POLÍCIA
Analfabeto era dono de empresa usada em tráfico de armas para PCC e CV
Um trabalhador rural analfabeto de 55 anos é “dono” de uma empresa de fachada no DF usada em um esquema de tráfico internacional de armas de fogo. Investigação da Polícia Federal (PF) indica que uma empresa do Paraguai traficava armas de fogo do leste europeu e da Turquia para as duas principais facções criminosas do Brasil.
Os líderes do grupo, o casal Diego Hernan Dirisio e Julieta Vanessa Nardi Aranda, estão foragidos há mais de um mês. Outras 26 pessoas foram alvos de operação da PF em 5 de dezembro, batizada de Dakovo. Várias empresas no Brasil, Paraguai e Estados Unidos foram usadas em um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro do tráfico de armas, de acordo com a PF.
Segundo investigação da PF, o nome de Raimundo Nascimento Pereira aparece como sócio da Bravo Brasil Iphones Ltda, que funcionaria em Águas Claras, em Brasília (DF).
A conta dessa empresa era usada para realizar o pagamento de valores do tráfico de armas e drogas, segundo a PF, e teria sido operada por Angel Flecha, apontado como um dos intermediadores da venda das armas para o PCC e CV.
Laranja e de fachada
Para a polícia, essa Bravo Brasil é uma empresa de fachada e que possui um sócio (Raimundo) de “laranja”. Uma outra empresa verdadeira funciona no endereço apontado no cadastro da Bravo Brasil. Não há nenhum funcionário contratado com carteira assinada na Bravo, mesmo tendo movimentado pelo menos centenas de milhares de reais.
Além disso, chamou a atenção da polícia o histórico de Raimundo, o único sócio da Bravo Brasil. Ele trabalhou como doméstico e trabalhador agropecuário entre 2007 e começo de 2023.
Além disso, ele aparece como analfabeto em seus dados trabalhistas, não possui CNH ou veículos. Por fim, Raimundo recebeu auxílio emergencial de R$ 600 durante a pandemia da Covid-19 em 2020. Tudo isso é indício de que ele era “laranja”, segundo a PF.
Lavagem de dinheiro com CNPJs
Além da Bravo Brasil Iphones, Raimundo também aparece como sócio de outra empresa, criada no mesmo dia em 2021, chamada Bravoshop Plataforma de Vendas Online Ltda. Segundo a PF, essa empresa também era usada no esquema para movimentar grana do tráfico de armas.
No caso da Bravoshop, havia um outro sócio, o servidor do Ministério Público Federal Wagner Vinicius de Oliveira Miranda. Ele é investigado por suspeita de envolvimento no esquema de tráfico de armas e foi afastado de suas funções. Atualmente, Wagner não consta mais como sócio na Receita Federal.
Em 20 de julho de 2022, por exemplo, ele depositou R$ 50 mil em espécie na conta da empresa de fachada Bravo Brasil. Já em 24 de outubro do mesmo ano, ele depositou R$ 100 mil em espécie na mesma conta.
A reportagem tenta contato com representantes de Raimundo, Julieta, Diego, Angel e Wagner. O espaço segue aberto.