POLÍCIA
Líder do PCC, Marcola está em região dominada pelo Comando Vermelho
Durante meses, o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) traçou estratégias para transferir o líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcos Herbas Camacho, o Marcola, da capital federal. Com base em estudo técnico e análise de risco, o órgão concluiu que o melhor local para manter o criminoso seria a capital Porto Velho, em Rondônia.
Um dos motivos é que o PCC não está consolidado na região, que sofre forte influência da facção carioca Comando Vermelho (CV). Outro grupo que domina a região é a Família do Norte (FDN). Criada em 2007, é uma das maiores facções do Amazonas sob a liderança dos narcotraficantes Zé Roberto da Compensa, João Pinto Carioca e Gelson Carnaúba.
Apesar de a mudança de Marcola ser defendida por autoridades do DF, como o governador Ibaneis Rocha (MDB), e pelo próprio ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, a troca também cumpre o plano estratégico do Sistema Penitenciário Federal.
A norma visa “combater o crime organizado, isolando suas lideranças e presos de alta periculosidade”. Além de aplicar medidas como a implementação de tecnologia para reforçar a segurança, uma das metas é identificar e antecipar estratégias e a necessidade de adequação.
Plano de resgate
Fontes ouvidas pela coluna afirmam que os planos de resgate, o assédio na tentativa de cooptar servidores pelas organizações criminosas, entre outras ações, foram algumas das ameaças reais e amplificadas que o Sistema Penitenciário Federal precisou lidar durante a estadia de Marcola em Brasília.
Os casos resultaram, em contrapartida, em um maior enrijecimento do cumprimento da pena do detento e uma maior eficácia no isolamento das lideranças. Investigações apontam para uma possível divergência de comando do PCC, com provável ruptura do primeiro e segundo escalão, e uma guerra interna da facção por poder e influência. A disputa interna faz com que diminua o risco de resgate.
Uma vez que assumindo uma nova estrutura, integrantes da facção, que estão soltos, não teriam interesse na liberdade das lideranças. Afinal, os lucros seriam divididos com mais pessoas, além do controle ainda maior das lideranças resgatadas.
Histórico de crimes
Marcola foi preso pela primeira vez pela polícia paulista, no final da década de 1990, por roubos a carros-fortes e bancos. Já na prisão, também foi condenado por formação de quadrilha, tráfico de drogas e homicídio.
Recentemente, a Justiça o condenou a 30 anos de prisão no processo da Operação Ethos, que investigou o setor jurídico da organização criminosa. Com essa decisão, o total das penas impostas a Marcola já ultrapassa 300 anos.
Para justificar a transferência de Marcola do presídio de Presidente Venceslau para Brasília, em 2019, promotores do Ministério Público de São Paulo afirmaram que o PCC planejava resgatá-lo.
De acordo com eles, foram gastas dezenas de milhões de dólares no plano, investindo em logística, compra de veículos blindados, aeronaves, material bélico, armamento de guerra e treinamento de pessoal.
Em nota, o Depen disse que as transferências de presos “são medidas rotineiras no Sistema Penitenciário Federal e são efetivadas por indicação da inteligência penitenciária, atividade essencial para orientar a definição de estratégias de combate ao crime organizado”.
Leia a nota do Depen na íntegra:
“Nesta quinta-feira, 3 de março, o Departamento Penitenciário Nacional realizou a transferência do interno Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, que estava custodiado na Penitenciária Federal em Brasília.
O Sistema Penitenciário Federal (SPF) é referência no Brasil e no mundo pelo combate ao crime organizado, mediante isolamento de lideranças criminosas e presos de alta periculosidade, graças a um rigoroso e eficaz regime de execução penal.
Por razões de segurança, o Depen não informará a unidade de destino do preso transferido.
As transferências de presos são medidas rotineiras no SPF e são efetivadas por indicação da inteligência penitenciária, atividade essencial para orientar a definição de estratégias de combate ao crime organizado.
A operação envolve a atuação de outros órgãos de segurança integrantes da estrutura do Ministério da Justiça e Segurança Pública, a saber: Secretaria Nacional de Segurança Pública, por meio da Força Nacional de Segurança Pública; Polícia Rodoviária Federal; e Polícia Federal.”