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POLÍTICA

Em debate, Lula e Bolsonaro trocam acusações e discutem sobre corrupção e vacinas

Publicado em

SUAMY BEYDOUN/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO

No debate mais esperado desde 2018, ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) discutiram, frente a frente, na noite deste domingo (16).

Organizado pela TV Bandeirantes, TV Cultura, portal UOL e jornal Folha de S.Paulo, e transmitido pela CNN, o primeiro encontro do segundo turno presidencial durou uma hora e 40 minutos, foi marcado por troca de acusações entre os candidatos.

O petista responsabilizou o atual governo por ter atrasado a compra de vacinas durante a pandemia de Covid-19. Já Bolsonaro acusou o petista de corrupção na Petrobras e cobrou quem seria o nome de seu possível ministro da economia.

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Os candidatos também trataram de mudanças no Supremo Tribunal Federal (STF) e de crime organizado. Houve interação entre eles no palco e, em alguns momentos, contato físico entre ambos.

A pandemia foi o principal tema do primeiro bloco. Os candidatos podiam fazer perguntas um ao outro e administravam o próprio tempo, de 15 minutos para cada um. Lula perguntou sobre o assunto e afirmou que Bolsonaro “atrasou” a compra de vacinas. O petista acusou Bolsonaro de “carregar 400 mil mortes nas costas”.

“É uma vergonha, na verdade, você carregar nas costas 400 mil mortes que poderiam ter sido evitadas se tivesse comprado vacina no tempo certo. A ciência fala isso todo dia. O senhor recebeu proposta de compra de vacina muito cedo e não quis comprar porque não acreditava”, disse o ex-presidente.

Ele ainda citou declarações de Bolsonaro durante a pandemia, como quando o presidente disse que a Covid-19 era uma “gripezinha”.

O atual presidente defendeu a sua condução no enfrentamento ao coronavírus afirmando que “todos que quiseram tomar vacina tomaram”.

“Foi um dos países que mais vacinou no mundo”, disse, mencionando, em seguida, que o governo disponibilizou mais de 500 milhões de doses à população.

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“Menos de um mês depois da primeira dose aplicada no mundo, o Brasil começou a aplicar [a vacina]”, defendeu Bolsonaro. O presidente ainda lembrou que o governo brasileiro “decretou estado de emergência”.

Corrupção na Petrobras

Em diversos momentos do debate, Bolsonaro acusou os governos petistas de corrupção e afirmou que o Petrolão foi “o maior esquema de corrupção da história da humanidade”.

O candidato do PL disse que o governo Lula começou a construção de refinarias e não terminou, “jogando bilhões pelo ralo”, e que o endividamento da Petrobras equivale a 60 vezes o custo da transposição do [rio] São Francisco.

“Esses ladrões devolveram R$ 30 bilhões, fora o que não foi achado”, disse Bolsonaro.

Em resposta, Lula afirmou que, “se houve corrupção na Petrobras, não precisava ter quebrado as empresas como quebraram”.

“Não tenho nenhum problema de explicar o Petrolão”, disse Lula. O petista ainda criticou Bolsonaro por ter imposto sigilo de 100 anos em informações do seu governo.

Questionamentos sobre o orçamento secreto

Ao responder a pergunta que citou o mensalão e o orçamento secreto, em meio à relação entre Poderes e governabilidade, Lula afirmou querer confrontar as emendas do relator.

“Eu vou tentar criar o orçamento participativo, que foi uma coisa que nós criamos nos estados brasileiros”, disse.

O petista afirmou ainda que pretende utilizar a internet para aprimorar o orçamento participativo. “Nós vamos pegar o orçamento e mandar para o povo dar opinião.”

Bolsonaro negou que tenha comprado o Centrão com o orçamento secreto, afirmando que vetou a medida.

Ele disse que 13 deputados do PT direcionaram recursos via emendas do relator e falou que isso “não tem nada a ver com o orçamento secreto”.

Pontuou, ainda, que as emendas do relator foram criadas por Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara dos Deputados, e que, se o orçamento estivesse em suas mãos, faria melhor proveito.

