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RIO BRANCO
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POLÍTICA

Coluna da Angélica no NHN – Operação Ptolomeu é uma espada sobre a cabeça de Gladson

Publicado em

Imagem- Wikiart

1- Desencontro

Como sempre, o desencontro de informações dá o tom. Refiro-me às famílias que ocuparam a frente da Assembleia Legislativa. O Secretário de Assistência Social diz que apenas 99 famílias apresentaram documentação que habilita para o aluguel social. Os ocupantes afirmam que o governo quer acomodar na mesma casa até 4 famílias. Ou seja pagaria um aluguel para 4 famílias.  Parece que alguém andou se inspirando na extinta União Soviética. A diferença é que na URSS os Kommunalka foram implantados em grandes palácios e mansões da aristocracia russa. Eram cômodos gigantescos e luxuosos onde cabia uma família em cada.  Cozinha e banheiro eram de uso comunitário. No Acre nem se cogita a possibilidade de utilizar imóveis sem uso para abrigar famílias necessitadas. O regime soviético adotou esses apartamentos comunitários porque herdou um déficit habitacional gigantesco da monarquia, com pessoas dormindo em buracos no chão e mais de 7 milhões de crianças famintas perambulando pelas ruas. No Acre de livre inspiração as acomodações comunitárias são no parque de exposições.

2-…e burocracia

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Se das 200 famílias despejadas da ocupação Terra Prometida que se cadastraram no aluguel social apenas 99 apresentaram a documentação exigida por que a Secretaria de Assistência Social não providencia a documentação? Em vez de deixar crianças na rua poderia levar um serviço do tipo Oca Móvel até eles. Também me pergunto se o Conselho Tutelar não poderia entrar com uma ação contra o governo do Estado. Afinal, crianças foram jogadas na rua. A nota do Secretário Alex Carvalho é elucidativa: “As famílias que ocuparam a quadra poliesportiva da escola do bairro Irineu Serra por conta própria não estão recebendo assistência, por não se tratar de um abrigo do Estado”. Menos burocracia e mais sensibilidade, Secretário. São vidas. São crianças sem assistência. Sua Secretaria, como o nome diz é de Assistência Social e não Secretaria de Burocracia.

3-Negligência

O déficit habitacional no Brasil é uma das consequências da política econômica equivocada com prioridade para a remuneração de bancos nacionais e estrangeiros em detrimento da população. Situação mantida pela mais alta taxa de juros do planeta. As altas taxas de juros constituem o principal fator de crescimento da dívida pública  que consome quase a metade do orçamento do país. Em 2022 por exemplo,  46,30% do orçamento do Brasil foi para o pagamento e amortizações da dívida pública federal, estaduais e municipais. Depois disso pago, como se fosse um empréstimo consignado, o resto é usado para investimentos em todas as áreas. Enquanto os bancos levaram 46,30% do dinheiro, para a Habitação, sobrou 0,0001%. Para a Segurança Pública sobrou 0,29%. Nenhum país pode dar certo com essa política econômica equivocada. Mas não vemos empenho da bancada federal para mudar essa situação que atinge duramente o Acre. Limitam-se a querelas paroquiais e ajudinhas pontuais.

4- Sem casa e com dívida

As famílias da ocupação Terra Prometida informaram aos deputados que durante a campanha Gladson Cameli (PP) garantiu que eles ficariam no local. Com a garantia da palavra do governador que concorria a um segundo mandato, fizeram empréstimos consignados para melhorar a estrutura das casas na ocupação. Ficaram sem casa e com dívidas. Espalhados. Uns no parque de exposições, outros em casas de parentes, alguns no aluguel social e outros na quadra de esportes do bairro. Esses últimos acamparam na frente da Aleac e buscaram o apoio dos deputados.  A casa do povo é para onde acorrem todos. O governo faz os mal feitos e os parlamentares tentam arrumar. Apesar do governador não ter consultado os deputados sobre acionar a justiça com pedido de reintegração de posse. Orleir Cameli que governou o Acre de 1995 a 1999, tinha o slogan “Palavra de Orleir. Pode cobrar”. Parece que Gladson tenta ressuscitar o slogan do tio. Quem viveu aquela época entende o recado.

