POLÍTICA
Após cancelar jantar, Lula diz que chamará príncipe da Arábia Saudita para vir ao Brasil
Após alegar cansaço para cancelar participação em jantar oferecido pelo príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman al Saud, nesta sexta-feira (23/6), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou em coletiva de imprensa, realizada na França, que “não tinha condições” de ir ao encontro, mas que tem todo o interesse em se encontrar Salman al Saud e que vai solicitar ao Itamaraty que convide o príncipe para uma reunião no Brasil.
“Eu, simplesmente, não tive condições de participar da reunião. Eu não pensei em manchete negativa. Sabia da proposta com o príncipe que queria discutir investimento no Brasil e eu quero conversar com todas as pessoas que queiram fazer investimento no Brasil. Vou pedir para que o Itamaraty o convoque para ir ao Brasil discutir negócios com os empresários brasileiros”, disse Lula.
A agenda, que ocorreria nesta sexta-feira (23/6), seria a última do petista na Europa, antes de retornar ao Brasil. Mas Lula alegou extremo cansaço e não compareceu. Houve especulações de que o presidente não teria ido ao encontro por chances de “manchetes negativas” após sua viagem à Europa, mas ele negou: “Eu não tenho nada a ver com joias. Isso não é comigo”, disse Lula.
O líder saudita é o mesmo que presenteou, em 2021, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) com joias milionárias. As peças, avaliadas em R$ 5 milhões, foram trazidas ilegalmente ao Brasil. O caso é investigado pela Polícia Federal.
Joias sauditas
Em outubro de 2021, uma comitiva do governo Bolsonaro, comandada pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, retornou ao Brasil de uma viagem oficial à Arábia Saudita com joias femininas na bagagem.
Os itens, segundo Albuquerque, foram presentes do governo saudita para a então primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Somadas, as joias chegam ao valor de R$ 5 milhões, segundo perícia da Polícia Federal.
As joias estavam na mochila de um assessor do então ministro. No aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, o assessor tentou passar pela alfândega, na fila da Receita Federal de “nada a declarar”. Pela lei, porém, ele deveria declarar os acessórios e pagar taxa de 50% sobre o valor das joias – ou seja, R$ 8,25 milhões.
Como não houve pagamento, a Receita reteve as joias. O governo Bolsonaro tentou, em pelo menos oito ocasiões, reaver os itens, acionando inclusive outros ministérios, além da chefia da Receita. Em todas essas tentativas, ninguém pagou a taxa, e as joias não foram devolvidas.
A tentativa mais recente ocorreu dezembro do ano passado, dias antes de Bolsonaro deixar a Presidência. Na ocasião, o gabinete pessoal do então presidente pediu à Receita a liberação do conjunto. O ofício foi assinado por Mauro Cid, então ajudante de ordens de Bolsonaro.
O ex-presidente Jair Bolsonaro foi intimado a dar esclarecimentos à Polícia Federal em abril deste ano. O inquérito apura se o ex-presidente cometeu o crime de peculato, ou seja, quando um funcionário público se apropria de dinheiro ou bens dos quais tem posse em razão de seu cargo. A pena varia de 2 a 12 anos de prisão, além do pagamento de multa.