A Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav) assumiu, nesta quinta-feira, a investigação de uma denúncia feita pela mãe de uma menina de 6 anos contra um pediatra do hospital Prontobaby, no Méier, na Zona Norte do Rio, por supostamente abusar de sua filha durante uma consulta ocorrida no último dia 11. Ela contou ter levado a criança à unidade de saúde por causa de um furúnculo nas nádegas. A jovem, uma manicure designer de 25 anos, relatou que o médico pediu para que toda a roupa da menina fosse tirada para realizar o exame.
A mãe ficou na sala, mas disse não ter percebido nada de estranho. Dois dias depois, quando a criança teve febre, a jovem falou que a levaria novamente ao hospital. Foi quando a menina começou a chorar descontroladamente e se recusou a ir à unidade de saúde, alegando que o pediatra passara os dedos em sua vagina. Nesta quinta-feira, o Grupo Prontobaby informou ter afastado o médico de suas funções e instaurado um processo administrativo “para apurar possível desvio de conduta do profissional”.
No dia 14, a jovem voltou ao Prontobaby e disse ter ouvido de uma funcionária da diretoria que o pediatra era um profissional “de referência” e “bem recomendado”. E decidiu, então, procurar uma delegacia. Inicialmente o registro de ocorrência foi feito na 24ª DP (Piedade).
A ocorrência foi repassada para a Dcav, unidade especializada que conta com psicólogos capacitados para ouvir a vítima, informou a assessoria de imprensa da Polícia Civil. O depoimento ainda não foi marcado.
— Mesmo que não dê em nada, se outras mães fizerem denúncia, vai lá constar que eu não estava mentindo — afirmou a designer ao GLOBO.
Relato emocionado
A mãe, num relato emocionado, contou como foi a consulta e disse que o pediatra se mostrou gentil:
— Ele pediu para tirar a roupa toda dela, para poder examinar. Até aí achei normal. Porque ele é um médico, me tratou super bem, não demonstrou nada de errado. Aí eu tirei a roupa toda dela. Ela só ficou de sutiã. Para ver o furúnculo, tirei a calcinha. Eu fiquei sentada, de frente para a maca. Ele ficou em pé e a minha filha ficou de frente para ele. Até aí achei que ele estava examinando ela. Só que ele estava de costas para mim. Estava de jaleco. Eu não tinha como ver a mão dele.
Em seguida, de acordo com a jovem, o médico sentou e colocou a menina de frente para ele, com as nádegas viradas para a mãe.
— Ele ficou falando comigo, que aquele furúnculo tinha que ver mesmo e falando comigo, com o dedo apontando para o furúnculo. Mas a outra mão dele eu não cheguei a ver. Aí minha filha estava tentando virar para mim. Eu falei: “filha, vira para a frente para ele te examinar”. Ela virou. Aí ele falou: “isso faz cosquinha, isso faz cosquinha”. Só que na hora eu não me liguei — contou.
A mãe disse que não poderia imaginar que a filha pudesse estar sendo abusada:
— A minha filha estava com dor e eu não ia imaginar que um pediatria iria fazer isso. Uma criança, que a gente está levando ao hospital para ser bem atendida, para ser bem tratada, confiando na pessoa e faz isso. Aí ele falou que se ela tivesse febre ou outra piora era para voltar lá.
A jovem relatou ter pensado que o médico passaria exames para a filha, pela “demora” para examinar o furúnculo.
— Ele pediu três vezes para ver o furúnculo. Viu em pé, viu sentado e depois pediu para ver de novo. Mas realmente eu não me liguei na hora. Porque ele estava me tratando super bem, falando super bem comigo — lembrou.
Em 13 de outubro, dia do aniversário da designer, a menina teve febre de 38 graus. A mãe, após conversar com a pediatra que acompanha a filha, decidiu levar a garota para o Prontobaby:
— Ela começou a chorar, começou a gritar, falando que lá naquele hospital ela não queria ir.
‘Estou me sentindo super culpada’
A mãe perguntou o motivo da recusa e a menina, segundo ela, pediu para ir a qualquer outro médico. A designer disse ter insistido para saber o que havia acontecido e a menina, de acordo com ela, respondeu: “mãe, não teve aquela hora que eu estava virando para você? Que ele falou ‘isso faz cosquinha, isso faz cosquinha’?”. A criança, então, revelou que o médico disse isso enquanto tocava em sua vagina.
A designer disse ter entrado em desespero. E, agora, procura um psicólogo para que sua filha faça um tratamento:
— Eu estou me sentindo super culpada porque eu estava ali na hora e eu não vi. Minha filha tentou me avisar, virando para mim, e eu não percebi na hora. Não sei nem o que dizer. Estou me sentindo super culpada, porque estava ali e não vi a maldade dele.
Ela disse, ainda, que quer o afastamento do médico para que “ele não faça nunca mais com outras crianças”.
O que diz o hospital
“Assim que o Grupo Prontobaby tomou conhecimento da denúncia, afastou o médico de suas funções e instaurou processo administrativo para apurar possível desvio de conduta do profissional. A direção da unidade aguarda o andamento das investigações internas para tomar as medidas cabíveis.
O Grupo Prontobaby repudia qualquer tipo de atuação profissional que possa ferir a ética e colocar em risco a saúde física e mental dos pacientes. Em mais de 60 anos de atuação, o Grupo Prontobaby preza pela qualidade dos serviços prestados e pelo apoio incondicional às famílias”.