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POLÍCIA

“Perdi dignidade”: Publicitário é agredido em camarote de Salvador ao ser acusado de furto

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O publicitário Roberto Souza Santos Júnior, de 30 anos, foi agredido por seguranças que trabalhavam no Festival de Verão de Salvador, neste domingo, 28, após a denúncia de que “um homem negro” estaria furtando celulares dentro do espaço onde estava. Em entrevista ao Terra nesta segunda-feira, 29, Roberto afirmou que levou um soco no olho, tapas pelo corpo e um golpe chamado “mata-leão”.

Roberto curtia o camarote Smirnoff do festival, quando foi agredido. A polícia investiga o caso.

“Aconteceu quando acabou o show do Leo Santana. Eu fui ao banheiro, porque queria ver o show do Caetano Veloso, que seria no outro palco, e o Camarote não dá acesso. Saí da cabine e fui encurralado pelos seguranças da empresa Prestserv. Eles disseram que tinha alguém roubando celulares dentro do camarote”, relatou o publicitário.

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De acordo com a vítima, os seguranças mencionaram que o suposto ladrão era um homem negro. Roberto pediu para saber quem o estava acusando, já que não tinha outros aparelhos em seus bolsos. Ele foi revistado pelos seguranças e, segundo o relato do publicitário, encurralado pelos profissionais.

“Falei que poderiam me revistar, mas que eu ia registrar essa situação constrangedora que estava passando. Quando peguei o meu celular para registrar, já levei um tapão na minha mão. Meu celular caiu e na tentativa de pegar, eu recebi um soco [no olho]. Eu não estava conseguindo ver nada. Nisso, eu ainda acabei me defecando lá, nesse momento, ainda no banheiro. Eu consegui pegar o meu celular, coloquei dentro do bolso, mas fui empurrado e levado por seis seguranças. Comecei a gritar e um deles me pegou num mata-leão, pela minha garganta. Eu não estava conseguindo respirar e batia nele para parar. As pessoas começaram a gritar e só aí pararam de me enforcar”, contou Roberto.

Roberto ainda relatou que, durante a agressão, teve parte das roupas rasgadas e um relógio de pulso quebrado. Ele ainda foi levado para um “cantinho atrás do camarote”, apesar de insistir para que fossem chamada a pessoa que o acusou e policiais.

“Eu queria a polícia naquele momento, porque imagino que teria um outro preparo para aquela situação. E seria isso: eles me veriam, me revistariam, veriam que eu não estava roubando nada”, explicou. “Nisso, eles me largaram e alguém ainda arrancou a minha pulseira [de acesso ao camarote]. Achei que eu podia ter morrido ali”.

Outras pessoas que estavam no mesmo espaço do Festival e presenciaram o ocorrido falaram com os seguranças e tentaram filmar a ação, mas sem sucesso. As agressões só pararam, segundo Roberto, quando um representante da empresa conversou com as pessoas que assistiam à violência, e interveio.

Roberto foi atendido e medicado no posto médico do festival. Ainda no evento, foi recebido por uma pessoa que se identificou como responsável pelo Festival de Verão e conversou com a advogada do evento. Segundo contou ao Terra, ambos se colocaram à disposição para ajudá-lo.

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Nesta segunda, o publicitário passou por exames no Instituto Médico Legal (IML). Ele também fará exames no olho atingido pelo soco, para averiguar se teve algum tipo de perda de visão.

“Voltei para casa defecado, humilhado, sangrando. Não estou conseguindo enxergar do olho direito e estou com ferimentos no meu braço e na minha perna, cheio de hematomas. Isso por uma acusação racista”, seguiu o publicitário. “Eu paguei mais caro para estar ali [no camarote] para ter uma segurança melhor. Uma acusação falsa me colocou como um ladrão.  Hoje estou tentando mastigar, me alimentar direito, mas dói. (…) Se não fossem essas pessoas do público, talvez estivesse pior. Perdi o show que queria ver, perdi dignidade, fui exposto. Não quero que ninguém passe por isso”, finalizou a vítima.

Empresas envolvidas

Em contato por telefone, a empresa PrestServ afirmou que ainda apura o ocorrido. Por esse motivo, não iria se manifestar.

Já a Smirnoff disse, em nota enviada ao Terra na noite desta segunda, que não tolera nenhum tipo de discriminação ou assédio. Patrocinadora do evento e responsável pelo camarote onde ocorreu a agressão contra o publicitário Roberto Júnior, a empresa afirmou que está em “contato ativo” com os responsáveis pela organização do festival.

Leia a nota na íntegra:

“Não toleramos nenhum tipo de discriminação e assédio. É com seriedade que Smirnoff aborda o ocorrido no Festival de Verão de Salvador de 2024. Valorizamos uns aos outros e repudiamos fortemente qualquer violação dos direitos humanos. E, na qualidade de patrocinadores do evento em questão, estamos em contato ativo com os responsáveis pela organização do festival. Em solidariedade à vítima, já exigimos esclarecimentos sobre o ocorrido e fomos informados que a mesma recebeu atendimento imediato. Continuaremos monitorando e tomando todas as medidas cabíveis.”

Festival de Verão 

A Bahia Eventos, empresa organizadora do Festival, lamentou o ocorrido e informou que o caso está sendo apurado internamente. No entanto, assim que foi comunicada do episódio, adotou todas as providências para a prestação de assistência à vítima, assegurando atendimento médico imediato, registro da ocorrência na delegacia montada dentro do evento e condução até a casa de Roberto.

A empresa ainda disse que está empenhada na resolução do caso e na identificação dos agressores, para que as autoridades possam tomar as medidas cabíveis. A Bahia Eventos se solidarizou com o publicitário e manifestou repúdio a todo e qualquer ato de violência, racismo e discriminação.

A 12ª Delegacia Territorial, de Itapuã, em Salvador, informou que o caso foi registrado como lesão corporal dolosa e que pediu imagens de câmeras de segurança do evento para poder esclarecer o caso. Segundo a Secretaria de Segurança Pública de Salvador, um casal foi preso por ter furtado cinco aparelhos celulares no Festival.

O Festival de Verão ocorreu neste sábado, 27, e domingo, 28, no Parque de Exposições em Salvador. Cerca de 80 mil pessoas curtiram os dois dias do evento. A Polícia Civil chegou a reforçar o efetivo e montou uma Delegacia Especial de Área (DEA) dentro da área do Festival, para registros de ocorrências e autuações em flagrante.

 

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