POLÍCIA
Delegado no Acre acusa prefeito de perseguição: “Prejudicando a sociedade”
No município de Feijó, no interior do Acre, três funcionários que eram cedidos da Prefeitura para a Delegacia do município foram retirados pelo prefeito Kiefer Cavalcante. Segundo o delegado Railson Ferreira, isso se deve por uma perseguição do prefeito com o delegado, além da ausência dos servidores prejudicarem os serviços prestados à comunidade.
“Sem vaidade, eu tenho certeza que em 2021/2022, a delegacia de Feijó foi a que mais produziu em geral, não isolado, mas no geral somos nós. O ano passado a gente começou a sair um pouco daquela linha de prender traficante e aqueles que furtam, que são da classe baixa. Não estou justificando, são crimes que devem ser punidos e com rigor, só que a gente resolveu dar uma mudada, porque estamos no mundo para fazer mudança”, explica.
O delegado conta que resolveu trabalhar os crimes contra a administração pública. “Se você servir só para prender pobre, você não tem valor nessa vida. Essa é a concepção que eu tenho, foi para isso que eu estudei. Acho que todos devem, contudo os ricos, serem punidos porque eles têm liberdade de escolha, o pobre tem, mas é bem reduzida”.
Em 2022, a delegacia iniciou as atividades investigativas contra a Prefeitura e cumprimos alguns mandados de busca. “Em razão disso, a gente começou a sofrer um boicote por conta do prefeito, que deveria se colocar à disposição dos órgãos de fiscalização, Ministério Público, polícia e ele vem com toda a estrutura dele contra a gente”, disse.
O delegado contou ao ContilNet que em 2022, ele foi proibido, indiretamente, de ir às rádios da cidade. “Toda semana eu costumava ir à rádio, falar com a população, levar o que a gente faz, o que a gente precisa fazer, onde a gente ia, dar o recado para zona rural. Aqui a gente trabalha muito a polícia comunitária, de ir ao local, entender a conversa e atender o público. Aqui em Feijó as pessoas não viam delegado fazer isso. Eu passei um bom tempo, até que surgiu um programa independente e eu pude ir”, explicou.
Retirada dos funcionários
Com relação aos funcionários que foram devolvidos para a Prefeitura, o delegado contou que em dezembro de 2022, o prefeito retirou dois funcionários, um que ajudava no cartório fazendo TCO e atendimento Maria da Penha, o outro ajudava no gabinete, visto que o delegado não tem escrivão.
“Ele me ajudava a fazer nas representações, seja uma delegacia que mais prende, independente de Rio Branco, capital ou interior, delegacia que mais em prisão a gente é recorde. Um dos funcionários me ajuda muito nas representações. Eu ajudo o Gabriel com uma bolsa de R$800,00. Eu não posso abrir mão dele, do outro infelizmente eu não pude pagar”, disse.
Uma servidora que cuida da questão da emissão de identidade, agora vai cuidar do RG, apesar de ser um documento apenas, com o número do CPF, mas os procedimentos seguem sendo dois. “Essa moça que trabalhava conosco, ela estava há 19 anos aqui. Para você trabalhar nessa área, tem que fazer curso. Ela foi capacitada para essa nova identidade, as pessoas vieram, fizeram a capacitação nela para esse novo atendimento do RG nacional”, explica.
“Ela está há 19 anos conosco, é uma servidor exemplar e daí ele resolveu tirar ela, eu não tenho ninguém habilitado para isso e se eu não conseguir colocar alguém que eu estou correndo atrás, a população vai ficar sendo um documento básico de cidadania que é o RG e agora o CPF que vai ser feito por aqui também. Já é tão caro. É R$200,00 e poucos um RG novo e demora muito, aí a população já paga caro, demora muito e não vai ter ninguém para fazer porque eu não tenho ninguém para colocar. Só que a gente está buscando uma solução para que a população não fique à deriva”, disse ao ContilNet.
Railson Ferreira fala que essas retaliações começaram a acontecer desde o ano passado, quando foram cumpridos mandados de busca em outubro de 2022. A investigação é sobre corrupção, lavagem de dinheiro, peculato e outros. “Ele como Servidor Público, ele é pago para isso, ele deveria colocar a prefeitura à disposição da investigação. Ele deveria valorizar, porque são polícias – PM e polícia civil – extraordinárias e a gente modificou a realidade da segurança pública e região. A gente conseguiu levar para a cadeia e para o Ise, nesses dois anos, aproximadamente 500 pessoas encarceradas e numa cidade com mais ou menos de 40 mil habitantes. Isso significa que as políticas públicas não estão funcionando. Infelizmente, a gente prende quando todo o sistema falhou. E aí vem a gente prende”, explicou.