GERAL
PF investiga saques de R$ 101 milhões por suspeito de propina no Pará

A operação da Polícia Federal (PF) que apura supostos desvios em contratos que totalizam R$ 198 milhões de cidades do Pará destinados à Saúde e à Educação investiga saques que somam R$ 101 milhões em espécie realizados por pessoas ligadas a empresas sob suspeita.
Segundo relatório do caso, baseado em informações do Conselho de Controle de Atividade Financeiras (Coaf), a empresa Líder Engenharia, contratada por diversos órgãos públicos do estado do Pará, movimentou o montante de R$ 198,3 milhões entre 2018 e 2025.
Do total, R$ 101,7 milhões foram sacados em espécie, principalmente por dois dos investigados: Jacélio Faria da Igreja, sócio da Líder, e Alberto Furtado Pinheiro, sócio da Brasil Brasil e da Fortes Comércio. Ambos tiveram ordem de prisão preventiva autorizadas pela Justiça.
As operações, contudo, “carecem de qualquer motivação operacional legítima e apontam para indícios de lavagem de capitais e ocultação patrimonial”, segundo o relatório do Coaf.
Questionada, a defesa de Jacélio nega que seu cliente tenha cometido qualquer irregularidade e diz que relatórios do Coaf podem atestar eventuais movimentações atípicas, mas tais atipicidades não representam, automaticamente, uma ilegalidade (leia mais ao final da reportagem).
Como mostrou a coluna, esses mesmos empresários são suspeitos de repassar propina para servidores públicos. Durante a investigação, agentes chegaram a monitorar supostas entregas de dinheiro e fizeram flagrantes de momentos em que os empresários supostamente estariam sacando recursos e repassando a terceiros.
A investigação da PF também indica que alguns dos repasses da empresa Líder eram feitos via transferências diretas a pessoas físicas vinculadas a órgãos públicos contratantes, tais como a Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), o Detran e a Polícia Científica do Pará.
“Os repasses, em todos os casos, ocorreram sem qualquer justificativa contratual ou funcional compatível, indicando possível prática de corrupção ativa por parte da empresa e corrupção passiva por parte dos servidores beneficiados, além de peculato e associação criminosa”, aponta a corporação.
Como mostrou a coluna, um dos alvos da PF foi o chefe de gabinete do deputado estadual Chicão (MDB), atual presidente da Alepa.
Para a Justiça Federal, que autorizou as ações da PF na terça-feira (2/9), considerando que os pagamentos de propina seriam realizados primordialmente via entrega direta de dinheiro a autoridades públicas, “ratifica-se, não apenas a hipótese investigativa de montagem e direcionamento dos contratos realizados com as empresas alvo, como também o envolvimento direto de autoridades públicas e empresários no ciclo criminoso orquestrado pela organização criminosa”.
Trecho da decisão, assinada pelo juiz federal Carlos Gustavo Chaves, também ressalta o volume dos saques, uma vez que trata-se de algo em torno de 50% do valor total dos contratos investigados.
Diante disso, para o magistrado, “é clarividente a inviabilidade de execução total da avença por parte das empresas citadas”.
Chaves cita ainda outro dado levantado pela PF para demonstrar a contemporaneidade dos fatos e os altos montantes sacados pelas empresas sob suspeita. Segundo os registros, somente entre junho e julho de 2025, houve saques nas contas das empresas investigadas no valor de quase R$ 10 milhões.
“Atente-se que o último saque consta da data de 22 de julho de 2025, no valor de R$ 477.850,00 (quatrocentos e setenta e sete mil oitocentos e cinquenta reais), o que indica não apenas a continuidade de contratos fraudulentos, como também a contemporaneidade no pagamento de propinas”, afirma o juiz.
Como funcionava o esquema
Segundo a investigação do caso, o primeiro passo do esquema se dava a partir do firmamento de contratos milionários fraudulentos entre as empresas investigadas e órgãos vinculados ao governo do estado do Pará, tais como os citados Detran e Polícia Científica, ou a Alepa.
Segundo a decisão que autorizou as ações da PF, processos licitatórios eram autorizados, montados e realizados por funcionários ocupantes de cargos chave de órgãos públicos participantes no esquema, havendo suspeita de direcionamento a determinadas empresas.
Em seguida, diz o documento, eram realizados os pagamentos de valores milionários às empresas participantes do esquema, mesmo sem a realização do objeto do contrato.
