MUNDO
‘Marinette’, último barco da Flotilha de Gaza, desafia bloqueio, mas é interceptado

O último barco da flotilha Global Sumud, que busca romper o bloqueio marítimo imposto por Israel à Faixa de Gaza e entregar ajuda humanitária à população palestina, navegava em direção ao enclave nesta sexta-feira, 3, segundo os organizadores, mas foi interceptado.
‘Marinette’, o último barco restante da Flotilha Global Sumud, foi abordado às 10h29 no horário local (4h29 em Brasília), a cerca de 68 km de Gaza, declarou a organização em suas redes sociais.
“O Marinette ainda está navegando”, escreveram os membros da flotilha na noite de quinta-feira nas redes sociais. “Ele sabe o que o espera”, disse a organização na postagem.
“Se ele se aproximar, sua tentativa de entrar em uma zona de combate ativa e quebrar o bloqueio também será impedida”, havia alertado o Ministério das Relações Exteriores de Israel na quinta-feira.
Nos dois últimos dias, “as forças navais da ocupação israelense interceptaram ilegalmente nossos 42 barcos — cada um transportando ajuda humanitária, voluntários e a determinação de romper o cerco ilegal imposto a Gaza”, acrescentou a ONG.
Mais de 400 ativistas a bordo de 41 navios foram presos na noite desta quinta-feira (3), incluindo pelo menos 12 brasileiros, que estão a caminho de Israel, segundo o Ministério das Relações Exteriores israelense. De acordo com a ONG Repórteres Sem Fronteiras, pelo menos 20 jornalistas foram presos.
A operação durou mais de 12 horas, de acordo com as autoridades israelenses, e os detidos foram “transferidos com segurança para o porto de Ashdod, onde serão atendidos pela polícia israelense.”
Em nota publicada nesta quinta, o Itamaraty condenou a detenção dos brasileiros.
“O governo brasileiro deplora a ação militar do governo de Israel, que viola direitos e põe em risco a integridade física de manifestantes em ação pacífica. No contexto dessa operação militar condenável, passa a ser de responsabilidade de Israel a segurança das pessoas detidas”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores.
Diplomatas devem visitar os ativistas nesta sexta-feira.
Israel anunciou que os passageiros, todos “sãos e salvos”, seriam deportados para a Europa.
“Missão humanitária”
A flotilha Global Sumud, composta por 45 barcos e incluindo personalidades e ativistas como a sueca Greta Thunberg, partiu da Espanha em setembro para quebrar o bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza e se apresenta como uma “missão de ajuda humanitária pacífica e não violenta”. Greta estava a bordo do navio Alma e foi presa no dia 1º de outubro.
Na noite de quarta-feira, a Marinha israelense começou a interceptar os barcos após alertar as tripulações de que estavam entrando em águas sobre as quais Israel reivindica controle. “Soldados e comandantes navais cumpriram sua missão no Yom Kippur da maneira mais profissional e eficaz”, disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em comunicado.
A Global Sumud (“resiliência” em árabe) denunciou “um ataque ilegal” ocorrido em águas internacionais e classificou como “ato de intimidação” por parte de Israel. Onze participantes gregos entraram em greve de fome para protestar contra sua “detenção ilegal”, de acordo com os organizadores da flotilha.
O movimento islâmico Hamas, cujo ataque a Israel em 7 de outubro de 2023 desencadeou a guerra na Faixa de Gaza, considerou a interceptação como um “crime de pirataria”.
Reações internacionais
A Turquia acusou Israel de cometer “um ato de terrorismo”. O presidente colombiano, Gustavo Petro, anunciou a expulsão da delegação diplomática israelense de seu país.
Itália e Espanha enviaram navios militares para escoltar parte da rota da flotilha após “ataques de drones” na noite de 23 para 24 de setembro, denunciados pela ONU e pela União Europeia.
Em junho e julho, a marinha israelense já havia interceptado dois veleiros com destino a Gaza, com Greta Thunberg e Rima Hassan a bordo. Ambas foram desembarcadas em Israel e depois deportadas.
