POLÍTICA
Cid nega relação pessoal com Bolsonaro e diz que ficará em silêncio na CPI; siga
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), chegou por volta das 8h45 ao Congresso Nacional para prestar depoimento, nesta terça-feira (11/7), na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro. A presença de Cid era aguardada para a semana passada, mas, em meio ao esforço concentrado da Câmara dos Deputados, as sessões foram adiadas.
Em sua fala inicial, Cid explicou como é feita a escolha dos ajudantes de ordem do presidente e negou que haja qualquer vínculo pessoal entre ele e Bolsonaro.
“Minha nomeação jamais teve qualquer ingerência política. […] Não estava na minha esfera de atribuições de analisar propostas ou demandas trazidas. Não participávamos da gestão pública”, disse.
O ex-ajudante de ordens também afirmou que ficará em silêncio durante a oitiva.
“Sem qualquer intenção de desrespeitar vossas excelências e os trabalhos conduzidos por esta CPMI, considerando a minha inequívoca condição de investigado, por orientação da minha defesa e com base na ordem do habeas corpus concedido em meu favor pelo Supremo Tribunal Federal, farei uso do meu direito constitucional ao silêncio. Agradeço a atenção de todos. Obrigado”, declarou o militar.
Acompanhe aqui:
O recurso que permite ao militar ficar em silêncio foi deferido pela ministra Cármen Lúcia, em 26 de junho. A Corte determinou que o coronel é obrigado a comparecer à CPMI, mas tem o direito de ficar em silêncio e não responder a perguntas que o incriminem.
Mauro Cid está preso no Batalhão de Polícia do Exército Brasileiro desde 3 de maio. É acusado de fraudar os cartões de vacinação de Bolsonaro e sua filha, incluindo no sistema que eles teriam sido imunizados contra a Covid-19. Além disso, foram encontradas mensagens de teor golpista no celular do ex-ajudante de ordens.
Segundo relatório da PF, a trama para aplicar um golpe de Estado no Brasil envolveria o afastamento de ministros do STF e o início de uma nova intervenção militar.
A sessão para ouvir o coronel estava marcada para começar às 9h, mas teve início de fato, às 9h25. Veja a chegada de Mauro Cid à CPMI:
A relatora da CPI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), questionou Cid sobre os dados falsos de vacinação incluídos na conta de Jair Bolsonaro, sobre falsificação de cartões de vacina para viagens no exterior e se o ex-presidente tinha conhecimento dessas fraudes.
Eliziane Gama também perguntou ao tenente-coronel sobre a ligação com o sargento do Exército Luis Marcos Dos Reis, mais conhecido por “Sargento Reis”, preso pela PF em maio em operação sobre fraude nos cartões de vacinação de Bolsonaro. Ele esteve nos atos golpistas de 8 de janeiro e relatou que viu e gravou o episódio. Em uma das conversas, Reis contava a um amigo que estava na Esplanada naquele dia: “Você está vendo televisão, p*rra! Eu estou no meio da muvuca”.
Mauro Cid ainda foi questionado sobre o recebimento de R$ 400 mil em transferência ou dinheiro em espécie. O dinheiro é alvo de investigação da Polícia Federal. Na conta do coronel, foi encontrado um depósito de R$ 400 mil realizado no ano passado. Há suspeita de que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro tenha feito parte de algum esquema de lavagem de dinheiro.
A relatora da CPI do 8 de janeiro, por fim, indagou Cid se um possível golpe de estado orquestrado por ele e outros companheiros do Exército teria por objetivo anular as eleições de 2022.
De farda para depor
Conforme antecipou o colunista Igor Gadelha, do Metrópoles, o tenente-coronel chegou fardado para o depoimento.
Ao chegar para a audiência, às 10h36, Mauro Cid prestou continência ao presidente da CPI, deputado Arthur Maia (União-BA). A continência é a saudação militar e a principal maneira dos membros das forças armadas e de outras instituições militarmente organizadas e uniformizadas manifestarem respeito e apreço perante os seus superiores, pares, subordinados e símbolos.
Veja:
O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro foi preso em 3 de maio na Operação Venire, que apura suposto esquema de fraudes nos cartões de vacinação. Mauro Cid é considerado uma das peças-chaves para as investigações sobre os ataques do 8 de Janeiro.
Mensagens encontradas pela Polícia Federal (PF) no celular do ex-ajudante de ordens sugerem a existência de saques em dinheiro e depósitos fracionados do gabinete, que seriam destinados a gastos pessoais da família do ex-presidente.
O tenente-coronel também é suspeito de articular uma intervenção militar contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A articulação começou após as eleições presidenciais de 2023.
Com o colegiado de volta aos trabalhos, Mauro Cid deve ser questionado sobre as mensagens de teor golpista.
Depoimento obrigatório
Em 26 de junho, a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que o coronel é obrigado a prestar depoimento à CPMI. Ele pode ser acompanhado por advogados e tem o direito de ficar em silêncio para não responder a perguntas que o incriminem.
O comparecimento de Cid na Comissão é fruto da aprovação de vários requerimentos de convocação, de autoria dos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Fabiano Contarato (PT-ES), Rogério Carvalho (PT-SE), Ana Paula Lobato (PSB-MA), Eliziane Gama (PSD-MA), relatora do colegiado, e do senador licenciado Marcos do Val (ES).
Há também requerimentos dos seguintes deputados: Rafael Brito (MDB-AL), Rogério Correia (PT-MG), Rubens Pereira Júnior (PT-MA), Erika Hilton (PSOL-SP), Henrique Vieira (PSOL-RJ), Duarte Jr. (PSB-MA), Duda Salabert (PDT-MG) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ).