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RIO BRANCO
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POLÍCIA

O esquema bilionário da Nikola Motors

Publicado em

Ela foi fundada nos EUA com o objetivo de desenvolver caminhões elétricos.

A ideia era revolucionar o transporte de cargas dos Estados Unidos

A Nikola Motors foi fundada em 2015 nos Estados Unidos. Era considerada uma startup que nasceu com o objetivo de desenvolver caminhões elétricos, que ao invés de usarem baterias, usavam hidrogênio como fonte de energia.

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Isso representaria uma verdadeira revolução, pelo menos foi o que eles fizeram muita gente acreditar. Para os americanos esse mercado é fundamental para a indústria, uma vez que 70% dos produtos norte-americanos são transportados por meio de caminhões.

Seu plano era revolucionar o transporte de cargas nos EUA – Estados Unidos da América. Em seu auge, a empresa chegou a valer mais que a Ford, até que a farsa foi revelada!

Desta forma, ter seus veículos movidos por energia limpa, facilmente recarregável, era uma proposta muito atrativa, especialmente se considerarmos que o hidrogênio é o elemento mais abundante do universo.

Apesar de ser muita promissora, fazer os veículos pesados funcionarem com essa tecnologia, ainda era uma questão complexa. Grandes montadoras como a Chevrolet, Toyota e a Hyundai já investiram bilhões nessa tecnologia de veículo movidos a hidrogênio, mas sem ter qualquer retorno e com a Nikola Motors não foi diferente.

Mesmo assim, a empresa conseguiu faturar muito com investidores, fechando contratos milionários, passando a valer mais de 20 bilhões de dólares, mais que a Ford, por exemplo e mesmo sem entregar um único veículo.

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Atrás de grandes ideias existem grandes pessoas, mas será mesmo?

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Por trás da Nikola estava o empresário Trevor Milton que sempre mirou ideias grandiosas. Mas sem grande sucesso. Umas das suas primeiras apostas como empreendedor foi a criação de um site de comércio eletrônico chamado Upillar, que de acordo com ele competiria com a Amazon.

Em 2009 ele entrou no setor de caminhões com uma empresa chamada dHybrid.inc, com a proposta de construir sistemas híbridos, que combinavam diesel e gás natural, para modernizar caminhões que funcionavam somente a diesel.

Trevor teve a ideia de buscar investidores inexperientes que apoiassem sua ideia e assim conseguiu um contrato de 16 milhões de dólares com a empresa Swift Transportation, para instalar esse novo sistema.

Depois de um tempo e muitas inconsistências, vieram os processos judiciais. A Swift alegou que os sistemas não possuíam a eficiência e a capacidade técnica que foram apresentadas.

Após tentativas frustradas de vender a dHybrid, Trevor e seu pai em 2012 abriram uma nova empresa, no mesmo edifício, a dHybrid Systems, numa tentativa de limpar a marca dos processos que ela vinha sofrendo.

Algum tempo depois Trevor conheceu Mark Russell, atual CEO da Nikola, que conseguiu fechar a compra de 80% da dHybrid para a petroleira Worthington Industries em 2014 por mais de 15 milhões de dólares.

O que a companhia não sabia era que os sistemas da dHybrid não passava de uma farsa e estavam literalmente caindo dos caminhões, mesmo depois de várias tentativas de reparo, representando um sério risco à segurança de quem tentava utilizar esse sistema.

Ainda em 2014 destinado a construir o caminhão do futuro, Trevor fundou o que iria se tornar a Nikola Motors, enquanto a Worthington tentava lidar com os sérios problemas causados pela tecnologia que a dHybrid dizia ter.

Poucos anos após ser fundada em 2016 a Nikola apresentou seu primeiro caminhão elétrico, que foi apresentado como um veículo revolucionário, perfeitamente dirigível e totalmente funcional, que conseguia percorrer mais de 1.000 km sem reabastecer.

O que ninguém sabia era que Trevor pretendia vender a mesma tecnologia utilizada pela dHybrid, que havia sido um verdadeiro desastre.

Em um evento ao vivo a Nikola apresentou aquele que deveria ser o seu primeiro veículo elétrico pesado, o Nikola One. De acordo com Trevor o que as pessoas estavam vendo era um exemplar do modelo elétrico que já funcionava e foi exatamente ai que todo começou a dar errado.

Trevor construiu sua rede de mentiras, alegando possuir uma tecnologia que nunca conseguiu fazer funcionar. Meses antes do lançamento a Nikola não contava com componentes básicos como os eixos eletrônicos ou o próprio sistema de gás natural.

Mesmo assim eles organizaram um mega evento para divulgação, com um veículo que não passava de um design bonito ligado por um cabo de energia escondido no próprio palco.

Tamanho era a farsa que o único componente que funcionava dentro do veículo era a tela touch screen, sendo a única coisa que Trevor conseguiu operar durante todo o evento.

Aos investidores da Nikola, a empresa alegou que o lançamento da tecnologia dos caminhões movidos a hidrogênio já era uma realidade e estaria no mercado em breve.

