Apesar de Donald Trump ser conhecido internacionalmente por sua posição anti-imigração, pois propôs a construção de um muro na fronteira entre o México e os EUA, se envolveu em diversas polêmicas com falas racistas e preconceituosas contra imigrantes durante a campanha eleitoral de 2024 e prometeu exportar todos os moradores ilegais do país caso eleito, o novo presidente dos Estados Unidos bateu recordes entre eleitores latinos.
Segundo uma pesquisa de boca de urna conduzida pela Edison Research com 22 mil pessoas para os veículos ABC News, CBS News, CNN e NBC News com eleitores hispânicos após a votação, Trump teve um aumento de 14 pontos entre os latinos, em relação a 2020. Com o apoio de 46% dos hispânicos, ele bateu o recorde para um candidato presidencial republicano, antes estabelecido por George W. Bush, em 2004, quando o candidato teve 44% dos votos do grupo.
Os resultados do levantamento são preliminares, e a margem de erro é de 2 pontos percentuais.
Continua depois da publicidade
Historicamente, latinos votam mais no Partido Democrata, sigla de Kamala Harris, do que no Republicano, de Donald Trump. Em 2012, por exemplo, Barack Obama recebeu 71% dos votos hispânicos.
Entretanto, esse número tem diminuído nos últimos quatro ciclos presidenciais: Hilary Clinton, em 2016, recebeu 66% de votos do grupo, e Joe Biden, em 2020, 65%. Neste ano, Kamala teve desempenho bem inferior ao de Biden com eleitores hispânicos em todos os estados, com exceção de Wisconsin.
Os motivos para a mudança nos últimos 16 anos parecem se dividir entre a economia, em especial preocupação com inflação e custos mais altos de vida, e as razões culturais. Além disso, o apoio latino varia muito de acordo com o gênero: 55% dos homens latinos votaram em Trump em 2024, enquanto 43% apoiaram a democrata. Já entre as latinas, 60% votaram em Kamala, e uma parcela muito menor, cerca de 38%, no republicano.
Economia e o “sonho americano”
Mesmo que a maior parte dos latinos preferissem Kamala para proteger os direitos dos imigrantes e lidar com questões de aborto, por exemplo, uma pesquisa da NBC de setembro deste ano já destacava: os eleitores latinos são mais propensos do que o eleitorado geral a citar a economia e o aumento do custo de vida como principais prioridades.
“A campanha de Trump entendeu esse fenômeno melhor do que os democratas, vendo os latinos como trabalhadores americanos de classe média e não exclusivamente como um grupo identitário. Até porque, embora orgulhosos de suas raízes, são famílias que deixaram suas terras natais, embora em alguns casos de maneira involuntária, para seguir suas vidas nos Estados Unidos”, analisa Rodrigo Costa, especialista em imigração.
Sob o governo Biden, os latinos obtiveram ganhos em cobertura de saúde, propriedade de casa, participação no mercado de trabalho de forma bastante similar ao período de gestão de Trump, afirma um levantamento do Poynter Institute for Media Studies, organização de pesquisa de São Petersburgo, na Flórida (EUA).
Mesmo assim, a insatisfação com o governo democrata persistiu. Para a Equis, organização de pesquisa sobre eleitores latinos, as impressões sobre a economia foram forjadas ainda na era da pandemia, especialmente para os latinos conservadores e alguns moderados. Houve um apoio muito elevado à posição de Trump sobre a reabertura da economia e a vida sem medo da Covid-19.
Além disso, analisa o especialista em imigração Rodrigo Costa, os latinos fazem parte de um eleitorado que preza bastante por valores familiares e que acredita no chamado sonho americano.
“Muitos deles fugiram de regimes de esquerda em países como Venezuela, Cuba e Nicarágua e sentem que o Partido Democrata não confronta adequadamente esses governos. E o discurso de Trump de chamar os democratas de socialistas também reforça esse imaginário”, finaliza.
Propaganda