POLÍTICA
Durante sessão, vereador ameaça ‘quebrar’ vereadora na porrada; “ele fez gestos obscenos”
O que deveria ser uma sessão extraordinária da Câmara Municipal de Bujari – município a 25 quilômetros de Rio Branco -, que está em período de recesso parlamentar, para que os vereadores discutissem um projeto enviado pelo prefeito João Teles Padeiro, descambou para agressões verbais, ameaças de agressões físicas e vai se tornar, na semana que vem, um autêntico caso de polícia.
Na Delegacia de Polícia Proteção à Mulher (Deam), em Rio Branco (no Bujari não há delegacia de polícia do gênero), a vereadora Eliane Abreu (PP) vai apresentar queixa contra o colega José Gilvan (PCdoB), acusando dos crimes de ameaças de agressão, agressões verbais e assédio moral. A queixa na Deam será um desdobramento de queixa no mesmo sentido já prestada à Delegacia Geral de Polícia de Bujari, na noite dos fatos. Este é o segundo caso de agressões envolvendo os mesmos vereadores em pouco mais de dois anos de mandato.
O último caso foi registrado na noite de sexta-feira (28), durante sessão com a presença dos nove vereadores do município – cinco homens e quatro mulheres. A reunião, em caráter extraordinário em função do recesso parlamentar da Câmara, que se estenderá até é o dia 1º de fevereiro, deveria analisar projeto de autoria da Prefeitura propondo a retirada de direitos dos funcionários municipais relacionados ao anuênio, um direito garantido aos servidores pela Lei Orgânica do Município.
“Expliquei ao vereador presidente que a sessão não poderia continuar, considerando que o processo legislativo estava incorreto, uma vez que em período de recesso só pode haver convocação extraordinária para apreciação de matérias de urgência ou de interesse público relevante, o que não é o caso. Além disso, não foi apresentado o pedido de convocação feito pelo prefeito”, disse a vereadora.
O simples questionamento foi objeto de acirrada intervenção do vereador acusado, já que Gilvan é da base de apoio do prefeito enquanto Eliane faz oposição à gestão do município. “Diante dos meus argumentos, o presidente suspendeu a sessão, o que deixou o vereador José Gilvan indignado e ele então passou a proferir palavras de baixo calão, me ofendendo. Mesmo assim, tentei ainda, por diversas vezes, apresentar tecnicamente minha defesa, e, como o mesmo não possui conhecimento sobre legislação, passou a me agredir verbalmente com gritos e porradas na mesa, apontando dedo, gesticulando gestos obscenos com agressividade. Como percebeu que os demais vereadores concordaram com minha posição, me acusou de ter feito uma reunião na presença do prefeito para difamar os demais vereadores, o que não é verdade. Por fim, depois de muitos gritos e acusações infundadas, disse que seu eu fosse um homem iria me quebrar toda na porrada, e só não o fez, mesmo eu sendo mulher, porque o vereador Jairo interviu e não deixou a agressão se consumar”, disse a vereadora, “Acredito que todo esse descontrole de dá porque não me curvo diante de coisas erradas. Uma mulher como eu, que tenho minha vida proba, que não tem rabo preso com ninguém, que fala o que quer com conhecimento técnico e firmeza, que faz denuncias do que está irregular, é uma ameaça para os poderosos”, acrescentou Eliane Abreu.
A vereadora disse ao ContilNet que, na queixa que deve apresentar à Delegacia da Mulher, vai invocar testemunhas de pessoas que lhe relataram que o vereador, antes do ocorrido na sessão de sexta-feira, ter passada a tarde num bar, ingerindo bebida alcóolica, na companhia de amigos e aliados. “Há muitos testemunhos disso”, afirmou a vereadora.
Como há também, segundo ela, muitas testemunhas da agressividade do vereador, principalmente com mulheres. Ela citou como exemplo disso o caso da ex-assessora jurídica da Câmara, a advogada Daniele Verusca Araújo, que se demitiu do cargo após ser agredida e ofendida pelo mesmo vereador. “Ela chegou a ser convidada a voltar à função mas se recusou por causa do vereador Gilvan”, disse a vereadora, A advogada deve ser testemunha da vereadora na queixa à Delegacia da Mulher.
Esta não foi a primeira vez que houve desavenças entre os dois vereadores, sempre por discordâncias políticas. A primeira vez, logo no início do mandato de ambos, em 2021, um Boletim de Ocorrências chegou a ser registrado por Eliane Abreu contra Gilva com acusações semelhantes às que estão sendo feitas agora. “O caso não foi para a frente na época ´porque a Câmara não tinha ainda seu código de ética, que estava em fase de elaboração. O presidente me pediu que eu retirasse a queixa e que o caso fosse resolvido internamente na Câmara. O vereador ,me pediu desculpas na época, eu as aceitei e retirei a queixa com a promessa dele de que isso não iria mais acontecer, mas acabou acontecendo”, afirmou Elaine.
Aos 48 anos, mãe de um casal de filhos, Eliane Abreu está no primeiro mandato, assim como o vereador Gilvan. Formada na área de recursos humanos, ela é uma técnica dos serviço público e por isso costuma apontar o que enxerga como erros ou desvios administrativos, atraindo a ira dos adversários.
“Por isso, eles não se contentam em ficar apenas no debate político. Apelam para o pessoal, com assédio moral, buscando me aniquilar. Tenho certeza de que isso ocorre muito porque não tenho marido e pessoas como este vereador acham que uma mulher sem marido não tem como se defender, nem ao menos quem a defenda. Eu tenho família, tenho irmãos, mas não quero metê-los nisso. Tenho a lei a meu favor e vou usar”, afirmou.
A reportagem do ContilNet tentou falar com o vereador Gilvan através do telefone celular de números finais 91. Ele não atendeu nem respondeu as mensagens até o fechamento desta reportagem. Caso queixa oferecer suas versões a respeito dos fatos narrados, o espaço está aberto.