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CIDADES

‘Quem vai pagar?’: especialistas consideram ‘inviável’ custo para enterrar fiação em São Paulo

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O apagão que atingiu a cidade de São Paulo e mais 23 municípios após uma tempestade na última sexta-feira, 3, acendeu uma discussão antiga: e se a fiação elétrica fosse enterrada? A ideia foi ventilada nesta semana pelo prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB), mas esbarra em alguns fatores que a tornaria inviável, segundo defendem profissionais da área.

O Terra conversou com o presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Pedro Rodrigues, e com o idealizador do Energy Hub Ventures, Luiz Mandarino. Os dois apresentaram opiniões semelhantes sobre a proposta de enterrar os fios: é cara e ninguém sabe quem vai pagar a conta.

“Uma rede enterrada é no mínimo 10 vezes mais cara que uma rede elétrica aérea. E este custo não está contabilizado na concessão, e teria impacto no custo da conta de energia do consumidor. Seria inviável à concessionária de energia realizar este tipo de desembolso, sem ter a possibilidade de realizar o retorno deste investimento”, avalia Mandarino.

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Rodrigues concorda que, no final, o custo recairia sobre a população. “O consumidor já paga uma tarifa alta demais de energia no Brasil. Talvez a gente pague uma das tarifas mais altas do mundo. Então, o consumidor, ele também tem um limite de pagamento dessa tarifa”, considera o presidente do CBIE.

O prefeito Ricardo Nunes chegou a mencionar uma ‘taxa de melhoria’ durante entrevista coletiva, na última segunda-feira, 6. O valor extra, a princípio, seria para que a população ajudasse a custear o enterramento de fios, juntamente com a prefeitura. Depois, na terça-feira, 7, Nunes disse, em entrevista à GloboNews, que sua declaração foi tirada de contexto.

“Em hipótese alguma teremos taxa em São Paulo. O contribuinte já paga um valor na sua conta de energia. Vamos usar parte desse recurso para fazer enterramento de fios. Se alguém quiser apresentar um projeto na sua região, a Prefeitura está disposta a contribuir para agilizar o enterramento de fios na cidade”, disse.

O que é o enterramento dos fios?

Como o nome sugere, o enterramento tem como objetivo retirar da superfície a fiação elétrica que está presa aos postes das cidades. Mandarino explica que, no caso do enterramento da fiação, os fios de energia e telefonia são levados para debaixo da terra, sem proteger por completo a rede elétrica.

Isso é diferente do aterramento da rede. A segunda opção seria a ideal para evitar danos após tempestades e ventanias. No entanto, especialistas alertam, ela é mais complexa e mais cara.

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O professor José Roberto Cardoso, da Escola Politécnica da USP, explica ao jornal da universidade, que seria preciso enterrar também os postes e transformadores para que o projeto fosse bem sucedido.

Existem outras soluções?

Outros países, como os Estados Unidos, já aderiram à alternativa, segundo Rodrigues. O que muda é o planejamento.

“Miami é uma cidade que passa por furacão, vendavais, e não falta energia. Nova Iorque também. O americano faz um planejamento do que ele vai querer fazer, e, aqui, não temos. Eles também têm uma renda per capita maior que o brasileiro, então, podem pagar por isso. A gente não tem tanto essa possibilidade”, explica.

Apesar de custosa, os especialistas não negam as vantagens de ter a rede enterrada.

“Seria uma solução com um caráter mais definitivo para mitigar a interrupção por queda da fiação, motivada principalmente por árvores e acidentes”, afirma Mandarino.

Ele aponta, no entanto, que há outras medidas mais baratas e menos complicadas. A poda de árvores, por exemplo, é uma das medidas que devem ser tomadas para evitar episódios semelhantes ao que ocorreu no último fim de semana.

“Há soluções atualmente que usam tecnologia de visão computacional e IA para reduzir o custo das podas e ser mais assertivo nos locais onde se mais precisa”, pontua Mandarino. “Isso pode melhorar o sistema de podas, ampliando para mais árvores com o mesmo custo gasto atualmente. A adoção desta solução seria mais simples e já traria uma melhoria no monitoramento das áreas com maior densidade de árvores e com maior exposição na rede elétrica”.

Durante o problema de energia enfrentado pela capital paulista, o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), atribuiu às árvores a interrupção do fornecimento de energia. Ele falou em “falta de manejo adequado” e cobrou um “plano conjunto de manuseio arbóreo”.

“É uma questão que a gente vai estruturar. Vamos pegar o benchmark de outros Estados que aprovaram legislações, como o Paraná, que ajudam o prefeito nesse manejo”, prometeu.

Porém, tais medidas são temporárias em relação às necessidades da cidade.

A opção poderia ser aplicada em outras cidades? 

A resposta é “depende”, segundo Pedro Rodrigues, presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Para ele, cada cidade possui sua própria realidade e, por isso, o enterramento pode não funcionar em todos os estados.

“Essa solução não tem que ser nacional. A solução tem que ser local, dependendo da característica da rede daquela cidade, daquele bairro e assim por diante”, explica. “São Paulo talvez faça sentido em alguns bairros; talvez no Amapá não tenha sentido, lá tenha que ser aérea, por exemplo. Existem situações diferentes”.

 

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