POLÍCIA
‘Me colocaram no camburão’, diz médica algemada e detida durante plantão em hospital

“Me colocaram no camburão. Me tiraram de dentro da UTI e os pacientes ficaram sozinhos”, afirmou à TV Globo a médica que trabalha na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Ipiranga, na Zona Sul de São Paulo, e foi levada algemada por policiais militares para uma delegacia. O motivo para a detenção seria o crime de desacato, porém, testemunhas questionam a versão dos PMs.
De acordo com os relatos, a confusão começou na noite do último domingo, 1º, quando os agentes chegaram no hospital buscando por informações de um colega que havia dado entrada na unidade mais cedo. A médica, no entanto, se negou a repassar quaisquer notícias, porque o horário de visitas já havia encerrado e ela tinha autorização apenas para repassar atualizações a familiares da vítima.
A mulher, que não quis se identificar, conversou com um produtor da TV Globo ainda na noite de domingo, enquanto prestava depoimento no 17º Distrito Policial (DP). Segundo funcionários do hospital, a unidade ficou sem nenhum médico na ala por cerca de 3 horas.
Ainda de acordo com uma funcionária ouvida pela emissora, quando a médica se recusou a falar com os policiais, ela estava dando atenção a pacientes graves na UTI. Mesmo assim, os agentes teriam insistido e invadido a UTI, tirando a médica algemada de lá.
“Em um momento, os policiais foram, bateram na porta. O policial queria falar com a médica e a médica falou: “não falo com mais ninguém”. Essa médica estava investindo nesse paciente e nos outros também, que tem mais paciente grave ali. De repente, ‘chegou’ outros policiais. Eles adentraram a UTI, 2 ficaram do lado de fora do repouso, dos médicos, 2 adentraram ao repouso dela. A gente não teve acesso, a gente não teve como chegar lá porque a todo momento a gente tinha, tipo, barreira dos policiais ali, e, de repente, a médica saiu algemada”, disse a funcionária da unidade hospitalar em entrevista à TV Globo.
A funcionária ainda afirmou que a médica é uma ótima profissional. “Eu nunca imaginei passar por isso, a gente está tentando entende o motivo pelo qual os policiais a levaram, porque é uma médica maravilhosa, super tranquila, que não merecia o que aconteceu”, lamentou.
Segundo o boletim de ocorrência, a médica teria sido detida por desacato depois de ter jogado um documento no rosto de um tenente, além de ter resistido à prisão.
Ao Terra, a Secretaria de Estado de Saúde afirmou que o Hospital Ipiranga lamenta a prisão e “dará total apoio à profissional médica envolvida no caso”. Além disso, reforçou que está previsto na Legislação que o boletim médico só pode ser passado a familiares, responsáveis legais ou por determinação judicial.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que a Polícia Militar está apurando a conduta dos agentes e, caso comprovado excesso, medidas serão adotadas. “A mulher de 53 anos foi detida neste domingo (01), na Avenida Nazaré, no Ipiranga. O caso foi registrado como desacato, ela foi liberada e o registro, encaminhado ao Juizado Especial Criminal (Jecrim)”, afirmou, em nota.
