Em fórum empresarial, Lula ataca juros e diz que não venderá estatais

Lisboa – O presidente Lula voltou a atacar os juros no Brasil durante encontro com empresários brasileiros e portugueses na cidade de Matosinhos, na região do Porto, na manhã desta segunda-feira (24/4). Ao empresariado Lula afirmou que a taxa básica de juros (Selic), atualmente em 13,75% ao ano, é “muito alta”.

“Temos um problema no Brasil, que Portugal não sei se tem, que é a nossa taxa de juros, que é muito alta. É muito alta. No Brasil, a taxa Selic, que é taxa referencial, está 13,75%, Ninguém toma dinheiro emprestado a 13,75%. Ninguém”, declarou o petista a uma plateia de mais de 100 empresários e sem citar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Lula afirmou que um país capitalista precisa de dinheiro, mas que esse dinheiro precisa circular “não apenas na mão de poucos, mas na mão de todos”. “Por isso que digo que a solução do Brasil é voltar a colocar o pobre no orçamento”, emendou o presidente brasileiro.

Sem citar o nome de Jair Bolsonaro ou Michel Temer, Lula criticou o desmonte de políticas sociais por governos anteriores nos últimos seis anos. Diante desse cenário, ele afirmou que tem usado o início de sua gestão para restabelecer relações com o mundo e “convencer as pessoas da qualidade do Brasil”.

Venda de estatais

Segundo o petista, para atrair investimentos, o presidente de um país precisa garantir estabilidade política, social e jurídica. “Essa é uma coisa sem a qual nenhum investidor colocará investimento em outro país. Sem isso, ninguém vai colocar um centavo no seu país”, disse.

Lula afirmou que é preciso também garantir credibilidade. Nesse contexto, ele voltou a afirmar que seu governo não venderá estatais. “No Brasil, não vamos vender as empresas públicas. Queremos convidar os empresários para fazer parcerias naquilo que a gente precisa criar de novo”, declarou.

O presidente brasileiro criticou que, nos últimos seis anos, estatais foram vendidas “simplesmente para pagar juros da dívida pública”. “Ou seja, nos desfizemos do nosso patrimônio, e a qualidade do serviço não melhorou”, afirmou o petista, citando o caso da Eletrobras.

Em seu discurso aos empresários, Lula também defendeu suas viagens pelo mundo. Segundo ele, o presidente da República, “pensadores” e parlamentares precisam viajar para mostrar a importância do Brasil. “Não podemos ficar trancados dentro de quatro chaves, achando que mundo nos acha bonito e vai investir”, disse.

Guerra

Lula afirmou que o Brasil “está de volta para ser protagonista internacional”. “É por isso que eu estou me dedicando inclusive a tentar parar de falar em guerra e construir a paz para que a gente possa produzir para que a Humanidade possa viver melhor”, afirmou o petista.

Outras agendas

Do fórum empresarial, Lula volta para Lisboa a bordo de um cargueiro KC-390. A aeronave que o petista viajará foi produzida pela Embraer e vendida ao governo português. O comandante da Aeronáutica brasileira, tenente-brigadeiro do Ar Marcelo Damasceno, acompanhará o petista.

Lula deve pousar no aeródromo da Ogma, empresa portuguesa que fabrica e faz manutenção de aeroestruturas. Na sede da companhia, ele oficializará o acordo que permitirá à Ogma produzir, em parceria com a Embraer, o avião de defesa Super Tucano em Portugal.

Como noticiou a coluna, as aeronaves serão fabricadas em território português seguindo os padrões da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), aliança militar da qual Portugal faz parte e que vem ajudando a Ucrânia na guerra contra a Rússia.

Prêmio a Chico Buarque

Ainda na segunda, Lula participará em Lisboa da cerimônia de entrega do prêmio a Chico Buarque em Lisboa. A honraria foi concedida ao artista brasileiro em 2019, mas não foi entregue porque o então presidente Jair Bolsonaro se recusou a assinar o diploma.

Lula seguirá na capital portuguesa até a terça-feira (25/4), quando participará, pela manhã, de uma sessão solene na Assembleia da República Portuguesa em sua homenagem. O petista deve discursar no evento. De lá, seguirá diretamente para Madri, na Espanha.