POLÍTICA
Após polêmicas, Lula testa relação com Forças Armadas no 7 de Setembro
O Brasil celebra, nesta quinta-feira (7/9), uma de suas principais datas históricas, a Independência do país. E, no evento de comemoração em Brasília, estarão lado a lado autoridades que vivem uma relação desafinada: civis e militares. Com perfil conciliador, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) busca normalizar a convivência com as Forças Armadas, mas um clima de desconfiança persiste de parte a parte e fica mais aflorado em momentos como o 7 de Setembro, que evocam e relembram a proximidade do governo anterior, de Jair Bolsonaro (PL), com os fardados.
Em meio à disputa política com um Congresso de perfil conservador, Lula evita abrir nova frente contra militares por poder, mas é pressionado por sua base a exigir das Forças Armadas o compromisso com a democracia e a punição a fardados que tenham se vinculado a aventuras golpistas.
Historicamente complicada, a relação das Forças Armadas com um governo de esquerda ficou mais dura neste terceiro mandato de Lula, porque a militância e os integrantes da gestão desconfiam de que a intenção de um rompimento institucional após a derrota de Bolsonaro contaminou os quartéis.
Essa desconfiança foi alimentada, sobretudo, por dois motivos: 1) a conivência dos militares com os acampamentos que se formaram após a eleição para pedir um golpe militar; e 2) o avanço de investigações, pela Polícia Federal e por uma CPMI no Congresso, de ações e omissões criminosas durante o ataque de “patriotas” às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro.
Idas e vindas
Em seus discursos, Lula costuma mencionar muito os ataques de 8 de janeiro, referindo-se a esse episódio como uma tentativa de golpe de Estado. O chefe do Poder Executivo alfineta os fardados em algumas falas, inclusive às vésperas do desfile da Independência. Na última terça-feira (5/9), o mandatário afirmou que “os militares se apoderaram do 7 de Setembro” e que o objetivo do governo neste ano é oferecer uma comemoração para todos os brasileiros.
“No Brasil, como tivemos, durante 23 anos, um regime autoritário, os militares se apoderaram do 7 de Setembro. Deixou de ser uma coisa da sociedade como um todo”, reclamou Lula, que trará novidades para o desfile deste ano e vai colocar até o Zé Gotinha para marchar na Esplanada dos Ministérios.
Ao mesmo tempo em que faz críticas, Lula acena aos militares, a fim de intensificar o caráter institucional das Forças Armadas. A nova versão de seu Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) trouxe a previsão do investimento de R$ 53 bilhões na indústria da Defesa, algo que não existia nas outras duas edições do PAC em governos petistas.
Lula também fortalece os militares ao manter à frente do Ministério da Defesa um nome que agrada aos comandantes e irrita os petistas: José Múcio. Com perfil totalmente avesso a conflitos, Múcio chegou a ser “demitido” nas redes sociais nos dias seguintes ao 8 de janeiro por um aliado do governo, o deputado federal André Janones (Avante-MG).
“URGENTE! Ministro da Defesa José Múcio deve entregar sua carta de renúncia nas próximas horas!”, postou o parlamentar mineiro em 10 de janeiro. Apesar da pressão, porém, Lula bancou o subordinado.
A proteção aos acampamentos, porém, continuou como um tema difícil de digerir pelo governo, e quem acabou pagando com o cargo foi o então comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, que havia sido nomeado ainda no fim da gestão Bolsonaro e caiu em 21 de janeiro, dando lugar ao atual comandante, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva.
O atual chefe do Exército estará no palanque nesta quinta, prestando continência a Lula junto com o comandante da Marinha, almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen; e o da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Marcelo Kanitz Damasceno.