POLÍCIA
Quem é o integrante do PCC citado por Marcola para resgatá-lo, segundo a PF
O homem apontado pela investigação da Polícia Federal e do Depen (Departamento Penitenciário Nacional) como o encarregado pelo plano de resgate de Marco Willians Herba Camacho, o Marcola, é apontado pelas autoridades como o responsável pelas ações do PCC (Primeiro Comando da Capital) na Bolívia e já trabalhou como agente de turismo antes de entrar no mundo do crime.
Devanir de Lima Moreira, 46, o Deva, esteve com Marcola no presídio de segurança máxima de Presidente Venceslau 2 em 2006, pouco depois de a transferência de presos da facção criminosa para a unidade prisional levar à maior onda de violência de São Paulo, com ataques às forças de segurança e saldo de 564 mortos. Marcola é o principal líder do PCC, de acordo com investigadores.
Mais de 300 ataques do PCC ocorreram em maio de 2006, em represália à transferência de 765 presos para o presídio de segurança máxima de Venceslau 2. Deva foi transferido para a unidade onde estava Marcola no mês seguinte aos atentados.
Contudo, não é possível afirmar se ambos conviveram na unidade prisional. O UOL não localizou os representantes legais de Deva.
Condenado a 342 anos de prisão, Marcola pretendia contar com o apoio da tática aos moldes do chamado “domínio de cidades”, um avanço em relação ao “novo cangaço”, com criminosos armados com fuzis e explosivos para garantir o seu resgate da prisão, de acordo com as investigações.
A casa de Marcola em Alphaville, na Grande São Paulo, foi um dos alvos da operação deflagrada pela PF no dia 10 de agosto. Os policiais federais também cumpriram mandados de prisão e de busca e apreensão em Brasília, Santos (SP), Presidente Prudente (SP), Campo Grande (MS) e Três Lagoas (MS).
O que o Marcola disse sobre Deva? Transferido em março deste ano do presídio federal de Brasília para Porto Velho (RO), Marcola questionou um advogado no parlatório em junho, cobrando que o “Dr. Alexandre” viesse “o mais rápido possível”.
Para a PF, o “Dr. Alexandre” é na verdade um código usado pelo criminoso para se referir a Deva, encarregado do resgate. Um mês e meio depois, voltou a usar a mesma mensagem cifrada em conversa com a esposa Cynthia Giglioli da Silva.
Eu tô pedindo faz três meses de um advogado que cuida da instância superior, o Dr. Alexandre, e ele não me dá nenhuma resposta sobre se o cara vai vir aqui me requisitar ou não, entendeu? (…). Se o cara vai vir ou não vai. Se não vai, fala logo que não vai. Que pelo menos eu contrato outra pessoa”, disse.
Para a PF, essa era uma mensagem para que Deva colocasse o plano de resgate em prática imediatamente.
Por quais crimes Deva responde? Deva foi condenado a mais de 21 anos de prisão por formação de quadrilha e envolvimento em três roubos.
Em dezembro de 2002, participou de um assalto a uma agência bancária com outros cinco criminosos em Ribas do Rio Pardo (MS), a 94 km da capital Campo Grande. Na ação, o grupo levou R$ 119 mil do local.
Ele também foi condenado por participar de outros dois assaltos a joalherias em São José do Rio Preto, interior de São Paulo. O primeiro ocorreu no dia 8 de janeiro de 2003. Dois dias depois, Deva se envolveu no outro roubo.
Qual a origem do criminoso? Deva é natural de Campo Grande (MS), mas também cometeu crimes em São Paulo e é apontado como uma das lideranças do PCC na Bolívia.
Como foram as passagens de Deva pelo sistema prisional? Ele foi detido pela primeira vez em 1998, aos 22 anos. Também foi preso em janeiro de 2003, após ser condenado em assaltos pelos quais foi condenado.
Deva ainda foi capturado em março de 2009 em Campo Grande (MS). Beneficiado pelo regime semiaberto em 2015 por ter cumprido um sexto da pena, está foragido desde 2017.
Deva já se envolveu em atos de indisciplina quando estava atrás das grades? Sim. Em 3 de maio daquele de 2006, quando ainda estava na penitenciária de segurança máxima de Presidente Venceslau 2, em São Paulo, ele se envolveu em um “movimento para subverter a ordem e a indisciplina, desobediência, desrespeito e ameaça”, segundo registros das autoridades.
No dia 7 de novembro de 2006, retirou um pedaço do ferro da estrutura do vaso do sanitário e da cama. Os dois episódios foram apontados como falta disciplinar grave no sistema prisional.
“A falta grave denota que ele não havia assimilado as regras de conduta carcerária, ou que não reconhecia nestas o valor obrigatório (…) do convívio em sociedade”, disse o Ministério Público de São Paulo na época.