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Quem é Marina Lacerda, brasileira que revelou ter sido vítima de Jeffrey Epstein

A brasileira Marina Lacerda, de 37 anos, decidiu tornar pública sua identidade e história como uma das vítimas do bilionário americano Jeffrey Epstein, condenado por crimes sexuais e encontrado morto em uma prisão nos Estados Unidos em 2019.
Nascida em uma família humilde, Marina vivia em Nova York quando, aos 14 anos, foi aliciada por uma amiga do bairro de Astoria, no Queens, com a promessa de ganhar US$ 300 para fazer massagens em um homem. Ela vivia com a mãe e a irmã em um quarto, e trabalhava para sustentar a família.
O que parecia uma oportunidade se transformou em um ciclo de abusos, relatou. “Com Jeffrey Epstein, começa em algum lugar, mas depois termina com você fazendo sexo com ele, goste ou não disso”, disse em entrevista à emissora norte-americana ABC News.
Marina contou que, nos primeiros anos, recebeu milhares de dólares de Epstein, chegando a abandonar os estudos, acreditando que essa proximidade poderia trazer melhores oportunidades. “Foi do trabalho dos sonhos ao pior pesadelo”, resumiu. Aos 17 anos, foi dispensada pelo bilionário sob a justificativa de que já estava “velha demais”.
Identificada nos processos como “vítima menor número 1”, Marina já havia colaborado com a Justiça em outras fases da investigação, mas sua identidade só foi revelada recentemente. Em 2008, o FBI chegou a procurá-la, mas, segundo ela, Epstein providenciou um advogado e o caso não avançou. Em 2019, a brasileira voltou a ser ouvida, e seu depoimento foi considerado crucial para a prisão do bilionário.
Nesta quarta-feira, 3, Marina se uniu a outras oito mulheres em frente ao Congresso americano, em Washington, pedindo a divulgação integral dos documentos relacionados ao caso. “É algo não só pelas vítimas, mas para o povo americano”, disse na ocasião.
A brasileira se emocionou ao contar que compartilhou com a filha a violência que sofreu. “Mas ela é tão pequena e tão ingênua que ela falou tipo: ‘Mãe, você é casca-grossa’”.
Pressão política
O ato em Washington pressiona o governo dos Estados Unidos, especialmente o presidente Donald Trump, que foi próximo de Epstein por cerca de 15 anos, na década de 1990. Trump tem evitado apoiar integralmente a divulgação dos documentos, alegando que eles não trariam novas revelações. Questionado sobre o assunto, disse se tratar de “uma farsa democrata que nunca acaba”.
O movimento em apoio às vítimas, entretanto, tem apoiadores democratas e republicanos, que exigem que os documentos sejam revelados, ainda que tenham ideologias partidárias opostas.
Apesar das pressões políticas e da exposição midiática, Marina reforça que sua decisão de revelar seu rosto e nome tem como propósito apoiar outras vítimas e impedir que histórias como a sua se repitam.
Quem foi Jeffrey Epstein
Jeffrey Epstein foi um financista americano que construiu uma rede de conexões poderosas com empresários, políticos e celebridades. Em 2008, chegou a ser condenado por exploração sexual de menores, mas cumpriu apenas 13 meses de prisão em regime especial.
Em 2019, foi preso novamente, acusado de liderar um esquema de tráfico sexual que envolvia dezenas de meninas, algumas menores de idade. Um mês depois, foi encontrado morto em sua cela em Nova York por suicídio, antes de ser julgado. O caso se tornou um dos maiores escândalos de abuso já registrados nos EUA.
