrante. Posteriormente, houve um arrombamento em um frigorífico em Brasileia (AC), onde gado apreendido foi solto, seguido de ameaças de morte atribuídas ao CV, posteriormente negadas.
A participação do PCC e a atuação do ICMBio:
A investigação não descarta a participação do Primeiro Comando da Capital (PCC) nesse esquema, lembrando a recente operação que desmantelou uma rede de lavagem de dinheiro de R$ 6 bilhões em uma aliança entre CV e PCC. A atuação do ICMBio em fiscalizações ambientais, revelando discrepâncias entre documentos e a realidade no campo, foi fundamental para iniciar as investigações da PF.
A voz dos atingidos:
O produtor rural José Augusto Pinheiro, porta-voz do movimento que protesta contra as ações do ICMBio, IBAMA e PF, negou conhecimento sobre a participação de produtores em esquemas criminosos. A PF ainda não se manifestou oficialmente sobre o caso.
Este caso expõe a complexidade e o alcance do crime organizado, utilizando recursos sofisticados para lavar dinheiro e infiltrar-se em setores econômicos como a agropecuária. A investigação em andamento demonstra a necessidade de maior cooperação entre órgãos de segurança e a importância da fiscalização ambiental na prevenção e combate à lavagem de dinheiro. A gravidade das ameaças e atos de violência reforça a urgência na resolução do caso e na proteção dos agentes envolvidos nas investigações.
