MUNDO
A dor das crianças: o racismo precisa deixar que elas sejam crianças
No dia 25 de maio, viralizou um vídeo de uma menina negra aos berros defendo a sua mãe, por conta de uma acusação de furto de um óculos de sol, em uma loja de luxo Mocler na Price Street, em Nova York. Não se sabia muita coisa do que estava acontecendo, mas se via uma criança de aproximadamente dez anos, aos berros, expressando “pela minha alma, deixem minha mãe em paz!”.
Uma voz no rádio policial descrevia que a suspeita era uma mulher negra, com tranças longas, usando uma camiseta branca e um boné de beisebol branco. A mulher detida por policiais era negra, porém, estava com um vestido de cor clara e o cabelo estava preso, sem tranças.
O caso aconteceu em Nova York, mas a minha análise é sobre o tribunal da inquisição no Brasil. Li comentários de muita gente com pesar daquela cena horrenda, entendendo muito bem do que se tratava. Sabe-se que o princípio da presunção de inocência ou da não culpabilidade não é para pessoas negras, sendo nos Estados Unidos ou no Brasil. Mas eu vou pegar um comentário perverso, para representar o outro lado de uma sociedade que não enxerga uma criança negra como criança, que atribui, sem ter certeza, que toda a pessoa negra é culpada: “Deve ter roubado sim, tem que ser presa junto com a mãe”.
Lendo alguns absurdos, eu só pensava que aquela mulher, pela descrição do rádio da polícia, estava sendo detida injustamente e no mínimo a sua filha deveria estar protegida pelas autoridades.
Aqueles gritos de dor, de desespero trarão marcas profundas. A defesa corajosa da menina por sua mãe traz à tona a questão do impacto psicológico e emocional que tal experiência pode ter em uma criança negra. Ver um ente querido sendo tratado como criminoso na frente dela pode gerar sentimentos de medo, insegurança e desconfiança em relação às autoridades. Como confiar na polícia, por exemplo? Este tipo de trauma pode ter consequências de longo prazo no desenvolvimento psicológico e emocional da criança, afetando sua visão de mundo e suas relações interpessoais. Crianças negras que experienciam racismo podem enfrentar desafios ao desenvolver uma identidade positiva. Elas podem internalizar as mensagens negativas sobre sua raça, levando a conflitos internos sobre sua própria identidade racial.
O racismo pode diminuir a autoestima das crianças negras. Sentirem-se menos valorizadas ou respeitadas devido à sua raça pode fazer com que questionem seu valor pessoal e capacidades. A exposição contínua ao racismo possibilita o desenvolvimento de transtornos de ansiedade e depressão. O medo constante de discriminação e a vivência de episódios racistas causam um estado de alerta e estresse constante. Crianças negras que experienciam racismo podem se sentir desmotivadas ou desengajadas na escola, levá-las a acreditar que suas chances de sucesso são limitadas, afetando seu desempenho acadêmico.
O apoio de famílias, comunidades e modelos positivos pode ajudar a mitigar os impactos negativos do racismo e fortalecer a capacidade de superar adversidades, mas as marcas ficarão. Entendamos que criança deveria somente brincar e estudar, ser protegida pela comunidade. Não ser violentada.
Imagina se a menina e sua mãe fossem brancas. Não haveria dúvida, aliás a polícia não estaria naquele lugar.
Voltando às redes sociais no Braisl…. Uma conhecida que havia colocado o vídeo em seu feed no Instagram, com um texto emocionado, se autonomeando como aliada da causa, esperou passar o hype e apagou.
Indicação:
Livro O Enegrecer Psicopedagógico: um Mergulho Ancestral, de Clarissa Brito;
Redes Sociais do Jonathan Raymundo – @raymundojonathan