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Manchas maiores que o Sol são detectadas em estrela gigante vermelha
Manchas solares, áreas escuras temporárias na superfície do astro, têm chamado a atenção dos cientistas há séculos. Elas surgem devido a intensos campos magnéticos gerados pelo movimento de materiais dentro do Sol e oferecem pistas sobre o que ocorre em seu interior. Regiões sombreadas similares também se formam em outras estrelas, onde são chamadas de manchas estelares.
Recentemente, pesquisadores analisaram o comportamento de uma estrela chamada XX Trianguli, uma gigante vermelha localizada a 630 anos-luz da Terra, na qual foram observadas supermanchas – manchas estelares de proporções gigantescas.
No caso do Sol, o aumento no número de manchas solares está diretamente ligado à intensificação da emissão de partículas carregadas em forma de jatos – o vento solar. Esse fenômeno pode afetar satélites, redes elétricas e até sistemas de comunicação na Terra. Como a atividade solar segue um ciclo previsível de aproximadamente 11 anos, isso permite o rastreamento antecipado desses eventos.
Atividade magnética de estrela gigante vermelha é irregular
Uma equipe composta por pesquisadores do Instituto Leibniz de Astrofísica de Potsdam (AIP) e do Centro de Pesquisa de Astronomia e Ciências da Terra de Budapeste, na Hungria, utilizou o telescópio robótico STELLA, situado em Tenerife, para monitorar a estrela XX Trianguli por 16 anos.
Com mais de 2.000 espectros de alta resolução, eles reconstruíram 99 imagens que mostram a evolução das manchas estelares entre 2006 e 2022, revelando que, ao contrário do Sol, cuja atividade magnética segue ciclos regulares, essa estrela apresenta um comportamento caótico. Isso sugere que o mecanismo responsável pelo movimento de materiais condutores em seu interior, conhecido como dínamo estelar, opera de forma desordenada.
As manchas de XX Trianguli são gigantescas, muitas vezes maiores do que a superfície inteira do Sol. Por isso, a estrela é referida como “a mais manchada do céu”.
Essas áreas também causam alterações visíveis na posição aparente do objeto. Normalmente, o “fotocentro” de uma estrela (o ponto central da luz que ela emite) coincide com seu centro geométrico. No caso de XX Trianguli, as manchas estelares deslocam o fotocentro em até 10% do raio estelar, o equivalente a um desvio de 24 microssegundos de arco no céu. Para efeito de comparação, isso é como deslocar um fio de cabelo visto a mil quilômetros de distância.
Além de ajudar a entender a dinâmica interna de estrelas gigantes, essa pesquisa, publicada na revista Nature Communications, também destaca a importância de termos uma estrela relativamente estável, como o Sol, para sustentar a vida na Terra. Enquanto a atividade solar pode ser prevista, estrelas como XX Trianguli apresentam desafios para o estudo do Universo.