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Mulher que perdeu nove bebês celebra a vida da filha de dois anos: ‘Ela é o meu milagre’

Taynara Rodrigues, de 31 anos, sempre sonhou em ser mãe. Com muito custo, ela conseguiu realizar esse sonho. Após perder nove filhos –um bebê de menos de dois anos e oito bebês que morreram ainda na barriga–, hoje, celebra a vida da filha, Fiorella, de dois anos. Para ela, a filha é um “milagre”.
Ao Terra, Taynara conta que teve o primeiro filho ainda na adolescência, aos 16 anos, quando se relacionava com um namorado. O menino, Rafael, nasceu prematuro, com 33 semanas de gestação, e com uma doença chamada gastrosquise –uma má-formação congênita na parede abdominal, em que órgãos internos, como estômago e intestinos, ficam do lado de fora.
Rafael teve de ser operado no mesmo dia em que nasceu e ficou quase cinco meses internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Neonatal. No hospital, contraiu pneumonia e se curou. Mas, com um ano e oito meses, teve uma morte súbita enquanto dormia.
Depois da morte de Rafael, Taynara ainda engravidou mais três vezes desse mesmo namorado e, em todos os casos, sofreu um aborto espontâneo no primeiro trimestre da gestação. À época, ela morava em Andradina (SP), sua cidade natal, mas, para fazer faculdade, se mudou para São José do Rio Preto (SP), onde residiam os primos.
Lá, Taynara conheceu Diego, seu atual marido, e teve mais quatro perdas, sendo uma delas de uma gestação gemelar. A única gestação bem-sucedida foi a de Fiorella. Depois do nascimento da filha, Taynara ainda engravidou mais uma vez, mas novamente perdeu o bebê. O aborto aconteceu em abril.
“Essa última perda foi muito traumática. Eu perdi o bebê em casa, o vi cair no vaso. Foi bem chocante”, conta. “Ele não era tão pequeno, devia ter cerca de 15 a 20 centímetros, e já era totalmente formado — cabecinha, mãozinha, perninha, pezinho. Nós ainda não havíamos feito o exame de sexagem, mas ali descobrimos que seria um menino.”
Depois da primeira perda gestacional fruto do atual relacionamento de Taynara, Diego sugeriu que a esposa procurasse um médico para investigar se ela tinha alguma condição de saúde ainda não diagnosticada. Então, exames apontaram que ela convivia com a Síndrome do Anticorpo Antifosfolípide (SAF). Trata-se de uma doença autoimune que causa tromboses (coágulos) em veias e artérias.
Ao Terra, o médico reumatologista Gustavo Guimarães Moreira Balbi explica que a SAF é uma doença autoimune adquirida. Ao longo da vida, os pacientes sofrem mudanças no sistema imunológico e passam a produzir anticorpos contra proteínas produzidas pelo corpo chamadas anticorpos antifosfolípides. Isso pode gerar diversas manifestações clínicas, inclusive tromboses e complicações gestacionais.
“Ainda existe debate sobre qual seria o principal motivo responsável pelas perdas gestacionais da SAF, mas sabemos que tanto mecanismos de inflamação quanto de trombose estão implicados”, afirma Balbi, que é coordenador da Comissão de Síndrome Antifosfolípide (SAF), da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).
“Devido a essas alterações, a formação da placenta das pacientes com SAF acontece de maneira anormal, aumentando o risco de surgimento de doença hipertensiva da gestação, como pré-eclâmpsia, e de má circulação fetal”, acrescenta.
Taynara está investigando ainda a possibilidade de ter uma segunda doença associada a complicações gestacionais: incompetência cervical, também conhecida como fraqueza cervical ou insuficiência cervical. A condição leva à dilatação prematura do colo do útero, geralmente no segundo trimestre da gravidez. Isso pode levar à perda da gestação ou ao parto prematuro.
A realização de um sonho
Depois de descobrir o diagnóstico de SAF, Taynara engravidou de Fiorella e durante toda a gestação tomou injeções de anticoagulantes. A gravidez foi relativamente tranquila, com exceção dos enjoos frequentes que sentiu ao longo dos nove meses.
Apesar de ter tido uma gestação sem complicações, Taynara relata que sentiu muito medo, principalmente nos primeiros meses, período em que o risco de perda é maior. Ela teve alguns sangramentos, que a deixaram ainda mais apreensiva, mas não representaram perigo ao bebê. Fiorella nasceu saudável, de parto normal, em setembro de 2022.
“Ela é o meu milagre. Não só pelo fato de ter sido meu único bebê que sobreviveu, em meio a tantas complicações, mas também por ter trazido luz à minha vida”, afirma. “Com a maternidade, passei a ver o mundo de outra forma. Entendi que, mais importante do que ser servida, é servir ao outro.”
Apesar de ter sido mãe de Rafael por um ano e oito meses quando era adolescente, Taynara não sentiu que viveu a maternidade na sua plenitude. À época, era muito nova e não tinha todas as responsabilidades de um adulto. Hoje, entende que a maternidade é uma escolha que ressignifica toda a vida da mulher, pois passa pela renúncia dos próprios desejos em prol do bem-estar de outro ser humano.
Perguntada sobre a possibilidade de ter mais filhos, Taynara não soube responder. Ela conta que sempre quis ter muitos filhos. Diego, filho único, também sonhava em ter uma família grande. Apesar disso, o trauma da última gestação deixou-a muito abalada. Profissional de social media, ela também gosta de trabalhar fora e não se adaptou à vida de dona de casa.
Taynara vai esperar ao menos dois anos para voltar a pensar no assunto, mas conta que, hoje, está em paz com essa questão. Católica, ela acredita que os planos de Deus são os mais elevados e não se cobra para ter mais filhos, como fazia antigamente. Depois de tantas perdas, ela já se sente grata por passar mais um Dia das Mães com seu pequeno milagre.
