POLÍTICA
CPMI do 8 de janeiro: Relatora pedirá acareação entre Torres e Almada
A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) anunciou que irá pedir uma acareação entre o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, e o ex-superintendente da Polícia Federal (PF) na Bahia, Leandro Almada. O requerimento terá que passar por votação. Torres depôs nesta terça-feira (8) na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos criminosos de 8 de janeiro.
Relatora da CPMI, Eliziane quer esclarecer o objetivo de uma visita de Torres à Bahia, em 25 de outubro de 2022, cinco dias antes do segundo turno eleitoral. No dia da decisão eleitoral, denúncias apontaram um grande efetivo na realização de blitz pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), especialmente em pontos que mostravam uma vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL), que tentava a reeleição.
De acordo com Torres, em depoimento à CPMI nesta terça, a viagem foi uma visita às obras de reforma da Superintendência da PF na Bahia. O ex-ministro garantiu que não houve conversas sobre um relatório feito pela Justiça que mostrava o percentual de votos de Lula e de Bolsonaro em determinadas cidades do estado.
Almada, no entanto, declarou em depoimento à PF que o documento foi tema do encontro com Torres. O ex-superintendente contou, ainda, que houve um pedido para atuação conjunta com a PRF nas blitz no segundo turno das eleições.
“O Sr. Leandro Almada afirma categoricamente que o objeto desta reunião não se tratava dessa obra específica na Bahia, mas sobretudo desse levantamento, desse detalhamento acerca desses pontos centrais de votação e sobretudo de um organograma, de um foco que seria direcionado com membros da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Federal em relação a esses pontos específicos”, disse Eliziane a Torres, que negou temer uma acareação.
Não estou dizendo que ele mentiu. Estou dizendo que não foi tratado dessa forma. […] Não tenho problema com acareação com ninguém. Nós não fizemos isso. Não houve uma orientação para a Polícia Federal deixar de fazer o trabalho dela. Não houve nada nesse sentido, principalmente uma determinação. Não houve, não houve”, respondeu Torres.
Anderson Torres foi chamado para depor na investogação sobre o 8 de janeiro. Ele era secretário de Segurança Pública do Distrito Federal no dia dos ataques às sedes dos Três Poderes. Antes, foi ministro da Justiça do governo Bolsonaro. Em 8 de janeiro, ele estava em viagem aos Estados Unidos. Torres foi preso ao desembarcar no Brasil, em 14 de janeiro, e está em liberdade provisória desde 11 de maio, por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Torres é um dos principais alvos das investigações sobre o 8 de janeiro. Em 10 de janeiro, a Polícia Federal encontrou na casa dele uma minuta de golpe, inconstitucional, com o rascunho de um decreto que permitiria a Jair Bolsonaro, quando ainda era presidente, instaurar estado de defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) após sua derrota nas urnas para o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No depoimento à CPMI, Torres afirmou que a “minuta de golpe” fazia parte da “coleção de absurdos” que detentores de cargos públicos recebem. Ele classificou o documento como “fantasioso”, uma “aberração jurídica” e “imprestável para qualquer fim”, e que não foi descartado por “mero descuido”.
Ele também contou que houve uma “falha grave” no cumprimento do Plano de Ações Integradas (PAI) que poderia ter evitado a depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília (DF), em 8 de janeiro. Entre os erros, a falta de efetivo policial nas ruas. Se tivessem cumprido à risca o plano, os atos de vandalismo do dia 8 de janeiro não teriam sido consumados”, declarou.
Torres compareceu à CPMI na condição de testemunha. Antes, conseguiu uma decisão de Moraes, no STF, para permanecer em silêncio em perguntas que possam autoincriminá-lo. Ele também foi proibido de ter qualquer contato com os senadores Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Marcos do Val (Podemos-ES), por “evidente conexão dos fatos em apuração e as investigações das quais ambos fazem parte”.