GERAL
Seca severa no Rio Madeira: Níveis históricos baixos ameaçam população e ecossistema
A seca severa que assola a Região Norte do Brasil atinge níveis alarmantes, com o Rio Madeira registrando seus menores níveis em quase 60 anos. A situação crítica, resultado de anos de estiagens consecutivas, coloca em risco o abastecimento de água para a população, a navegação fluvial e o ecossistema da região.
De acordo com dados da prefeitura de Porto Velho, o Rio Madeira atingiu 2,07 metros nesta terça-feira (6), o nível mais baixo já registrado para essa época do ano desde o início das medições em 1967. O nível do rio já havia alcançado 2,45 metros no final de julho, a menor marca para o período.
O Serviço Geológico do Brasil (SGB) destaca a gravidade da situação, com a cota mais baixa da história registrada em 6 de outubro de 2023, atingindo 1,10 m. A média histórica para o mês de agosto é de aproximadamente 5,3 metros, o que significa que o rio está mais de três metros abaixo do nível considerado normal.
O engenheiro hidrólogo Marcus Suassuna, do SGB, explica que a principal causa da seca é a chuva abaixo da média na Bacia Amazônica, com uma anomalia significativa em toda a região. Ele destaca que a estiagem não é inédita este ano e é influenciada por fatores como o aquecimento do Oceano Atlântico Norte e o Fenômeno El Niño.
“A estação chuvosa inteira foi muito ruim, o que fez com que a seca no ano passado se prolongasse. Em consequência, o nível do Rio Madeira começou a subir muito tarde e de maneira muito fraca”, afirma Suassuna.
A situação crítica exige medidas urgentes para minimizar os impactos sobre a população e o meio ambiente. A prefeitura de Porto Velho recomenda o uso essencial de água e a prevenção do desperdício, além de alertar sobre os riscos de afogamentos e ataques de animais nas praias do Madeira.
Para garantir o abastecimento de água para as comunidades ribeirinhas, a prefeitura está distribuindo cerca de 120 mil litros de água nas próximas semanas, com o apoio se estendendo até os meses de setembro e outubro. O SGB, em parceria com outros órgãos e prefeituras, está realizando estudos para identificar os melhores locais para a perfuração de poços destinados ao abastecimento público.
A recuperação do nível do rio depende principalmente das chuvas na Bolívia, já que 75% da bacia do Rio Madeira se encontra no país vizinho. As equipes da Defesa Civil estão monitorando os poços amazônicos que abastecem as casas e distribuindo hipoclorito de sódio para purificar a água para consumo humano.
A seca severa no Rio Madeira também impacta a navegação fluvial, que opera com capacidade reduzida. O rio é uma importante hidrovia para o transporte de carga e passageiros, com um trecho navegável de 1.060 quilômetros entre Porto Velho e Itacoatiara (AM). Em 2022, foram transportadas 6.538.079 toneladas por essa via, o que corresponde a 9,2% do total transportado por vias interiores no Brasil.
A situação crítica no Rio Madeira reflete a crescente vulnerabilidade da Amazônia às mudanças climáticas. A seca severa, exacerbada por eventos como o El Niño, coloca em risco a vida da população, a economia regional e a biodiversidade da região. É fundamental a implementação de políticas públicas e ações de mitigação para enfrentar os desafios da crise hídrica e garantir a sustentabilidade da Amazônia.