POLÍTICA
Com Bolsonaro condenado, Nikolas varia a pauta e triplica número de posts no X

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) alterou seu comportamento digital desde que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi condenado a 27 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado e outros quatro crimes. Levantamento feito pela Opus Consultoria & Pesquisa à pedido da Itatiaia mostra que o número de publicações diárias do parlamentar no X, antigo Twitter, mais do que triplicou após o resultado do julgamento do ex-presidente em relação aos dois meses anteriores.
Foram analisadas 578 publicações feitas pelo deputado no X entre 1º de junho e 15 de setembro. Antes do julgamento, iniciado oficialmente em 2 de setembro, a contagem de ‘tweets’ soma 421 posts em 92 dias, uma média de 4,6 posts diários.
Esse número aumenta 160% se comparado com o período entre 2 e 11 de setembro, que compreende o julgamento de Bolsonaro no STF. Enquanto os ministros da Suprema Corte avaliavam as defesas do ex-presidente e sete de seus aliados e julgavam a lista de crime que inclui golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa, Nikolas fez 108 publicações no X em 9 dias, uma média de 12 posts diários.
O ritmo acelerou ainda mais entre 12 e 15 de setembro, dias imediatamente posteriores à condenação do chamado núcleo da trama golpista. Nikolas fez 49 publicações em três dias, uma média de 16,3 posts diários. Em relação aos dois meses anteriores ao início do julgamento, houve um aumento de 254% no número de tweets.
A contagem dos posts de Nikolas no X:
- Antes do julgamento (01/06 até 01/09): 421 posts em 92 dias; média de 4,6
- Durante o julgamento (02/09 até 11/09): 108 postas em 9 dias ; média de 12
- Após a condenação (12/09 até 15/09): 49 posts em 3 dias; média de 16,3
Variação de temas
Além do ritmo das publicações, o levantamento enviado à Itatiaia analisou o conteúdo tratado por Nikolas no X desde junho. O relatório mostra que, embora o parlamentar aborde as pautas mais caras ao bolsonarismo, elas não compreendem a maior parte de sua atuação nesta rede social.
A Opus avaliou três temas: críticas ao ministro do STF Alexandre de Moraes; a anistia aos condenados pelo 8 de janeiro; e publicações específicas sobre o julgamento de Bolsonaro. Somadas, nos meses analisados, estes assuntos nunca superaram a marca de 22% dos tweets.
Em agosto, as críticas a Moraes atingiram o maior percentual dos tweets de Nikolas, com 16% das publicações. O índice caiu para 4% em setembro. Nos últimos 15 dias, temas relacionados ao julgamento especificamente saíram de 4% em julho para 14%, movimento esperado pelo fato das sessões no Supremo terem acontecido entre 2/9 e 11/9.
Desde a última quarta-feira (10), o foco de Nikolas tem sido o assassinato do ativista americano Charlie Kirk. O podcaster e influenciador da extrema direita foi assassinado com um tiro enquanto palestrava em uma universidade em Utah, nos EUA.
Além de lamentar o atentado, Nikolas iniciou uma campanha pela demissão de pessoas que se manifestaram comemorando ou menosprezando a morte do ativista. O movimento gerou grande repercussão, pautou a imprensa e motivou trocas de ataques com influenciadores nas redes sociais.
Nikolas direciona o debate
Com 5,2 milhões de seguidores no X, no cenário político brasileiro, Nikolas só não supera o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro no número de perfis que o acompanham na rede. O diretor do Instituto Opus, Matheus Dias, a alteração no comportamento do deputado corrobora a capacidade do parlamentar de pautar os temas discutidos no cenário digital.
“Ele vem trazendo outros temas que ajudam a de certa forma até desviar um pouco do assunto. Ainda que fale sobre o julgamento, a pauta da anistia e faça críticas a Moraes, ao mesmo tempo ele traz outros pontos também que acabam ocupando essa grande praça pública de debate digital que é o X”.
Dias cita as empreitadas recentes de Nikolas no X, antigo Twitter, e como elas terminam por diminuir a força de outros assuntos concorrentes no momento. No caso das últimas semanas, com a condenação de Bolsonaro impactando os rumos da direita no país, trazer outros temas à tona evitam que este seja o tema central do debate digital e mesmo na vida cotidiana dos brasileiros.
“O incentivo a demissões de funcionários que celebram a morte do Charlie Kirk teve um espaço bastante relevante. Ele também fala bastante sobre questões de valores, de crime organizado, entra em polêmicas como a com Whindersson Nunes, inclusive com ataques pessoais e frontais ao humorista e influenciador. Ou seja, ele vai ocupando muito esse espaço para ganhar cada vez mais o que a gente chama de share de atenção. Ele vai pautando o debate, jogando uma cortina de fumaça para desviar um pouco o foco dessas notícias recentes que são bastante ruins para o ex-presidente e para direita como um todo”, conclui.
A reportagem entrou em contato com a assessoria do parlamentar para repercutir sua atuação digital recente. Até a última atualização desta matéria, não houve resposta.
