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Reunião entre Irã e europeus na Suíça pode definir futuro da guerra com Israel

“Como há possibilidade de negociações com o Irã num futuro próximo, tomarei minha decisão sobre participar ou não nas próximas duas semanas”, declarou o presidente americano na noite desta quinta-feira, 19. “Se houver uma chance para a diplomacia, o presidente a aproveitará. Mas ele também não tem medo de recorrer à força”, acrescentou sua porta-voz Karoline Leavitt, destacando a urgência diante do avanço do programa nuclear de Teerã.
Os iranianos “precisam apenas de uma decisão do guia supremo e levaria cerca de quinze dias para concluir a produção de uma arma atômica” no país, explicou.
Nesta sexta, o Irã descartou qualquer negociação com os Estados Unidos enquanto o Exército israelense continuar seus ataques ao país. A declaração foi feita pelo chanceler iraniano, Abbas Araghchi, em entrevista à televisão estatal transmitida nesta sexta-feira.
“Os americanos enviaram várias mensagens pedindo negociações. Mas deixamos claro que, enquanto a agressão não parar, não haverá espaço para a diplomacia e o diálogo”, afirmou Araghchi.
Os ministros das Relações Exteriores da Alemanha, da França e do Reino Unido se reunirão na tarde desta sexta-feira em Genebra com Araghchi com o objetivo de “retomar o diálogo para alcançar um acordo sólido e sério”.
“É uma reunião extremamente importante”, declarou Christophe Lemoine, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores francês, ao canal CNews.
“O programa nuclear iraniano é um tema que ocupa a diplomacia há 20 anos”, lembrou ele. “É um assunto sério e a história mostra que a única maneira de obrigar um país a respeitar seus compromissos no âmbito do Tratado de Não Proliferação (TNP) é a via diplomática”, disse.
“As soluções militares não são soluções de longo prazo”, insistiu, acrescentando que a comunidade internacional não pode “correr o risco de operações militares que poderiam sair do controle em uma região que já um barril de pólvora”. Lemoine sentencia que “o Irã é um país desestabilizador” e “o programa nuclear e balístico são ameaças reais”, mas reitera que a via diplomática continua sendo o caminho a seguir.
Araghchi, fará um discurso nesta no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra. Segundo o site oficial do Conselho, o chanceler iraniano discursará por cerca de dez minutos a partir das 13h (GMT). Pouco antes, o embaixador de Israel na ONU em Genebra, Daniel Meron, concederá uma entrevista coletiva à imprensa, informou a organização.
“Retorno à via diplomática”
O fato de Washington estar temporizando sobre sua eventual intervenção pode abrir possibilidades para avanços diplomáticos. “Existe agora uma janela nas próximas duas semanas para alcançar uma solução”, afirmou o ministro britânico das Relações Exteriores, David Lammy, após um encontro com o secretário de Estado americano Marco Rubio.
Lammy anunciou que também viajará nesta sexta-feira à Suíça para participar da reunião entre os líderes europeus e o chefe da diplomacia iraniana Abbas Araghchi.
Segundo a imprensa oficial no Irã, houve uma tentativa de assassinato frustrada contra Araghchi.
“Sem as medidas de segurança dos serviços de inteligência da pátria, o grande complô israelense contra ele poderia ter sido executado há alguns dias em Teerã, e, graças a Deus, foi frustrado”, declarou no X um conselheiro do ministro, Mohammad Reza Ranjbaran.
Novos ataques
Nesta sexta-feira, um drone lançado do Irã foi interceptado na região de Haifa, no norte de Israel, segundo o Exército. O governo iraniano fez um apelo no X para que a população se retirasse dos arredores de uma zona industrial no norte do país antes de um “ataque contra uma infraestrutura militar”. As autoridades locais relataram uma explosão na zona industrial de Rasht, no norte do Irã.
Desde 13 de junho, “mais da metade” dos lançadores de mísseis iranianos foram destruídos, declarou na quinta-feira o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, repetindo que Teerã representa para seu país “duas ameaças existenciais: a nuclear e a dos mísseis balísticos”.
Apesar de ter dito que “toda ajuda é bem-vinda”, o primeiro-ministro garantiu que o país tem capacidade de “atingir todas as instalações nucleares iranianas”. Embora mantenha a ambiguidade sobre sua posse de armas atômicas, Israel possuiria 90 ogivas nucleares, segundo o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri).
Mas os Estados Unidos são os únicos a possuir a bomba GBU-57, capaz de atingir áreas subterrâneas da usina de enriquecimento de Fordo, ao sul de Teerã, onde se desenvolve o programa nuclear iraniano.
Os ataques israelenses causaram pelo menos 224 mortes no Irã, segundo um balanço oficial. Em Israel, os mísseis e drones iranianos deixaram 25 mortos até agora.
Irã nomeia novo chefe de inteligência
O Irã nomeou nesta sexta-feira um novo chefe de inteligência da Guarda Revolucionária, o general de brigada Majid Khadami, que substituirá Mohammad Kazemi, morto no domingo por um ataque israelense, informou a agência oficial Irna.
As autoridades iranianas também impuseram na quinta-feira um corte total da internet há 24 horas, de acordo o órgão de monitoramento NetBlocks, em Londres. É o corte mais longo desde novembro de 2019, quando o país enfrentava manifestações violentamente reprimidas pelo governo iraniano.
