Pedrajas se estabeleceu na Bolívia em 1971 e fez trabalhos educativos em vários locais. O maior número de abusos teria sido cometido na Escola João XXIII, na cidade de Cochabamba, no centro do país.
O internato João XXIII acolhia menores com poucos recursos econômicos e provenientes das áreas rurais e se gabava de ter uma formação educacional de alto nível.
Hilarión Baldivieso, da associação de ex-alunos daquele centro educacional, confirmou os abusos em entrevista coletiva e disse que eles denunciaram o encobrimento dos casos pelos jesuítas, que sabiam das atividades de Pedrajas.
Depois do escândalo causado pelas revelações da imprensa, o ministério público boliviano recebeu pelo menos oito denúncias de supostos abusos cometidos por religiosos. O procurador-geral, Juan Lanchipa, disse que as denúncias foram apresentadas nas cidades de La Paz, Cochabamba, Tarija e Santa Cruz.
Entre os denunciados estão, além de Pedrajas, os padres espanhóis Luis María Roma, Alejandro Mestre e Antonio Gausset, todos falecidos. Outros denunciados ainda estão vivos.
Lanchipa expressou sua preocupação com “a negligência que esta organização católica teve ao não ter denunciado esses eventos e, em vez disso, ter oferecido cobertura e proteção a esses eventos monstruosos”.
O ex-padre jesuíta Pedro Lima disse que os abusos sexuais foram cometidos não só contra menores, mas também contra jesuítas em formação. Lima disse que foi expulso da Companhia de Jesus em 2001 por denunciar abusos dentro da ordem, e recentemente voltou do Paraguai para a Bolívia para se juntar às denúncias no caso Pedrajas.
Segundo o antigo clérigo, “entre as vítimas estão ex-jesuítas que foram formados por esta pessoa. Em suma: não só abusou de estudantes, mas também de jesuítas em formação”.
A assessora jurídica da Conferência Episcopal Boliviana, Susana Inch, afirmou que desde 2019, quando foi aberta uma comissão interna para investigar os casos, foram recebidas 12 denúncias contra padres.
Segundo uma investigação do jornal boliviano “Página Siete”, são mais de 170 vítimas. Na semana passada, o padre Milton Murillo foi preso acusado de suspeita de estupro, enquanto o padre Garvin Grech fugiu para a Argentina devido a acusações semelhantes.
Após o turbilhão de casos, o presidente esquerdista Luis Arce enviou uma carta ao Papa Francisco na noite desta segunda-feira para ter acesso a todos os processos e expedientes sobre pedofilia na Bolívia. Além disso, disse que seu país se reserva o direito de receber padres caso tenham reclamações, e que seu governo buscará firmar um novo acordo de relacionamento com o Vaticano.