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GERAL

Sob ameaça de prisão, Mauro Cid mudou versão sobre trama golpista

Publicado em

Mauro Cid Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A divulgação do conteúdo da delação premiada de Mauro Cid revelou que o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) alterou significativamente sua versão sobre pontos cruciais da trama golpista. A mudança ocorreu durante uma audiência no Supremo Tribunal Federal (STF), presidida pelo ministro Alexandre de Moraes, que chegou a ameaçar a prisão do militar caso ele não esclarecesse contradições em seus depoimentos.

O encontro ocorreu em 21 de novembro de 2024, em meio a pressões da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República (PGR), que já haviam manifestado parecer favorável à prisão de Cid por descumprir os termos da colaboração premiada. Investigações indicavam que declarações anteriores do ex-ajudante de ordens eram contraditórias diante das provas coletadas.

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“O colaborador tem também, não só benefícios, tem também obrigações. E a maior delas é falar a verdade, é não se omitir, não se contradizer”, alertou o ministro. Moraes ainda ressaltou que foram fornecidos vários documentos, como mensagens de celulares, computadores e laudos, mas também ocorreram diversas omissões por parte de Cid. “Eu diria que, com todo respeito, uma série de mentiras na colaboração premiada”.

Com isso, a audiência seria uma “última chance” para Mauro Cid para evitar prisão e ainda investigação sobre o pai, esposa e filha do ex-ajudante.

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Pressionado diante das omissões, Cid detalhou o envolvimento de militares e políticos nos atos que culminaram nos ataques de 8 de janeiro de 2023. Moraes questionou diretamente sobre o papel de Bolsonaro e de generais de alta patente no plano “Punhal Verde Amarelo”, no financiamento de acampamentos golpistas e na escalada dos atos violentos.

Sobre reunião de novembro de 2022, na casa do general Walter Braga Netto, então candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, Cid havia descrito o encontro como um simples evento entre militares que desejavam tirar fotos com Bolsonaro e Braga Netto.

No entanto, diante de Moraes, admitiu que o objetivo da reunião era fomentar um “caos social” para justificar uma intervenção das Forças Armadas e impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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Outro ponto alterado foi a justificativa para sua saída antecipada de uma reunião com os tenentes-coronéis Rafael de Oliveira e Helio Ferreira Lima, em 12 de novembro de 2022. Nos primeiros depoimentos, Cid afirmou que deixou a casa de Braga Netto para cumprir agenda no Palácio da Alvorada.

Na audiência no STF, relatou que, na verdade, o próprio Braga Netto solicitou sua saída. “Quando entrou no nível das ideias, o general Braga Netto interrompeu e falou assim: ‘Não, o Cid não pode participar, tira o Cid porque ele está muito próximo ao Bolsonaro'”, declarou.

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A delação de Cid também trouxe novos detalhes sobre o financiamento de atos golpistas. O militar modificou sua versão sobre mensagens em seu celular que mencionavam um pedido de R$ 100 mil no final de 2022. Anteriormente, alegava que se tratava de uma solicitação em tom de brincadeira, sem intenção real de concretização.

No novo depoimento, afirmou que não sabia o motivo exato da solicitação, mas que, à luz das investigações, passou a acreditar que o dinheiro poderia ter sido usado para ações contra Moraes — incluindo a possibilidade de prisão ou até mesmo assassinato do ministro, conforme previsto no chamado plano “Punhal Verde Amarelo”.

Cid relatou que tentou obter os R$ 100 mil junto à direção do PL, mas o pedido foi negado. Segundo ele, Braga Netto conseguiu o montante com “o pessoal do agro” e solicitou que o dinheiro fosse entregue ao tenente-coronel Rafael de Oliveira. O valor teria sido repassado em uma sacola de vinho.

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Entenda a denúncia da PGR

Bolsonaro foi denunciado pelos crimes de liderança de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da união e deterioração de patrimônio tombado.

Além do ex-presidente, a PGR também denunciou nesta terça-feira, 18, o ex-ministro general Braga Netto e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e outros 31 pelos crimes de:

  • Golpe de Estado;
  • Abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
  • Organização Criminosa.

O objetivo, segundo o relatório, era estabelecer uma “falsa realidade de fraude eleitoral” para que sua derrota não fosse interpretada como um acaso e servir de “fundamento para os atos que se sucederam após a derrota do então candidato Jair Bolsonaro no pleito de 2022”.

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A investigação aponta ainda que a o ex-presidente tinha conhecimento de um plano para matar o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do STF Alexandre de Moraes.

Em nota, a defesa de Bolsonaro afirma que o ex-presidente “jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito ou as instituições que o pavimentam”. Também alegou ter recebido com “estarrecimento e indignação a denúncia da Procuradoria-Geral da República”

Com as novas informações, a PGR recuou do pedido de prisão de Mauro Cid e sugeriu a manutenção do acordo de delação premiada — decisão que foi aceita por Moraes.

 

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