POLÍCIA
Fuzil é apreendido durante operação na casa de Washington Reis
A ação da Polícia Federal e da Controladoria Geral da União (CGU) na casa de Washington Reis (MDB), ex-prefeito de Duque de Caxias e candidato a vice-governador do RJ na chapa de Cláudio Castro (PL), teve um fuzil apreendido.
Segundo apurou a TV Globo, um segurança de Reis apresentou um registro para a arma. Os agentes também estiveram na casa do ex-secretário de saúde de Caxias José Carlos de Oliveira, onde foram apreendidos R$ 700 mil.
Em nota, o ex-secretário disse que nunca foi alvo de investigação quando esteve à frente da pasta e que, no período, inaugurou importantes serviços de saúde em Caxias (veja a íntegra mais abaixo).
Sobre o fuzil, Reis afirma que a arma, de calibre 556, foi encontrada no veículo da equipe de segurança. Ele diz que o fuzil “está acautelado oficialmente, protocolado e legalizado junto à Polícia Militar”.
O armamento, ainda de acordo com Reis, “foi liberado para uso da escolta policial do deputado estadual Rosenverg Reis”.
Operação Anáfora
Ex-prefeito de Caxias,Washington Reis, é alvo de operação de desvio da saúde
Washington Reis foi um dos alvos da Operação Anáfora, deflagrada nesta quinta-feira (1º). A força-tarefa da PF e da CGU investiga um suposto favorecimento na contratação de uma cooperativa de trabalho pela Secretaria de Saúde de Caxias.
Agentes saíram para cumprir 27 mandados de busca e apreensão, expedidos pela 6ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, nos municípios de Duque de Caxias (3), Maricá (1), Angra dos Reis (2), Mesquita (1), Niterói (1), Nova Iguaçu (1) e na capital (18).
Washington Reis e Cláudio Castro — Foto: Reprodução
O contrato e aditivos ultrapassaram R$ 563,5 milhões em pouco mais de dois anos.
Dinheiro encontrado na casa de ex-secretário de Caxias — Foto: Divulgação
Também foi alvo Mário Peixoto, denunciado pelo MPF após a Operação Favorito, de maio de 2020. O empresário é apontado pela Justiça como beneficiário no esquema de corrupção do governo Wilson Witzel – que sofreu um impeachment com pouco mais de um ano de governo.
Operação da PF investiga cooperativa de uma quadrilha que desvia dinheiro público há anos em Caxias
O que dizem os citados
O governador e candidato à reeleição ao Governo do Estado, Cláudio Castro, disse, através de nota, que respeita o trabalho da PF da CGU, e aguarda os desdobramentos da operação.
Já a defesa de Mário Peixoto disse que a operação “causa perplexidade” e negou as acusações.
Íntegra da nota de José Carlos de Oliveira:
Dr. José Carlos de Oliveira é médico há mais de 35 anos e foi secretário de saúde de Duque de Caxias durante 4 anos, neste período inaugurou importantes serviços de saúde, tais como: Hospital do Olho, Maternidade de Santa Cruz da Serra, Hospital São José, dentre outros, deixando um verdadeiro legado para o município;
Durante todo o período em que foi secretário de Saúde Dr. Zé Carlos nunca foi alvo de investigação por sua atuação como secretário;
Ocorre que agora o Dr. Zé Carlos é candidato ao cargo de Deputado Estadual ecoincidentemente, somente agora, foi alvo de um truculento mandado de busca e apreensão, tendo seus direitos mais fundamentais atingidos, com erros graves na atuação policial, chegando ao absurdo de impedir a presença de um advogado ao ato.
A defesa comunicará a OAB a ofensa a sua prerrogativa, nos termos previstos na Constituição Federal e no Estatuto da OAB;
Dr. Zé Carlos não tem nenhum envolvimento com as empresas ou pessoas objeto da investigação, tendo seu nome envolvido apenas em razão do cargo que exerceu;
Nesta ação truculenta foram apreendidos celulares, computadores e apesar dos documentos comprovando a origem do dinheiro, foram apreendidos recursos financeiros objeto de venda de propriedades, bem como da atividade pecuária e equinocultura, as quais tem se dedicado após deixar a vida publica;
Apesar da perseguição sofrida Dr. Zé Carlos não se intimidará e continuará fazendo aquilo que mais ama, cuidar de gente!”
Íntegra da nota de Mario Peixoto:
“A operação de hoje causa perplexidade, mais uma vez, pela quantidade de erros graves contidos na representação policial que originou a decisão de busca e apreensão. Mario Peixoto não possui nenhuma relação com a cooperativa RENACOOP. Nunca sequer entrou em suas dependências.
Peixoto conhece Washington Reis, mas não mantém com ele elo pessoal, profissional ou comercial. Mario jamais integrou ou foi proprietário da Cootrab. Da Atrio, foi sócio até 2014.
Ao que consta, a Fazenda Paraíso pertence ao Município de Duque de Caxias e realiza atividades de tratamento de dependentes de drogas, não havendo vínculo algum com Mario Peixoto.
Enfim, um total absurdo. Violência jurídica que resvala na perseguição”.
Indícios apontados pela CGU
A investigação da CGU verificou diversos fatos que apontam para o direcionamento de licitação e favorecimento da instituição contratada:
- opção por pregão presencial em vez de eletrônico;
- inserção de cláusulas restritivas no edital;
- falta de clareza na definição dos serviços e quantitativos objeto da contratação;
- descumprimento de cláusulas.
Também foi constatado um sobrepreço aproximado de R$ 53,6 milhões na planilha de composição de custos dos serviços para um ano de contrato.
‘Corrupção sistêmica há décadas’
“A cooperativa em questão pertence à estruturada e complexa organização criminosa que vem operando no Estado do Rio de Janeiro em um contexto de corrupção sistêmica, por meio de desvio de recursos públicos, em especial na área da saúde, há décadas”, afirma a PF.
Chamou a atenção dos investigadores “a repetição do seu modo de atuar, tanto na constituição de empresas geridas por interpostas pessoas, quanto na forma de contratar com entes públicos”.
“Através de uma densa confusão patrimonial e administrativa existente entre as pessoas jurídicas pertencentes ao grupo, as práticas delitivas se repetiam, de maneira recorrente, assim como uma anáfora”, emenda a Polícia Federal.
O que é uma anáfora?
“O nome da operação faz referência a uma figura de linguagem muito utilizada por escritores através da repetição de uma ou mais palavras no início de versos, orações ou períodos. Empregada na poesia e na música, a anáfora aumenta a expressividade da mensagem, enfatizando o sentido de termos repetidos consecutivamente”, explica a PF.
Um exemplo de anáfora é a canção “Águas de Março”, de Tom Jobim, cujos versos “É pau, é pedra, é o fim do caminho/ É um resto de toco, é um pouco sozinho/ É um caco de vidro, é a vida, é o sol/ É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol” repetem o verbo ser.
A CGU, por meio da Ouvidoria-Geral da União (OGU), mantém a plataforma Fala.BR para o recebimento de denúncias. Quem tiver informações sobre esta operação ou sobre quaisquer outras irregularidades, pode enviá-las por meio de formulário eletrônico.
A denúncia pode ser anônima, para isso, basta escolher a opção “não identificado”.