GERAL
Vaticano dá aval para início da beatificação de Padre Paolino, seis anos após sua morte
Seis anos já se passaram desde aquele 8 de abril de 2016, data em que Sena Madureira, o Acre e o mundo perderam um dos maiores líderes religiosos da história: o missionário, médico da floresta e defensor dos pobres, Padre Paolino Maria Baldassari.
O bom velhinho morreu aos 90 anos, vítima de uma parada cardíaca e de falência múltipla dos órgãos, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santa Juliana, após dois anos de internação.
Reconhecido nacionalmente pela entrega aos ribeirinhos, nas desobrigas que demoravam meses e na entrega de fitoterápicos (de sua produção, com auxílio de plantas e ervas medicinais típicas da Amazônia) aos moradores da zona rural, o bom velhinho recebeu vários títulos e homenagens ao longo de sua vida. Em 2004, o “pai espiritual” de milhares de pessoas foi intitulado pela Universidade Federal do Acre (Ufac), Doutor Honoris Causa, considerando sua luta ambiental, os serviços prestados em localidades distantes, sua firmeza de caráter na defesa dos mais humildes e seu histórico de vida aprovado na Câmara de Recursos e Títulos Honoríficos da instituição. Em novembro de 2006, também foi escolhido em primeiro lugar como liderança individual do Prêmio Chico Mendes, concedido pelo Ministério do Meio Ambiente.
Da Itália para o Acre
Nascido na Itália, era filho de um pedreiro com uma agricultora. Ainda jovem tornou-se ajudante de pedreiro e não gostava de estudar. Era tão ruim em matemática, segundo ele mesmo afirmava, que, certa vez, numa única aula levou 70 tabefes do professor por não responder corretamente a tabuada. Após a guerra, tendo migrado para o Brasil, passou a ser aluno aplicado, formando-se em Teologia e aprendendo vários idiomas.
Ainda na Itália fez amizade com outro religioso, o frei Heitor Turrini, que virou seu principal parceiro na prática religiosa. Vieram juntos para o Brasil num avião da Alitália, por iniciativa de Turrini, que conseguiu passagens de graça. A proeza se repetiu na viagem para a Amazônia e custou a Heitor dois dias de carona num caminhão até o Rio de Janeiro, para pedir as passagens ao dono da empresa Cruzeiro do Sul (depois Varig).
Em decorrência da quantidade de viagens que fez ao interior, realizando consultas, batizados, missas e casamentos, Paolino desenvolveu malária 84 vezes, em 56 anos. Mesmo assim, a resistência venceu a adversidade.
Beatificação
O pároco da Igreja Matriz de Sena, Moisés Oliveira, disse à reportagem do ContilNet que o Vaticano já autorizou a abertura do processo de beatificação do vigário, em tramitação desde 2019.
O protocolo foi iniciado quando o representante da Ordem Servos de Maria (OSM), Frei Franco Azzali, veio ao Acre para o lançamento da biografia de Paolino, com o título “O prego e a medalha”, que aconteceu na igreja matriz do município, no dia 17 de abril.
A atribuição, de acordo com as normas da Igreja Católica Apostólica Romana, só ocorre após a comprovação de um milagre. Uma vez atingida a condição de beato, procede-se o processo de canonização.
De acordo com Frei Moisés, cartas pessoais enviadas por Baldassari e recebidas por ele, além de relatos de pessoas que conviveram com o vigário, já foram enviados aos responsáveis pela possível declaração.
“A Santa Sé já deu o aval para a abertura do processo de beatificação. Já recebemos a carta do Vaticano com as devidas orientações. A população de Sena muito se orgulha dessa conquista. Nosso coração está em festa”, destacou.
Comemoração em Sena
A data da morte de Paolino virou feriado em Sena Madureira, a partir de um projeto de lei apresentado pela Câmara Municipal e sancionado pela prefeitura.
A igreja católica Nossa Senhora da Conceição está organizando uma programação para esta sexta-feira (8).
Às 19 horas será celebrada uma missa, com homenagens à Paolino, e logo depois ocorrerá uma noitada do tradicional Arraial.