5-Peia…

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O deputado Edvaldo Magalhães (PCdoB) disse que a política habitacional do governador Gladson Cameli limita-se a construção da Casinha de Papai Noel que custou 560 mil reais e ficou na praça em frente ao palácio por menos de um mês. O parlamentar colocou os pingos nos is e o dedo no nariz do responsável pela situação das famílias do Terra Prometida: “O Estado que soube ter a iniciativa de entrar na Justiça. O estado pediu a ordem judicial. Foi o Estado que pediu a reintegração e depois colocou o aparato inteiro para garantir a reintegração”. O aparato foi aquele

6-…e tiro de misericórdia

O deputado Emerson Jarude (Novo) fez um Raio X da anunciada economia que o governo do Estado pretende. O esqueleto que apareceu foi mais feio do que o imaginado. Segundo Jarude, com todos os cortes anunciados a economia será de 45 mil reais. Do que se apreende que é corte por corte uma vez que mesmo tirando o emprego de 3 mil terceirizados só vai economizar 45 mil enquanto gasta 250 milhões só com cargos comissionados. O governo do Estado terá dificuldade com sua base por causa dos terceirizados. Nos bastidores, deputados governistas fazem as contas e dizem que o que alguns cargos comissionados recebem por mês daria para pagar o salário de 7 terceirizados. Ouve-se nos bastidores também, que a farra com os cargos comissionados é tão grande que tem cargo comissionado indicando cargo em comissão para a mãe, a filha, a tia e até a vizinha. As decisões só atingem o lado mais fraco: sem tetos e terceirizados.

7-Rebelião silenciosa

A insatisfação da base é quase material de tão densa. O que ficou evidente não apenas pelo esforço concentrado em não votar os projetos do governo mas também pelos pronunciamentos. Na sessão desta terça-feira (29), os parlamentares governistas saíram de fininho para tirar o quórum. No leque de desculpas para sair fora teve até dor de barriga repentina. Dos que ficaram, nenhum defendeu o governo.  Afonso Fernandes (PL), disse que apesar do governo federal disponibilizar recursos para habitação popular, o governo do Estado não coopera. O deputado afirma ter ouvido do Ministro das Cidades, Jader Barbalho Filho (MDB), que há recursos para habitação mas faltam projetos. Dinheiro tem, faltam projetos. Capisce? Não sei não, mas acho que ouvi um apito de cachorro no discurso de Afonso. Ele disse: “Esse acampamento servirá como um marco para lembrar a todos que a voz daqueles que representam as comunidades mais vulneráveis deve ecoar nos corredores do poder, buscando mudanças reais e efetivas”. Well…os próximos poderão ser os terceirizados.

8- Equilibrista

O líder do MDB, Tanízio Sá tentou se equilibrar na corda bamba para não ficar mal nem com o governo nem com os despejados pelo governo. Tentou desmobilizar o acampamento montado na frente da Assembleia alegando que ali não tinham água nem banheiro. Os sem teto responderam que um bebedouro foi colocado para eles e que podem usar os banheiros da Aleac. O deputado então, insistiu para que fossem para outro lugar e só viessem nos dias de sessão. Mas na tribuna do plenário fez um discurso estranhamente patriota. Disse que os sem teto lutam para serem brasileiros. Pausa para o espanto. Prossegue Tanízio: “a filha (de uma senhora despejada) até chora quando ouve o hino nacional”. Pausa para o espanto dobrado. Finalmente quando os presentes lutavam para se situar na história, Tanízio concluiu com um breve registro: ” foi precipitado tirar as pessoas dali”. Para Gladson parece que só resta lamentar: “até tu, Tanízio?”.

9-Sombra

A Operação Ptolomeu é uma espada de Dâmocles sobre a cabeça do governador do Acre. Quando se pensa que Gladson está livre para voar, o fio desce para que ele sinta o frio da lâmina e o lembre de sua presença. A recente cutucada da Operação Ptolomeu foi a solicitação de alienação antecipada dos bens do governador que foram arrolados na Operação Ptolomeu com o pedido para que os bens avaliados em 5 milhões sejam vendidos e o dinheiro fique depositado em uma conta vinculada ao juízo até o julgamento. Se for inocentado Gladson poderá reaver o dinheiro. Caso contrário, este será usado para ressarcir os cofres públicos. Parece que a Polícia Federal não esqueceu da história e continua na cola do governador para desespero do grupo político dele.

Bom dia,  Mailza Assis. É só este o bom dia mesmo. Sem título. Afinal tudo é tão mutável né?

Esta é uma coluna de opinião e reflexão

Contato- angellica.paiva@gmail.com

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