A onda de calor recorde em países do Hemisfério Norte chama a atenção para o impacto das temperaturas extremas na saúde humana. O termo que define essa situação é “estresse térmico“, identificado em pessoas expostas a ambientes acima de 35ºC, principalmente quando associados à alta umidade.
Esse quadro está relacionado a diversos problemas graves de saúde e, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), é umas das principais causas de morte relacionadas ao clima. Um estudo recente mostrou que apenas a onda de calor do ano passado está associada à morte de mais de 61 mil pessoas na Europa.
O número de pessoas expostas a ondas de calor tem crescido exponencialmente com o avanço das mudanças climáticas, em que eventos extremos estão mais frequentes e intensos. Na última semana, a temperatura global bateu recordes. O calor extremo tem impactado países de diferentes continentes nos últimos dias, como Marrocos, Japão, Itália e Estados Unidos, com temperaturas acima de 40ºC, com previsão de até 54ºC em um deserto norte-americano.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem destacado nos últimos anos que a exposição ao calor extremo é causadora de diversos sintomas e problemas. Também pode agravar condições de saúde de pessoas com diabetes, asma e doenças cardiovasculares, pulmonares, renais, endócrinas e psiquiátricas.
Segundo a agência de saúde, pessoas com doenças crônicas que precisam tomar medicamentos diariamente têm um risco maior de complicações e morte durante uma onda de calor. Esse risco também é maior para idosos, gestantes e crianças. Além disso, o calor excessivo aumenta o risco de acidentes e doenças infecciosas.
A insolação – quando a temperatura corporal ultrapassa os 40ºC – é um dos impactos mais evidentes, podendo levar até mesmo a desmaios, devido à incapacidade do corpo de balancear as altas temperaturas. Outros sintomas destacados pela OMS são inchaço nos membros inferiores, alergias, cãibras, dor de cabeça, erupção cutânea, irritabilidade, fraqueza e letargia.
Um ponto importante a ser observado é que os efeitos podem aparecer repentinamente. Por isso, especialistas destacam a necessidade de a população estar atenta a sintomas e tomar cuidados básicos, como evitar a exposição excessiva ao sol, hidratar-se com frequência e utilizar roupas leves e proteção solar, dentre outros. Além disso, no caso de insolação, é recomendado procurar um atendimento médico.
Indiretamente, outros impactos de ondas de calor podem afetar a saúde, como o aumento da transmissão de doenças infecciosas (como malária, dengue, cólera e tuberculose), a maior exposição a toxinas ambientais (como por meio da proliferação de algas, por exemplo), dentre outros. Além disso, essa situação pode levar à escassez de água e energia diante da alta demanda, o que também tem consequências sanitárias significativas.
Como reduzir os riscos? Médicos respondem
Algumas medidas podem reduzir os riscos à saúde em dias de altas temperaturas, com a hidratação, o uso de roupas leves e a opção por não se expor aos horários de calor mais extremo. Além disso, alguns sinais devem ser observados para que o quadro não se agrave.
Cardiologista do Hcor e médica do esporte, Cristina Milagre comenta que a vasodilatação causada pela alta temperatura tende a causar uma queda na pressão arterial, por exemplo, o que gera mal-estar, tontura e sensação de fadiga. “Se as pessoas não se hidratam direito, podem ter desidratação, gerando taquicardia”, completa.
O coração precisa “trabalhar” mais em dias quentes. No caso de pessoas com hipertensão ou alguma doença cardíaca, isso pode gerar uma maior sobrecarga. “Quanto maior a temperatura, maior o risco de complicação do calor no corpo, as pessoas podem se sentir mal até em repouso”, explica a médica.
A cardiologista destaca que um ponto chave é a hidratação. No caso de atividades físicas, a pessoa deve evitar esforços em altas temperaturas. A orientação é optar por horários em que o clima está ameno, pois o exercício causa um aumento da temperatura corporal. “O esforço intenso em temperatura muito elevada compromete a termorregulação do corpo, o que pode gerar até a perda de consciência”, explica.
Diretor da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), Eli Mansur destaca que os idosos e as crianças devem tomar cuidado em especial. Não só por ser uma população de maior risco, mas porque têm menos propensão a identificar que precisam se hidratar.
“Crianças e idosos não têm regulação térmica tão eficiente”, destaca. O médico afirma ainda que, quando em ambientes fechados, também é preciso estar atento à manutenção do ar condicionado e dos espaços, para evitar alergias.
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