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Símbolo da luta ambientalista, Casa de Chico Mendes é reaberta ao público em Xapuri (AC)
Construída com madeiras amazônicas, a Casa de Chico Mendes, em Xapuri (AC), se abrirá uma vez mais à população acreana e a turistas de todo o mundo que visitam a região querendo conhecer mais sobre a história do líder seringueiro. Às 10h desta sexta-feira (10), horário do Acre, ocorre a cerimônia de reabertura da casa, a partir da parceria entre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), prefeitura de Xapuri e a família Mendes. Com a conclusão das obras de manutenção e reforma, totalizando investimento de R$ 92 mil, o público poderá conhecer o interior da residência, que possui um acervo repleto de objetos associados ao ofício do trabalhador amazônico nos seringais e à luta contra a concentração fundiária e desmatamento na região.
Símbolo da arquitetura vernacular amazônica, a casa de número 487, na rua Batista Moraes, recebe autoridades e população xapuriense para a reinauguração do museu. Junto aos visitantes, o presidente do Iphan, Leandro Grass, o superintendente do Instituto no Acre, Stenio de Melo, e o prefeito de Xapuri, Ubiracy, o “Bira”, vão percorrer a cancela frontal, do quintal até a residência de madeira, coberta com telhas de cerâmica. A despeito da aparente simplicidade, a construção é fruto da carpintaria tradicional da região, com quatro cômodos — sala, cozinha e dois quartos —, armada em esteios e estacas sobre os quais repousa o assoalho, e perna-mancas e frechais, que sustentam o telhado, culminando no formato de chalé.
“A reabertura da Casa de Chico Mendes é um momento importante para reacender uma memória viva da história da Amazônia: a jornada de Chico Mendes, a defesa da floresta em pé, além de condições dignas para os trabalhadores e trabalhadoras da região”, avalia o presidente do Iphan, Leandro Grass. A Casa é tombada pelo Iphan desde 2007. “O patrimônio cultural amazônico é uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento sustentável da região, que garanta proteção do meio ambiente e justiça social”, destaca Grass.
As obras na Casa de Chico Mendes foram iniciadas em fevereiro deste ano. A reforma incluiu a troca de barrotes danificados, substituição de peças de madeira da fachada e área interna e troca estrutura da cobertura, além de lavagem e substituição de telhas danificadas. A cerca foi refeita, o deck, recuperado; e a casa, por fim, recebeu nova pintura completa. No total, foram investidos pouco mais de R$ 92 mil. Com a reforma, será realizada a renovação do contrato de locação da residência, firmado entre Iphan, prefeitura do Xapuri e a família Mendes, possibilitando a reabertura e visitação.
Seringueiro, ambientalista e sindicalista, Chico Mendes se tornou líder dos trabalhadores de seringais e ganhou notoriedade mundial ao defender a preservação do meio ambiente, melhores condições de vida aos trabalhadores amazônicos e o extrativismo como alternativa a um modelo predatório. “Sou um seringueiro, meus companheiros vivem da floresta há 130 anos, aproveitando a sua riqueza sem destruí-la. A Amazônia possui os maiores recursos biológicos do mundo”, discursou Mendes ao receber, dentre vários reconhecimentos, o Prêmio da Sociedade para um Mundo Melhor, recebido nos Estados Unidos, em 1987.
O município de Xapuri está localizado às margens do rio Acre, na confluência com o rio Xapuri, a 180 km de distância da capital Rio Branco. O surgimento da cidade está associado ao ciclo da borracha, entre o final do século XIX e início do XX, tendo Xapuri se tornado principal entreposto acreano no comércio de látex. Na segunda metade do século XX, o governo brasileiro incentivou projetos desenvolvimentistas para a região amazônica. No estado do Acre, levas migratórias assentaram fazendas, nas áreas em que até então já viviam os seringueiros. O impasse entre seringueiros e fazendeiros culminou na fundação do sindicalismo no Xapuri, tendo Chico Mendes se tornado principal opositor da expansão dos fazendeiros. Em 1988, Mendes foi assassinado aos 44 anos, em Xapuri, na casa que ainda hoje guarda o mesmo feitio e objetos daquela época, como mobiliário de madeira e pote de barro.
Assessoria de Comunicação Iphan