MUNDO
Pinturas em túmulo de 3.000 anos mostram evidências de que a galáxia estava sendo representada

Pesquisas recentes indicam que os antigos egípcios podem ter retratado a Via Láctea em artefatos funerários com mais precisão do que se imaginava. Estudo publicado no Journal of Astronomical History and Heritage analisa representações da deusa celeste Nut (nwt) — frequentemente ilustrada como uma figura arqueada cobrindo o céu — presentes em sarcófagos da 21ª e 22ª dinastias (1077–716 a.C.). Em especial, uma curva ondulante e escura atravessando o corpo da divindade, observada no caixão de Nesitaudjatakhet, foi interpretada como uma possível referência à Fenda da Via Láctea, uma faixa de poeira interestelar que divide nossa galáxia.
A análise foi conduzida por Or Graur, professor de astrofísica no Instituto de Cosmologia e Gravitação da Universidade de Portsmouth, que examinou um catálogo de 555 elementos decorativos, incluindo 118 com “vinhetas cosmológicas”. Segundo Graur, esse traço ondulado não é um caso isolado: curvas semelhantes aparecem nos tetos astronômicos das tumbas de Seti I e dos faraós Ramessés IV, VI e IX. Para o pesquisador, essas imagens podem constituir as primeiras representações visuais da Via Láctea da história — evidência não apenas de sofisticação artística, mas também de um olhar cosmológico apurado.
“Estou interessado em como diferentes culturas ao longo do tempo conceberam a Via Láctea e a integraram em suas religiões, mitologias e culturas”, afirmou Graur em entrevista ao Hyperallergic. Ele acredita que essas representações artísticas ajudam a reconstituir a percepção do céu por civilizações antigas e revelam uma sensível convergência imagética entre culturas distantes. No caso do Egito, trata-se de uma fusão entre arte, mitologia e astronomia que transcende o tempo — e que reforça a função estética e simbólica da arte como elo entre o visível e o infinito.
