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GERAL

Mulher ‘empresta’ barriga para realizar o sonho do irmão gay de ser pai

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Fábio e Renato tiveram a filha por meio da 'barriga solidária' Foto: Erika Tavares

Filha de dois pais e gestada pela irmã de um deles, Emily nasceu no último domingo, 25, por volta das 9h, com pouco mais de 3 kg e 49,5 cm. A recém-nascida veio ao mundo de um jeito diferente do tradicional, mas que talvez se torne cada vez mais comum.

O desejo de paternidade dos pais de Emily, Fábio Takahashi, 40, e Renato Tamai, 38, nem sempre existiu. Juntos há oito anos, os dois afirmam fazer parte de uma geração de homens gays que cresceu sem muitas referências de casamentos entre pessoas do mesmo gênero ou de pais e mães nestas condições.

“A gente cresceu sem conseguir vislumbrar a construção de uma vida. Não víamos homens gays na televisão, em uma sala de aula ou no meio familiar. Então, a ideia de casar ou ter filhos sempre foi distante. A gente cresceu ‘matando’ essa vontade dentro da gente, então ela ficou meio ‘latente’”, declarou Fábio.

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Foi no início de 2020, no entanto, que o casal passou a se organizar em torno da possibilidade de ter um filho. Além do surgimento de referências, a construção da relação, aos poucos, foi tornando a ideia em algo real e possível. A adoção foi a primeira opção dos dois, que, inclusive, chegaram a entrar na fila de espera.

Casal está junto desde 2015
Casal está junto desde 2015

Foto: Erika Tavares

O processo, entretanto, foi interrompido com a chegada da pandemia de covid-19. Apesar disso, novidades aconteceram na vida de Fábio e Renato durante esse período.

Além de estarem vivendo a realidade que em um momento foi difícil vislumbrar, o casal passou a compartilhar essa realidade no Instagram, por meio de postagens sobre a rotina e a decoração do apartamento que dividem há quatro anos.

A conta “Olha o Apê Deles”, hoje com mais de 61.000 seguidores, indiretamente, colaborou com a chegada de Emily. Foi por meio dela que a irmã de Fábio, Letícia Yagura, na época com 42 anos, descobriu que ele e Renato possuíam o desejo de se tornarem pais e, diante da informação, a futura ‘titia’ se mostrou disposta a ser ‘barriga solidária’ e gestar o filho do casal.

“Minha irmã nos convidou para um jantar e falou que precisava conversar com a gente. Aí chegando lá, ela comentou que assistiu uma live nossa comentando o desejo de sermos pais e que poderia ser nossa ‘barriga solidária’. Inclusive, ela foi acompanhada do meu cunhado, que já estava ciente da ideia. Na hora eu falei ‘não, obrigado’, porque foi muito difícil imaginar ela gestando um filho nosso naquele momento”, riu Fábio.

Emily nasceu no último domingo (29), com pouco mais de 3kg
Emily nasceu no último domingo (29), com pouco mais de 3kg

Foto: Erika Tavares

Apesar do ‘choque’ momentâneo, o casal foi trabalhando a ideia e, semanas depois do encontro com Letícia e o marido, resolveram aceitar a proposta. De acordo com Fábio e Renato, sonhos foram, literalmente, fatores que colaboraram com esse processo.

“Nós fomos conversando e algumas coisas foram entrando na nossa cabeça. Umas coisas que a gente para e pensa ‘minha Nossa Senhora, que coincidência’, que para algumas pessoas pode ser difícil acreditar, é que dias antes da minha irmã nos convidar para o jantar, eu havia sonhado que ela estava grávida. No jantar, ela chegou a comentar que também havia sonhado com isso”, comentou Fábio.

Barriga Solidária 

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Conforme explica Pedro Fontenele, ginecologista e especialista em reprodução assistida, a ‘barriga solidária’ consiste em uma pessoa que se voluntaria para a gestação do bebê de outra pessoa ou casal. Diferente da ‘barriga de aluguel’, a ‘barriga solidária’ ou ‘útero de substituição’, não é realizada mediante pagamento.

Regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), a pessoa cedente do útero deve ter parentesco de até quarto grau com o casal ou a pessoa interessada em se tornar mãe ou pai. Quando não existe essa possibilidade, a resolução também permite a participação de uma pessoa sem laços sanguíneos, porém, é preciso autorização do Conselho.

Fábio e Emily
Fábio e Emily

Foto: Erika Tavares

No caso de Fábio, Rafael e Letícia, de acordo com Fontenele, a técnica utilizada para a vinda de Emily foi a Fertilização In Vitro (FIV).

“A gente pega os óvulos doados, fertiliza o sêmen de um dos homens do casal, formamos os embriões e transferimos para o útero da paciente. Nesse caso, o material genético da pessoa gestante não é utilizado”, explicou o médico.

Renato e Emily
Renato e Emily

Foto: Erika Tavares

De acordo com Fábio e Renato, eles optaram por não saber de quem foi o sêmen utilizado.

“A gente levou dois envelopes para o doutor Pedro, um com uma cartinha minha, outro com uma cartinha do Renato, aí pedimos para ele olhar e nos entregar o envelope daquele que teve o sêmen usado e rasgar o que não foi. Aí ele devolveu para a gente e está guardadinho. Talvez a gente queira saber em algum momento, mas não agora”, confessou Fábio.

‘Atingir as pessoas é necessário’

Apesar dos 42 anos de Letícia, o que gerou uma certa insegurança em Fábio com o bem-estar da irmã, ela afirma que foi uma gestação tranquila, mesmo tendo enfrentado uma diabete gestacional no fim do processo. Questionados se houve receio em torno do ‘apego’ de Letícia por Emily, o casal afirmou que não e que sempre esteve ciente de que isso poderia acontecer.

Renato, Fábio e Leticia
Renato, Fábio e Leticia

Foto: Erika Tavares

“Eu sempre soube que ela iria se apegar, porque, afinal, são nove meses. Mesmo que tenhamos vivido a gravidez dela de um jeito próximo, era ela que estava com Emily o tempo todo. Sentindo a barriga, conversando. Então esse apego era claro para mim. Mas medo dela virar para mim e falar ‘essa filha é minha e não de vocês’, isso nunca aconteceu. O que acho que vai acontecer é que elas terão uma relação de tia e sobrinha ainda mais especial”, afirmou Fábio.

Na opinião de Letícia, todo o processo não fortaleceu apenas a relação dela com Fábio e Renato, mas a relação da família toda se fortaleceu.

“Todo mundo se envolveu muito com a gestação. Minha mãe, minha avó. Minha avó inclusive criou um Instagram, aprendeu a usar, só para acompanhar as notícias fresquinhas que os meninos compartilhavam”, riu a irmã de Fábio. “Mas para além disso, vi minha relação com meu filho se fortalecer, o que foi muito especial, porque ele acabou percebendo como foi a gestação dele”, completou.

Família reunida horas antes da chegada de Emily
Família reunida horas antes da chegada de Emily

Foto: Erika Tavares

Falando sobre as inseguranças, o casal afirmou sentir receio pelos possíveis enfrentamentos de Emily pelo fato ser uma criança filha de dois pais e gestada pela tia, mas acredita ser algo necessário para colaborar com uma futura naturalização.

“Nós já estamos casca grossa com o preconceito, mas quando penso no ódio desnecessário atingindo minha filha, acontece sim uma certa insegurança. Mas acredito também ser necessário ela crescer consciente da sua realidade, firme e forte com isso. Pronta para enfrentar qualquer coisa”, comentou Fábio.

“Tenho na cabeça que esses movimentos são necessários. Atingir as pessoas é necessário para que a gente possa ver uma transformação positiva para as próximas gerações, inclusive a da Emily. As pessoas precisam se acostumar a ver dois pais com uma bebê que veio da irmã, sabe? Se acostumem com essa ideia, porque essa ideia existe, esse formato de família existe e vai existir cada vez mais”, finalizou.

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