Mudanças na composição do STF

Os candidatos falaram ainda sobre propostas em tramitação no Congresso para mudar as regras da composição do STF. O ex-presidente Lula disse não ser prudente nem democrático um presidente “querer ter os ministros da Suprema Corte como amigos”.

Segundo ele, os ministros não devem ser indicados para beneficiar o presidente e, sim, pelo currículo.

“Eu estou convencido de que tentar mexer na Suprema Corte para colocar amigo, para colocar companheiro, para colocar partidário é um atraso, é um retrocesso que a República brasileira já conhece muito bem. E eu sou contra”, disse.

Bolsonaro disse que, da parte dele, está feito o compromisso de “não ter nenhuma proposta” de aumentar o número de ministros.

“No momento, o PT tem sete ministros indicados. Eu tenho dois. Se eu for reeleito, indico mais dois”, disse.

O presidente afirmou que Lula só é candidato “por causa de um ministro” do STF, em referência à decisão do ministro Edson Fachin de anular as condenações do petista no âmbito da Lava Jato. Ele citou Dilma Rousseff (PT), que, em suas palavras, tentou criar mais quatro vagas no Supremo.

Acusações sobre crime organizado

Bolsonaro mencionou que o ex-presidente teve mais votos em presídios durante o primeiro turno das eleições presidenciais deste ano – dado que tem sido utilizado na propaganda eleitoral gratuita do presidente.

“Nos presídios do Brasil, de cada cinco votos você teve quatro”, disse Bolsonaro, ao acusar Lula de ter “afinidade com bandidos”.

Ele ainda pautou a violência contra policiais e afirmou que Lula e o candidato a vice-presidente em sua chapa, Geraldo Alckmin (PSB), à época governador de São Paulo, não quiseram transferir o líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcos Camacho, o Marcola, de um presídio estadual para um presídio nacional, em 2006.

Lula negou ter relação com o crime organizado e disse que, durante seu governo, construiu cinco prisões de segurança máxima. “Se o Alckmin governador não transferiu é porque tinha razão para não transferir”, respondeu Lula.

O ex-presidente também afirmou “saber” que Bolsonaro é quem tem relação com esses grupos, mencionando as milícias e a morte da ex-vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco.

Direito de resposta

Os candidatos solicitaram direito de resposta em diversos momentos do debate. No entanto, ele foi concedido apenas uma vez, para Lula, após Bolsonaro falar que o petista quer fechar igrejas e manter alianças com líderes de esquerda de outros países.

Os organizadores entenderam que o ex-presidente deveria ter um acréscimo de tempo para responder às acusações.

“Eu deveria ter dois direitos de resposta. Fui atingido com mentiras. Você continua descaradamente mentindo”, disse Lula na resposta. Ele ainda citou a compra de imóveis em dinheiro vivo por familiares do presidente.

Considerações finais

Nas considerações finais, Bolsonaro afirmou que espera ter um “país livre, onde seja respeitada a liberdade de expressão”. Ele ainda defendeu pautas ligadas à segurança pública, geração de empregos e ideologia de gênero.

“Não queremos que os nossos filhos, ao irem para a escola, frequentem o mesmo banheiro. Essa é a política do lado de lá.”

O presidente ainda defendeu uma política de combate às drogas. Segundo ele, “só um pai ou uma mãe sabe o que é ter um filho no mundo das drogas”. “Nós não queremos liberar as drogas”, afirmou.

O presidente se posicionou contra a liberação do aborto e defendeu a propriedade privada e a legítima defesa.

Ao falar por último, Lula disse querer “governar o país democraticamente” e chamou o adversário de “pequeno ditadorzinho”.

“Quem defende a democracia e a liberdade sou eu, muito mais do que ele, que é um pequeno ditadorzinho, que quer ocupar a Suprema Corte”, disse Lula, acrescentando que quer dar prioridade aos problemas sociais do país.

O candidato à Presidência também citou os números de fome e miséria no Brasil. “Tem 33 milhões de pessoas passando fome neste país que é o maior produtor de alimentos do mundo. Tem gente na fila do osso no país que é o maior produtor mundial de proteína animal”, citou.

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