Mas de acordo com ex-funcionários da empresa, após o evento, o projeto do caminhão movido a hidrogênio foi deixado de lado. Mesmo assim o protótipo tinha servido a ideia inicial de Trevor, legitimar sua suposta tecnologia e atrair ainda mais investimentos.

O tempo passou e as ideias mirabolantes a respeito do Nikola One foram ficando para trás, assim como o projeto. Para sustentar a história de que o veículo ainda estava em desenvolvimento e para tentar frear as suspeitas em torno do projeto, a Nikola anunciou em sua conta no twitter que iria lançar um vídeo do veículo em movimento e assim o fez.

Mas de acordo com o engenheiro da própria Nikola, o caminhão foi rebocado até uma rodovia do estado de Utah, que possuía uma leve inclinação, suficiente para fazer um veículo pesado pegar velocidade, mesmo sem motor.

O caminhão então foi filmado parecendo que estava trafegando em uma rodovia comum e aparentemente reta. O vídeo “bombou” exatamente como o planejado.

A farsa havia conquistado o público e a empresa pretendia fechar um acordo para construir uma fábrica no Arizona e não parou por ai, um ano depois do vídeo ser lançado, em 2019 Trevor anunciou outro veículo elétrico com design futurístico, dessa vez um off-road chamado Nikola NZT.

Projetado para todos os tipos de terreno fora da estrada teria quase 600 cv de potência. Mais uma vez Trevor mostrou um protótipo sem o menor suporte para ser funcional ou ao menos possível de fabricar.

Meses depois a empresa desistiu do modelo por ser impossível de ser fabricado nas proporções apresentadas e para chegar ao mercado o veículo teria que passar por uma reformulação completa.

Ao contrário dos produtos as finanças iam muito bem, em 2020 a empresa se tornou mais valiosa que a Ford e a Fiat Chrysler, quase alcançando a General Motors e fechou contratos de caminhões para venda a grandes empresas como a Budweiser e a Transportadora US Xpress, até que um relatório foi divulgado.

Em setembro de 2020 a Hindenburg Research, uma empresa de análises de investimentos, publicou um relatório detalhando as falsas declarações da Nikola Motors a respeito da suposta inovação apresentada aos seus investidores.

O que aconteceu dois dias depois da General Motors fechar um acordo milionário para comprar parte da tal tecnologia prometida. De imediato o relatório provocou uma queda das ações da Nikola de mais de 30%, além do início de uma investigação por parte do Departamento de Justiça americano.

Após a divulgação, Trevor deixou o comando da empresa, negando todas as acusações. No dossiê publicado pela Hindenburg também havia alguns questionamentos sobre Trevor e sua equipe, sendo um dos membros dela seu próprio irmão Trevis, nomeado como diretor de produção de Hidrogênio e Infraestrutura, algo estranhíssimo para alguém que sequer tinha qualquer experiência no ramo.

Em uma investigação feita descobriu-se que pelo curriculum de Trevis ele na verdade trabalhava na construção de calçadas de concreto e na reforma de casas no Havaí.

Outro suspeito era o chefe de Desenvolvimento e Infraestrutura Dale Prows, que era o gerente de um campo de golfe residencial no estado de Idaho.

Após seu afastamento da Nikola, Trevor respondeu a diversos processos de acusações de fraudes a investidores e declarações falsas. Segundo a Forbes ele pagou uma fiança de 100 milhões de dólares para se livrar das acusações de fraudes a investidores.

Mas estima-se que ele tenha acumulado muito mais desde 2014, tendo seu patrimônio avaliado em mais de 1 bilhão de dólares. Em 2021 a empresa pagou mais de 700 milhões de dólares para encerrar as investigações movidas contra a empresa, numa tentativa de tentar reerguer a startup.

Na direção de Mark Russell, o velho amigo de Trevor, a produção dos caminhões foi finalmente iniciada.

O desfecho dessa história demonstra como o mercado voltado à tecnologia e inovação pode ser um terreno fértil para qualquer um que saiba vender um produto ou uma ideia, mesmo se ela sequer exista ou seja possível.

São necessários anos de pesquisa e investimento, até que uma empresa consiga, enfim, anunciar algo realmente inovador.

Grandes projetos que prometem revolucionar do dia para a noite, merecem maior cuidado em suas avaliações. Não há como negar que Trevor é um cara muito eficiente em enganar as pessoas e tirar dinheiro delas.

Ele enganou grandes investidores, empresários e executivos de empresas bilionárias. Ele poderia ter utilizado todo o dinheiro arrecadado para resolver os problemas de seus projetos e tentar entregar algo que realmente funcionasse, mas esse nunca foi seu intuito.

Ao invés disso ele estava sempre de olho em como arrecadar mais dinheiro. A cada parceria que ele fechava ele alavancava o nome de um novo parceiro para fechar ainda mais investimentos.

Trevor Miltom era muito bom em criar promessas, marketing e convencer pessoas, independentemente se ele conseguiria entregar ou não aquilo que prometia.

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