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Astrônomos encontram um túnel interestelar que liga o Sistema Solar com outras estrelas
O tamanho do Sistema Solar vai muito além da órbita de Plutão e se estende até a heliosfera que é uma região dominada pelo Sol. A vizinhança do Sistema Solar se estende ainda mais chamada meio interestelar que é uma região entre o Sol e estrelas próximas. O nosso sistema está localizado em um dos braços da Via Láctea com presença de gás, plasma e poeira.
Uma estrutura é a chamada de Local Hot Bubble ou, em português, Bolha Quente Local, que é uma região de gás quente e de baixa densidade. Essa bolha envolve o Sistema Solar e algumas outras estrelas próximas. Estima-se que a origem dela esteja relacionada com supernovas que aconteceram no passando esquentando o ambiente. Essa bolha tem por volta de 300 anos-luz e é uma das componentes da vizinhança do Sol.
Nesse último mês, astrônomos encontraram um túnel interestelar que está ligando o Sol à estrelas próximas. Esse túnel está localizado na Local Hot Bubble e é um buraco no meio do gás interestelar. A descoberta foi feita usando dados do eRosita que mapeou a vizinhança do Sistema Solar em um mapa 3D. Além disso, os pesquisadores adicionaram informações de poeira, remanescente de supernovas, entre outros.
Local Hot Bubble
O Sistema Solar está envolvido em uma bolha chamada de Local Hot Bubble que recebe esse nome de “Bolha Quente Local” por ser uma região de gás quente e de baixa densidade. Estima-se que essa bolha tenha cerca de 300 anos-luz de diâmetro e sua origem esteja associada com supernovas que ocorreram na proximidade do Sistema Solar. Ela seria resto de material expelido das supernovas que aqueceu o meio interestelar.
No meio interestelar, nuvens densas e frias podem ser encontradas mas a Local Hot Bubble se diferencia por ser muito quente e possui uma densidade relativamente baixa. Essa bolha também serve como uma transição entre a heliosfera e o meio interestelar distante. Por causa disso, estudar as propriedades dessa bolha é importante para compreender a vizinhança pela qual estamos localizados.
eRosita
Para estudar estruturas energéticas no espaço, a Alemanha e a Rússia lançaram o projeto eRosita que explora as estruturas em raios-X. O observatório consiste em telescópios de raios-X que foram lançados a bordo do satélite SRG. A ideia é mapear todas as direções em raios-X que estão associados com eventos energéticos que consiste de supernovas, buracos negros e outros fenômenos.
Além disso, o eRosita também contribui com o estudo de matéria escura ao observar aglomerados de galáxias e a distribuição de matéria visível. Ao entender a dinâmica desses objetos, os astrônomos conseguem estimar a quantidade de matéria escura. Outro ponto importante de estudo do eRosita é a influência de buracos negros supermassivos. Através das observações de raios-X é possível entender a correlação e a evolução desses objetos no centro das galáxias.
Mapa 3D da vizinhança do Sistema Solar
Em artigo publicado na Astronomy & Astrophysics, grupo de astrônomos do Instituto Max Planck usou os dados do eRosita e o antecessor ROSAT. No trabalho, eles dividiram os dados em 2.000 regiões, extraindo e analisando o espectro de cada uma. Com os dados de ambos projetos, eles conseguiram extrair informações de raios-X do gás quente presente na Local Hot Bubble.
Os dados tamabém mostraram como é a estrutura da Local Hot Bubble e foi possível criar um mapa 3D da vizinhança do Sistema Solar. Além disso, encontraram uma assimetria onde o hemisfério sul parece ser mais quente que o norte. Isso possivelmente foi causado por causa da explosão de supernovas aquecendo o gás de forma assimétrica. É possível ver o mapa 3D de forma iterativa no site da revista.
Túnel interestelar
Uma das maiores descobertas nesse estudo, no entanto, foi um túnel interestelar que vai até a direção da constelação de Centauro. O túnel é uma espécie de braço que se destaca no meio interestelar que é mais frio. A hipótese é que o túnel é a parte de uma rede mais ampla de gás quente que se estende por diferentes regiões. A rede seria sustentada pelas próprias estrelas que estão conectadas na rede.
A ideia dessa rede de gás quente conectando estrelas através de túneis no meio interestelar vem desde a década de 70. Apesar disso, dados mais sensíveis, como os do eRosita, são necessários para conseguir mapear essa rede. Por falta desses dados, a ideia da rede permanece como uma questão na Astronomia e agora o túnel na direção da constelação de Centauro pode ser uma das primeiras evidências.
Outras descobertas
Além da descoberta desse túnel, há um outro que está na direção da constelação de Cão Maior e conecta a Local Hot Bubble até a Nebulosa de Gum. Outra possibilidade é que esse túnel esteja, na verdade, conectando uma outra bolha chamada de GSH238+00+09. Nuvens moleculares mais densas também foram encontradas no estudo publicado.
Outra curiosidade é que o Sol não está há tanto tempo dentro da Local Hot Bubble e que começou a entrar na bolha há alguns milhões de anos. Isso bate com a estimativa que as supernovas também ocorreram nos últimos milhões de anos. Curiosamente, o Sol possui uma localização no centro da Local Hot Bubble que parece ser coincidência.