Não é de hoje que a atriz Jacqueline Sato se dedica a questões ambientais e de proteção animal. A verdade é que essa conexão com o planeta e com tudo o que o faz viver existe desde que ela era bem pequena, talvez por influência da mãe, uma entusiasta da natureza.
Ela tinha nove anos quando resgatou, pela primeira vez, um gatinho abandonado. Levou o bicho para a casa, e os pais aprovaram, desde que ele fosse doado assim que possível. “Ele era muito pequenininho, então minha mãe pediu para que eu buscasse a mãe dele, pois ele ainda precisava dela. Não achei a mãe, mas achei seus sete irmãos, e levei todos para casa”, conta.
Jacqueline detalha, em entrevista exclusiva a Planeta, a primeira vez que ouviu sobre a existência de animais em extinção. Ela era criança, estava no primário e ficou incrédula. “Como assim ninguém está fazendo nada sobre isso?”, pensou, à época.
Hoje, Jacqueline tem a ONG House of Cats, uma Associação de Proteção Animal que já uniu 2.500 gatos resgatados e adotantes. Além da organização, ela é embaixadora do Greenpeace e participa de ações específicas de dez outras organizações de proteção ambiental e animal.
No entanto, aquele pensamento que martelou sua cabecinha de menina continua ecoando até hoje: “As pessoas continuam vivendo como se o planeta não fosse acabar, como se elas não tivessem responsabilidade”, diz.
A escalada da mudança
A vontade de mudar o mundo começou de dentro para fora na vida de Jacqueline, sempre com referências familiares que a estimulavam. O avô dela não matava formiga, achava que tinha de deixar o bichinho viver, e ela foi crescendo num ambiente em que se amava desde a cachorrinha até a joaninha.
A separação do lixo reciclável é prática da família, e Jacqueline não só segue à risca até hoje como tenta influenciar quem está ao redor a fazer o mesmo. “Os hábitos alimentares, no entanto, ainda não consegui convencer minha família a mudar. Sou a única que não come carne vermelha, nem frango – só como peixe, e muito raramente. Reduzi o consumo de produtos de origem animal, e tento dialogar com frequência com as pessoas sobre a importância de mudar os hábitos”, ela explica.
“Às vezes sou até um pouco chata, porque bato nessa tecla. Explico que a decisão de mudar tem que começar com cada um de nós. Acho que a maior parte das pessoas só não é mais sustentável porque não tem noção de que um pequeno hábito pode gerar uma grande mudança. Os que sabem e não estão nem aí, bom, esses são casos perdidos.”
Jacqueline começou sua jornada sustentável com a reciclagem, depois avançou para a mudança alimentar – o que ela considera sua primeira grande atitude.
Da alimentação à moda, da moda à limpeza
A atriz conta, ainda, que a conscientização é uma porta que quando se abre não se fecha mais. A tendência é que se abra cada vez mais, e foi o que aconteceu com ela. Depois de entender os malefícios do consumo de carne vermelha e banir esse tipo de alimento de sua dieta, passou a olhar para como a moda, algo de que gostava muito, também poderia ser mais sustentável.
“Fui estudar e descobri que muitas peças que não são vendidas acabam queimadas. Não faz o menor sentido, fora um monte de lixo gerado pelo fast fashion. Isso mudou minha forma de lidar com a moda. Comecei a ter escolhas mais conscientes na hora de comprar roupas, como escolher marcas sustentáveis e biodegradáveis. Ainda assim, sei que essas lojas são poucas. Então, opto por marcas de slow fashion em vez das lojas de fast fashion”, afirma.
Além disso, Jacqueline conta que tem optado pela lógica de peças compartilhadas – marcas que trabalham alugando roupas. “São várias tentativas de ver a moda de forma mais equilibrada sem deixar de me vestir bem, de me expressar, mas colocando no mundo uma imagem condizente com minhas atitudes, e não a de uma consumidora desenfreada. É isso que a indústria e o capitalismo querem da gente, que a gente consuma sem parar.”
E aí, vai virando uma bola de neve: parei de usar descartáveis no meu dia a dia – sempre carrego minha garrafinha de metal, meu copo para café e meus talheres – e tento diariamente reduzir toda quantidade de lixo que gero. Não uso sacolas plásticas, e também comecei a entender quais produtos de limpeza não poluentes escolher
“Até porque, de que adianta limpar minha casa se o produto que uso para limpá-la está sujando o mundo?”
Colaboração com ONGS
Fora as ações e escolhas diárias, Jacqueline é ativista. Se tornou embaixadora do Greenpeace após começar a divulgar as petições criadas pela organização, e participa pontualmente de ações de outras organizações. Tudo isso concomitantemente à gestão da sua ONG de gatinhos, a House of Cats.
Segundo a atriz, o convite do Greenpeace chegou durante a pandemia de coronavírus, e ela foi chamada inicialmente para juntar pessoas interessadas na causa ambiental. “A ideia era divulgar hashtags e petições, e eu aceitei ser aliada deles nessa parte”, conta.
Mas esse contato foi crescendo até a artista se tornar embaixadora da ONG. Hoje, ela trabalha assiduamente com a divulgação, sendo porta-voz de muitas ações e colaborando em roteiros, criação e edição. Já foi com a organização para a Amazônia, momento marcante para ela, conscientizar madeireiros sobre o problema da extração ilegal de madeira. “As comunidades vieram para o lado da solução e hoje protegem a floresta. A verba que recebem hoje vem do artesanato e turismo, são famílias que hoje têm escola, internet. A vida dessas pessoas mudou infinitamente, e ver isso de perto é gratificante.”
Aos 35 anos, à frente de trabalhos no streaming e com a missão de também espalhar sua descendência asiática pela arte brasileira, Jacqueline sabe que, sem a preservação, nada mais faz sentido.
“É imprescindível pensar em mudar o mundo. Você sozinho vai mudar? Não. Mas se todo mundo pensar que não é suficiente para mudar, a gente só vai cair cada vez mais. Então, eu acredito, sim, na força do indivíduo. Tem hora que desanima, que me sinto sozinha, mas quando aparece alguém lutando pela mesma causa, me dá força. Acho que a empatia é o que nos falta para mudar o mundo, que falta humildade na humanidade, e que se as pessoas carregassem um pouco mais de empatia e humildade, a gente estaria mais à frente nesse negócio de mudar o mundo.”