GERAL
Item da cesta de Natal, azeite está 26% mais caro; entenda por quê
Festas de fim de ano se aproximam e um dos itens mais usados nas refeições natalinas é o azeite de oliva, comum em diversas receitas. O problema é que o preço do azeite está muito alto, se comparado com o ano passado. Além disso, a variação do produto entre supermercados chega a ser o dobro do preço. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), a embalagem do produto da mesma marca, com 500 ml, pode ser encontrada com variação de 94%, de R$ 27,29 a R$ 52,99, dependendo do estabelecimento. Nos últimos 12 meses, o preço do azeite subiu 26,69%, segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE.
Uma das explicações para essa elevação é o longo período de seca na Europa, que prejudicou as plantações de oliva e, consequentemente, encareceu o preço do produto. Segundo dados internacionais, a Espanha, maior produtora mundial de azeite, deve ter uma queda de 39% na produção de azeite no período de 2022/2023, se comparado com o de 2021/2022. Na Itália, segundo maior produtor de azeite, alguns produtores relatam queda de até 80% no cultivo.
E o Brasil é impactado com essa história porque é o terceiro maior importador mundial de azeite de oliva, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da União Europeia, segundo informações da Embrapa. Por aqui, até existe produção de azeite, que vem crescendo aos poucos, ano a ano. Em 2022, a produção nacional chegou a 503 toneladas, o que representa apenas 0,24% do consumo nacional.
De acordo com o engenheiro agrônomo do Programa Estadual de Pesquisa em Olivicultura da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Pedro Moura, no ano passado, o Brasil importou 120 milhões de litros de azeite. “Com essa baixa da oferta no mercado mundial, o preço aumentou muito. A gente está seguindo agora para as festividades de fim de ano, então, é uma época que naturalmente o consumo também aumenta”, diz. “A tendência é que esse valor continue subindo e, aí, realmente é muito difícil a gente suprir isso com a produção nacional”, comenta.
Ele explica que a produção na Epamig, em Maria da Fé, no Sul de Minas, é recente e começou em 2008. Segundo ele, ao todo, na região da Serra da Mantiqueira, entre Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, são cerca de 200 produtores e 90 marcas. “É uma produção muito pequena ainda”, avalia.
“E como são produções pequenas e áreas menores, a gente tem conseguido um azeite gourmet já com valor agregado. O preço do nosso azeite nacional não se compara muito com o preço dos azeites importados que são comercializados no supermercado”, comenta. “É um produto Gourmet. O preço do azeite nacional acaba saindo mais alto do que azeites que são importados, até porque o custo de produção também é alto”, analisa.
O especialista lembra ainda que a produção brasileira caminha devagar porque demanda pesquisa e espaço para cultivo das oliveiras (que demoram pelo menos quatro anos para promoverem a primeira colheita). “A oliveira é uma cultura nova no Brasil. Este ano a gente celebrou 15 anos da primeira produção de azeite”, diz.
“É algo que demanda muito trabalho de pesquisa porque a planta é originária da região da Europa, mas ela está se adaptando no Brasil em regiões mais frias ou no Sul do país, ou em regiões de altitudes mais elevadas, como a Serra da Mantiqueira em Minas e São Paulo, porém são áreas pequenas”, pondera, lembrando que a oliveira precisa de um longo período frio para florescer e dar frutos, o que limita a expansão do cultivo.
E o consumidor, como fica?
Pedro Moura explica que a tendência é que o preço do azeite continue subindo pelo menos até meados de 2024, próximo às datas da Páscoa, quando a procura pelo produto também aumenta consideravelmente. A dica, segundo ele, é pesquisar e tomar cuidado com ofertas muito atrativas, pois podem se referir a outros tipos de óleo.
O melhor azeite para consumo é o extravirgem, geralmente mais caro, que tem propriedades benéficas à saúde e pode ser consumido nas saladas, molhos e afins. No entanto, no mercado, é comum encontrar o produto com inscrição apenas “azeite de oliva”. Pedro explica que se trata de um óleo refinado.
“Quando, na produção, a gente tem um azeite lampante, ou seja, que não é recomendado para alimentação humana, esse azeite lampante vai para indústria química e passa por um processo de refino para retirar as impurezas”, explica. “Ele se torna um óleo refinado e pode voltar para a alimentação humana. E aí, quando ele volta, ele vai ser misturado com algum azeite virgem ou extravirgem para voltar aquele sabor, mas não vai poder mais ser classificado como extravirgem, então, ele é comercializado como azeite de oliva apenas.”
Além disso, nas gôndolas, o consumidor também encontra os famosos óleos mistos, mais baratos, mas que não são azeites. “Geralmente vem escrito com uma letra menor na garrafa, por exemplo, 10% azeite de oliva e outro produto, que geralmente é o óleo de soja. Não compensa muito para o consumidor, porque se ele for comprar um óleo misto que tem 10% de azeite de oliva e 90% de óleo de soja, ele praticamente está comprando um óleo de soja. Então vale a pena comprar uma garrafa de óleo de soja que custa R$ 5 ou R$ 6 do que pagar R$ 20 em um produto que não é azeite”, analisa.
Outro alerta é sobre o produto saborizado artificialmente. Óleos com sabor, por exemplo, de alho e cebola, não podem ser chamados de azeite, segundo as recomendações do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). “Se tiver qualquer coisa dando sabor, ele tem que ser comercializado como um óleo misto ou como um tempero aromatizado.”
Mas uma das dicas mais importantes para o consumidor está na precaução contra fraudes. O azeite é o segundo produto mais fraudado no mundo, atrás apenas do pescado. “O Mapa recomenda procurar no rótulo alguma orientação para verificar o importador ou embalador e, depois, consultar no site deles”, diz Pedro. Lembrando que produtos importados têm selo do Mapa.